É com uma renda mensal de aproximadamente R$ 350 que o catador de lixo José Aureliano Barbosa, 36 anos, sustenta a família e tenta dar continuidade à missão que tomou para si: cuidar do pequeno Davi Lucas Bezerra, de apenas 1 ano. “Lutamos todos os dias pela sua sobrevivência”, diz emocionado. A criança veio ao mundo prematuramente no dia 11 de março do ano passado, no Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), e desde então já passou por três sessões cirúrgicas para reverter seu quadro clínico. O garoto nasceu sem o órgão sexual masculino e sem o ânus.
Por conta do problema, precisa de cuidados diários. A urina e as fezes de Davi saem por um buraco abaixo da barriga. Assim como o catador de lixo, a mulher dele, Maria Lígia da Silva, 40 anos, cuida da criança como um filho. Troca fralda e usa gaze e pomada para fazer a limpeza da abertura feita pelas médicas após nascimento, para que o menino pudesse sobreviver.
José Aureliano é tio avô de Davi, que antes vivia com a mãe, que é usuária de crack e ficava impaciente ao cuidar dele. Preocupados com a situação, o catador e a esposa acolheram a criança há oito meses em sua pequena residência de três cômodos, localizada no bairro do Cajá, no município de Carpina, na Mata Norte do Estado. “A mãe dele bebia e se drogava muito. Eu não podia ver aquela situação e não fazer nada para ajudá-lo, então resolvi acolhê-lo como meu filho, com o consentimento da mãe”, disse José Aureliano.
O casal contou que já entrou com uma ação para obter a guarda provisória de Davi e, em seguida, pedir a sua adoção. A princípio, Maria Lígia demonstrou receio em acolher o pequeno. Com o passar do tempo e os cuidados, o carinho foi crescendo e tornou-se um afeto maternal. “Já tenho três filhos, todos mais velhos, mas agora crio Davi como meu filho. Não posso deixá-lo”, comenta Maria Lígia, que parou de estudar e trabalhar para poder cuidar do garoto.
É com o dinheiro da venda do que consegue colher na rua e o auxílio do bolsa família que José Aureliano custeia o aluguel da pequena casa em que vive, que custa R$ 150, a alimentação da família, os medicamentos e produtos de higiene para o pequeno. É pouco. Por perceber as dificuldades, amigos e vizinhos, preocupados, tentam ajudar. “Eles se preocupam muito como bem-estar de Davi. Mas, quando o bem não chega, temos que nos se virar com o que temos. As vezes vendemos algumas coisas em casa paracomprar as coisas”, lamenta José Aureliano.
Às vezes o dinheiro é tão pouco que falta o que comer. A prioridade para a família são as gases e pomadas para o menino. Com Davi nos braços, sempre sorrindo ou tentando pegar algum objeto, Maria Lígia fez um apelo. “Gastamos muito gaze e pomadas diariamente. E esses materiais são muito importantes. Quem puder doar, ajudará muito”, disse.