Vem aí mais uma colheita recorde de grãos, mas o velho problema do setor continua o mesmo: falta espaço para guardar o que foi colhido.
O Brasil está caminhando para finalizar mais uma temporada de grãos com a projeção de recorde de produção.
De acordo com a Conab, o ciclo 22/23 deve registrar um volume de 312 milhões e meio de toneladas, alta de 14,7% em comparação à temporada anterior.
Mas os produtores enfrentam uma situação crítica, que é o déficit na capacidade de armazenagem.
Vem aí mais uma colheita recorde de grãos, mas o velho problema do setor continua o mesmo: falta espaço para guardar o que foi colhido.
De acordo com o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), o maior estado produtor de grãos do Brasil, Mato Grosso, espera para esta temporada, somente na cultura da soja, 44,3 milhões de toneladas.
O déficit de armazenagem na temporada 21/22 no estado, considerando todas as culturas, foi de 57,1 milhões de toneladas.
O produtor rural Diego Dallasta, de Canarana (MT), é um dos afetados.
Para tentar amenizar os prejuízos, uma saída tem sido armazenar em silo bolsa. A preocupação é que a demora na armazenagem correta comprometa a qualidade dos grãos.
“E se você chegar a levar uma soja com umidade, ele vai ganhar umidade de ficar esperando para descarregar. Então, além do produtor não ter caminhão disponível para carregar sua soja, ele perde a qualidade do produto porque fica tempo no armazém”, diz Dallasta.
No Paraná, a situação é a mesma.
“A armazenagem, as estradas, a logística da propriedade até as estruturas de armazenagem vem capengando há muitos anos e faz com que a gente sofra o que está sofrendo hoje. Deixar o caminhão duas horas para descarregar uma carga de soja significa que, realmente, o planejamento em todas as esferas foi muito mal feito”, afirma o presidente do Núcleo Sindical Rural dos Campos Gerais, Gustavo Ribas Neto.
O Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar) alerta que 65% da produção paranaense de grãos passa pelas cooperativas.
A capacidade de armazenagem estática é 32 milhões de toneladas e a produção deste ciclo deve ser 45 milhões de toneladas.
As alternativas como silo bag ou buscar locais mais distantes reduzem a margem de lucros ao produtor.
“O que ocorre é que essas armazenagens alternativas são mais caras, você precisa buscar armazém mais longe, mais distante da região produtora e tem um custo de transporte maior e na essência temos, inclusive, um certo risco de conseguirmos manter a qualidade desses produtos”, explica Flávio Turra, gerente técnico da Ocepar.
Como reflexo desse cenário crítico nesta safra, por falta de espaço, a Cooperativa Frísia, no Paraná, bloqueou o recebimento de milho de 29 de março a 15 de abril. Em uma nota enviada à nossa equipe de reportagem
Em uma nota enviada à nossa equipe de reportagem, a cooperativa disse que a logística está sendo estruturada e vai liberar o recebimento a partir de domingo, dia 16.
Investimentos necessários para resolver o problema de armazenagem
Em 2013 foi criado o Programa para Construção e Ampliação de Armazéns, o PCA, contemplado dentro das linhas de crédito do Plano Safra. Mas os recursos não são suficientes para reduzir o déficit, já que o volume produzido cresce a cada safra.
Segundo a Câmara Setorial de Equipamentos para Armazenagem de Grãos – órgão ligado à Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), somente para acompanhar o crescimento da produção brasileira de grãos, seria preciso um investimento de R$ 15 bilhões por ano.
Isso, só para acompanhar os novos recordes previstos e manter o déficit atual no país, que para essa temporada já é projetado em 115 milhões de toneladas.
“Infelizmente não há solução no curto prazo. Para se construir um armazém demora bastante tempo, envolve engenharia, obra civil, licenciamento e envolve também, muitas vezes, trazer energia elétrica até o local da obra. nós não podemos perder tempo. O Brasil está crescendo o déficit de armazenagem de forma significativa e a única forma desse problemas não se agravar é investindo em armazéns”, concluí Paulo Bertolini, presidente da Cseag/Abimaq.