Um acordo entre Brasil e Argentina permitirá que brasileiros tenham acesso ao transplante multivisceral (substituição de pelo menos três órgãos abdominais) e de intestino no SUS.
O termo de cooperação que dá início a esse processo foi firmado entre o ministro da Saúde do Brasil, Arthur Chioro, e o ministro da pasta da Argentina, Daniel Gustavo Gollan, durante a Assembleia Mundial de Saúde, que acontece nesta semana em Genebra (Suíça).
Um dos principais eixos será a vinda de médicos argentinos experientes com a técnica, que realizarão o treinamento dos profissionais brasileiros.
“O acordo permite a transferência de tecnologia da cirurgia de transplante multivisceral para o Brasil, fundamental para a ampliação do acesso”, afirmou Chioro. A expectativa é que a cooperação esteja em funcionamento nos próximos meses.
Na cirurgia, os pacientes com indicação para o procedimento podem receber de uma só vez estômago, duodeno, intestino, pâncreas e fígado, retirados em conjunto, de um único doador.
A Argentina realizou mais de 40 cirurgias, sendo reconhecida pela sua capacidade técnica para esse tipo de transplante.
São exemplos de pacientes candidatos aos transplantes múltiplos: pacientes com doença hepática crônica com trombose das veias que drenam os intestinos; aqueles com insuficiência intestinal crônica (doença conhecida também como SIC - Síndrome do Intestino Curto) que tiveram necessidade de nutrição parenteral por um longo prazo; os submetidos a múltiplas cirurgias abdominais devido a doenças; e pacientes com tumor que atinja a região da raiz do mesentério, artérias e veias, com metástase no fígado.
No país, 95% dos transplantes são realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) – o maior sistema público de transplantes do mundo – o que torna o Brasil referência mundial na área.
A rede brasileira conta com 27 Centrais Estaduais de Transplantes (em todos os estados e Distrito Federal), além de Câmaras Técnicas Nacionais, 510 Centros de Transplantes, 1.113 equipes de Transplantes e 70 Organizações de Procura de Órgãos (OPOs).
Entre 2010 e 2014, houve aumento de 4,9% na quantidade de serviços habilitados pelo Ministério da Saúde para realizar transplantes no país, passando de 740 para 776.
MEMORANDO DE ENTENDIMENTO
O texto firmado prevê diversas ações como a promoção de intercâmbio de informação técnica sobre projetos, programas e experiências nas diferentes áreas de saúde; desenvolvimento de programas de intervenção em saúde; organização de campanhas e de visitas de profissionais e especialistas; realização de atividades de capacitação e de habilitação, como oficinas, seminários e conferências; transferência de tecnologia para promover o abastecimento interno de medicamentos e insumos; e promoção da participação comunitária.
Além de transplante com foco em multiviscerais, os acordos poderão abranger várias outras áreas de interesse mútuo: atenção básica, vigilância de doenças infecciosas e crônicas, prevenção de doenças, promoção da saúde, emergências de saúde, recursos humanos em saúde, ações de implementação do Regulamento Sanitário Internacional (2005) e transferência de tecnologia para o abastecimento interno e insumos. Outras áreas poderão ser identificadas e priorizadas futuramente por meio de acordo entre as partes.