O mundo deve se preparar para os impactos potencialmente devastadores das mudanças climáticas na saúde humana, disseram autoridades de várias partes do mundo reunidas em Paris nesta quinta-feira.
Algumas dessas consequências podem ser evitadas se a humanidade diminuir radicalmente o uso de combustíveis fósseis nas próximas décadas, mas muitas delas já estão sendo sentidas, disseram os participantes na abertura de uma conferência de dois dias organizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Saúde e clima são indissociáveis porque a saúde humana depende diretamente da saúde do planeta”, afirmou a ministra francesa do Meio Ambiente, Ségolène Royal.
Royal, que também é presidente rotativa das conversações da ONU sobre a melhor forma de lidar com o aquecimento global, disse que os impactos na saúde devem desempenhar um papel mais central nas futuras negociações.
“De agora em diante, vou fazer o meu melhor para garantir que a saúde esteja integrada em todas as futuras conferências sobre o clima”, começando com um fórum especial na próxima reunião climática da ONU em novembro em Marrakesh, na qual participarão 196 nações, disse a ministra à AFP.
No Acordo de Paris, assinado em dezembro do ano passado, os países se comprometem a limitar o aquecimento global bem abaixo de 2º Celsius, além de ajudar as nações pobres a lidarem com seus impactos.
Um número crescente de estudos científicos prevê um cenário alarmante de sofrimento humano causado por alterações nos padrões climáticos, elevação dos mares, secas e supertempestades.
Além disso, os casos de doenças tropicais como malária, dengue e zika, entre outras, estão aumentando conforme os insetos que as transmitem se espalham com o aquecimento global.
Setor da saúde ‘sub-representado’
Ondas de calor extremas que deverão ocorrer a cada década, em vez de uma vez por século, vão fazer mais vítimas, especialmente entre doentes e idosos.
Em 2005, a OMS estimou que períodos quentes provocavam 150.000 mortes anualmente. Mais de 45.000 morreram só na Europa devido a uma onda de calor no verão de 2003.
A maior preocupação de todas talvez seja a ameaça para o abastecimento alimentar global.
“Podemos alimentar tantas pessoas” – nove bilhões na metade do século, segundo projeções da ONU – “quando o clima que nos sustenta está mudando de maneira tão adversa?”, perguntou à plateia Letizia Ortiz, rainha da Espanha e embaixadora especial para a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura.
Muitos alimentos básicos, especialmente nos países em desenvolvimento, não podem se adaptar rápido o suficiente às mudanças do tempo, resultando em rendimentos mais baixos.
Os peixes, que são a principal fonte de proteína para bilhões de pessoas, não só escassearam pela colheita industrial, mas estão migrando conforme os oceanos aquecem e os recifes de coral morrem.
Às vezes a saúde é mais prejudicada pelas fontes, e não pelos impactos, das mudanças climáticas provocadas pelo homem.
A OMS estima que sete milhões de pessoas morrem a cada ano por causa da poluição do ar, que também contribui para o aquecimento global como um gás do efeito estufa.
“O setor da saúde tem sido sub-representado nesta discussão, quando você pensa sobre os milhões de vidas que serão afetados, e até mesmo perdidas”, disse Richard Kinley, chefe interino do fórum climático da ONU.
“O mundo já está comprometido com níveis altos de alteração climática. O setor da saúde terá que lidar com as consequências”, completou Kinley.
A Segunda Conferência Global sobre Saúde e Clima terminará na sexta-feira com uma proposta de “programa de ação” para os governos nacionais.