Em Campo Grande são mais de 86 mil idosos
É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.
Isso é o que diz um dos primeiros artigos da Lei de número 10.741 de 1º de outubro de 2003 - que dispõe sobre o Estatuto do Idoso - e o que se espera depois dos 60 anos. Os direitos garantidos na Constituição parecem enfeitar e alimentar os sonhos dos que vivem a terceira idade.
De segunda a sexta-feira, João Alves, de 88 anos, segue sua rotina. Cerca das 4 horas, quando o sol sequer trocou de lugar com a lua ele já está de pé a caminho de mais um dia na praça, onde passa cerca de 13 horas do dia sentado em um banco, rodeado de amigos e com um carrinho ao lado.
Não é para passear que ele sai cedo de casa. Aposentado com um salário mínimo R$ 937,00, Alves que deveria aproveitar o tempo de aposentadoria para descansar, viu na profissão de picolezeiro a oportunidade de aumentar a renda.
"Tô aqui porque não sei ficar parado e não quero morrer em casa. Ganho um salário mínimo e isso não dá para nada, mas trabalhar não é para qualquer um não. Acordo às 4 horas e volto para casa só à noite. Faço isso há 23 anos, mas não ligo porque trabalho desde os 8 anos. Na minha época não tinham as mamatas que têm agora", declara.
Para Alvino Decknis, de 77 anos, viver a terceira idade não é muito diferente. "A única coisa que mudou é que agora sei que aconteça o que acontecer tenho um salário mínimo garantido, mas apenas isso". Aposentado há 12 anos, ele também buscou alternativas para incrementar a renda.
"Eu ganhava entre três e cinco salários mínimos, quando aposentei caiu para um e com isso não dá para viver. A aposentadoria é um complemento. Fui buscar outras opções. Tive diversos trabalhos até que decidi vender água de coco, tive de me ajustar com a Semadur [Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Gestão Urbana] e o problema é que não consegui progredir como imaginava", lamenta.
Maria Ramone Arce, de 66 anos, é aposentada há 6 anos e desde então completa o salário mínimo com a função de diarista. Ela afirma que chega a fazer três faxinas por semana, cada uma custa em torno de R$ 120,00.
O serviço é pesado, mas ela garante que é a melhor opção."É cansativo, não resta dúvida. Chego a ficar desanimada às vezes, mas não posso ficar parada. Com o que eu ganho de aposentadoria não dá. Além de ser pouco, pago um empréstimo que tive de fazer e de aposentadoria mesmo sobra no máximo R$ 500,00", relata.
Assim como João, Alvino e Maria, muitos dos mais de 86 mil idosos que fazem parte da população de Campo Grande, conforme dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), optam por disputar o mercado de trabalho e enfrentar a realidade de quem tenta recolocação na terceira idade.
Embora seja considerado crime, negar a alguém, por motivo de idade, emprego ou trabalho, o diretor-presidente da Funsat (Fundação Social do Trabalho de Campo Grande) Cleiton Freitas Franco, afirma que na prática isso ainda ocorre, sem que o motivo seja revelado.
Franco explica que não há dados que comprovem a informação, porém, os mais jovens estão na frente no momento das seleções.
"Não colocam isso, mas na entrevista sabemos que acontece. As pessoas com mais de 65 anos têm mais restrições. Aqui [na Funsat] fazemos apenas o encaminhamento para as vagas, não acompanhamos o processo de seleção", observa.
O diretor-presidente da Funsat afirma que uma das dificuldades para se obter dados sobre os idosos no mercado de trabalho é o fato da aposentadoria. Para não perderem o benefício, os idosos buscam trabalhos informais que não são computados.
"Muitos são aposentados preferem o trabalho informal. Por isso não conseguimos ter ideia de quantos idosos ocupam o mercado de trabalho", explica.