Os problemas ambientais e de saúde decorrentes do uso inadequado e excessivo de agrotóxicos e as ações que reduziram os impactos negativos de sua aplicação foram as principais experiências trazidas ao ciclo de palestras promovido pela Comissão Estadual de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos em Mato Grosso do Sul.
O evento, realizado no MPF em Campo Grande na última terça-feira (12), discutiu o impacto do uso dos agrotóxicos na atividade econômica e também os riscos para a saúde humana. Entre os efeitos conhecidos estão doenças como câncer e distúrbios nos sistemas do organismo.
Para o procurador da República Marco Antônio Delfino de Almeida, coordenador da Comissão Estadual de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos, o objetivo dos eventos e da própria Comissão é obter soluções efetivas para reduzir o uso e impactos dos defensivos e fertilizantes.
Wanderlei Pignati, professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, apresentou pesquisa que revela que a exposição a agrotóxicos em alguns estados é maior do que a média nacional, hoje pouco acima dos 5 litros por habitante por ano. Em Mato Grosso, cada habitante está exposto à média de 50 litros/habitante/ano e em Mato Grosso do Sul a taxa média é de 40 litros/habitante/ano. Nos últimos 5 anos, as notificações de contaminação por agrotóxico entre os trabalhadores rurais passaram de 5 mil para 10 mil casos de infecção aguda. “Nossas pesquisas revelam que o agrotóxico contamina o solo, a água potável, os alimentos, as carnes, o ar e até o leite materno de mães que vivem em regiões agrícolas”, afirma.
“Não podemos eliminar o agrotóxico na agricultura de grande escala mas existem várias alternativas", afirmou Adriano Riesemberg, diretor da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar). "Nenhuma das tecnologias é novidade. Ocorre que, apesar de baratas e à disposição dos agricultores, elas não são incentivadas e caem no esquecimento. Manejo integrado de pragas e doenças; uso e cobertura adequados do solo; cuidar para que a água infiltre no solo, em vez de escorrer, causando erosão; manter áreas de refúgio para os inimigos naturais das pragas. Uma série de práticas consagradas que promovem um ambiente melhor para o desenvolvimento das plantas. O agrotóxico, nessa situação de ambiente equilibrado, ele é menos necessário”.
Adriano afirma que no Paraná foi interrompida a curva de crescimento do uso de agrotóxicos. “Acho que isso é possível no Brasil inteiro. Precisamos ter sistemas que avaliem e mostrem o que está sendo usado, quem está usando e recomendando para coibir os excessos e valorizar o bom profissional. A informação é o pilar dessa questão”, finalizou.
Para o procurador do Trabalho no estado, Leomar Daroncho, uma das grandes dificuldades de campanhas educativas esbarra no analfabetismo funcional no campo, que chega a 80%. Um exemplo citado é o de um desenho que o fabricante do produto desejava que fosse entendido como “lave as mãos após o uso” mas que foi “traduzido” por um trabalhador rural como orientação para misturar o defensivo com as mãos”.
A promotora de Justiça Greicia Malheiros da Rosa Souza trouxe modelos de atuação do Ministério Público de Santa Catarina quanto ao tema. "Firmamos diversos Termos de Cooperação Técnica no estado, para permitir o monitoramento e fiscalização dos resíduos de agrotóxicos, para educar e orientar sobre o uso e impedir comercialização de produtos proibidos". As informações podem ser acompanhadas através de um blog. Clique aqui para acessar o blog.
O procurador do Trabalho Leontino Ferreira de Lima Junior encerrou o ciclo de palestras afirmando que "além da busca por formas efetivas de controle quanto ao uso indiscriminado de agrotóxico, a ideia da Comissão, bem como das palestras, é difundir a informação, de maneira que a sociedade tenha conhecimento e possa se autodeterminar quanto ao alimento que quer consumir. Além disso, não podemos esquecer que o direito à informação, neste caso, está intimamente relacionado à saúde, já que não são raros os casos de intoxicações e adoecimentos".