Carro apreendido de Thor Batista também está em garagem de juiz
Carro de Thor Batista estacionado em condomínio do juiz Flávio Roberto de Souza na Barra da Tijuca, no Rio. / Foto: EGO

Após a divulgação de que dois carros de Eike Batista se encontravam na garagem particular do prédio onde mora o juiz Flávio Roberto de Souza, na Barra da Tijuca, no Rio - incluindo um Porsche Cayenne que estaria sendo usado pelo juiz - uma Range Rover, de placa EUR8686, em nome de Thor Batista também foi flagrada na mesma garagem.

De acordo com moradores, está havendo uma obra no condomínio que está prejudicando o controle dos carros que entram e saem. Mas vizinhos afirmam que estão cientes da presença de outros veículos mantidos no local pelo juiz e que, inclusive, já reclamaram com a adminstração, pois o apartamento do magistrado - que teria se mudado para lá há pouco tempo - tem direito a apenas uma vaga.

Minutos depois, o próprio Thor também confirmou a informação ao EGO. "Fiquei surpreso. Queremos que a justiça seja feita e com respeito. O juiz disse que queria leiloar os carros para evitar depreciação. E daí ele usa os carros? Nossos advogados estão impedidos de ler os autos pois o juiz pediu sigilo. Mas, ao mesmo tempo, ele apreende os carros, agenda leilão e usa nossos veículos".

Assim que soube que o veículo de Thor estava na garagem do juiz, Flávia Sampaio, mulher de Eike Batista, também se pronunciou, em tom de ironia, em uma rede social: "E não é que o outro carro também esta bem guardadinho na garagem do Juiz? Muito obrigada V. Excelencia por tanto apreço!!."

Procurado pelo EGO, o juiz Flávio Roberto de Souza - da 3ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro - não quis se pronunciar sobre o caso. "O juiz não vai mais falar com a imprensa. Agora o contato será feito através da assessoria de imprensa do tribunal", declarou uma das assistentes de gabinete.

Corregedoria da Justiça Federal instaura processo de sindicância

Por volta das 14h20 desta terça, a assessoria de imprensa do tribunal enviou nota oficial à imprensa: "Informo a todos que a Corregedoria Regional da Justiça Federal da 2ª Região instaurou hoje processo de sindicância para apurar os fatos noticiados pela imprensa no dia 24 de fevereiro, acerca da conduta do juiz federal titular da 3ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, referente ao uso de bens apreendidos do empresário Eike Batista. O procedimento foi aberto por determinação do corregedor regional em exercício, desembargador federal José Antonio Lisbôa Neiva."

Informo também que o juiz federal Flávio Roberto de Souza não se pronunciará mais sobre o caso.

Entenda o caso

Na manhã de terça-feira, 24, Flávia Sampaio, mulher de Eike Batista, mostrou em rede social imagens de um dos carros apreendidos do empresário pela Polícia Federal. Nelas, o veículo - um Porsche Cayenne, da placa DBB 0002 - aparece estacionado no interior de uma garagem. Segundo o post republicado por Flávia, o endereço seria um condomínio residencial na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. "O que um veículo de Eike Batista apreendido pela Polícia Federal, e que deveria estar sob sua guarda em depósito público, fazia nesta noite estacionado em um condomínio residencial na Barra da Tijuca?".

Procurado pelo EGO, o advogado de Eike, Sérgio Bermudes, disse que o carro está sendo usado pelo juiz Flávio Roberto de Souza, da 3ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. "Não muda em nada o caso, mas mostra a penca de irregularidades que o juiz está cometendo. É mais um fato que mostra a parcialidade dele e que ele não tem condição de continuar magistrando. Estou entrando com uma representação para o Conselho Nacional de Justiça para pedir o afastamento do juiz não só do caso, mas também da condição de magistrado. Entrarei com um processo em nome do Eike por perdas e danos morais. Isso é um absurdo", declarou Bermudes, acrescentando que o piano apreendido também se encontra no mesmo endereço.

Até às 14h desta terça-feira, o EGO não havia encontrado o juiz para comentar o caso. Na 3ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, a informação dada foi que ele estava em reunião e não podia ser interrompido. Procurado, Thor Batista, filho mais velho do empresário, não quis entrar em detalhes sobre o assunto: "Espero que meu pai seja tratado com respeito e de uma maneira justa, imparcial." Em rede social, ele postou uma foto mostrando o carro do pai na mesma garagem e escreveu: "Cayenne na casa do juiz, na Barra da Tijuca, essa manhã".

Em entrevista ao site da revista "Veja", também nesta terça-feira, 24, o juiz Flávio Roberto de Souza se defende. Ele diz que quando estacionaram os carros apreendidos no pátio da Justiça Federal não havia vaga para todos. Ele, então pegou os dois mais caros e estacionou nas vagas cobertas do próprio prédio onde mora e fez um ofício ao Detran comunicando que os veículos estariam ali. Segundo o juiz, os carros de Eike não saíram da garagem até esta terça-feira, quando deixaram o local para a Justiça Federal para ficarem expostos no pátio, porque o leilão será amanhã. Na hora de sair de casa, a Hilux que o motorista da Vara Federal dirigia deu problema e teve de ser rebocada. O motorista era quem pegaria o Porsche depois para levar à Justiça Federal. Então ele, se dispôs a  levar.

Polícia Federal vai à casa de Luma de Oliveira, no Rio

Na manhã de quinta-feira, 12, Luma de Oliveira foi surpreendida por uma operação da Polícia Federal em sua casa no Jardim Botânico, Zona Sul do Rio. O advogado de Luma, Michel Assef Filho, contou ao EGO que ambos foram pegos de surpresa. "Foi o cumprimento de uma ordem judicial. A polícia veio cumprir o que o juiz determinou. Cheguei quando a apreensão estava no fim. Agora as providências tem que ser tomadas dentro do processo judicial", afirmou ele.

Desde sexta-feira, 6, a corporação tem apreendido bens do empresário Eike Batista, ex-marido de Luma, em propriedades dele no Rio e em Angra dos Reis. Segundo o portal G1, equipes da Polícia Federal apreenderam na quarta, 11, um iate, três motos aquáticas e uma lancha pertencentes ao empresário. O juiz federal Flávio Roberto de Souza, da 3ª Vara Federal Criminal, esclareceu que a apreensão fez parte da decisão que decretou o bloqueio de R$ 3 bilhões em bens do empresário e de parentes dele para preservar possíveis indenizações e multas.

Na própria sexta, uma operação da Polícia Federal também apreendeu bens na casa do empresário. Foram levados o celular, documentos, seis carros, um piano, 16 relógios, um ovo Fabergé (joia feitas para czares russos nos séculos 19 e 20) e cerca de R$ 90 mil em dinheiro e mais R$ 37 mil em outras moedas. Entre os seis carros apreendidos, dois eram de luxo, um compacto e três utilitários. Entre eles há um Lamborghini, avaliado em R$ 2,8 milhões, e o Porsche Cayenne, que custa cerca de R$ 700 mil.