De piadas a preconceito, a aceitação em um ramo totalmente masculino: mecânica
/ Foto: (foto: Diogo Gonçalves)

São 18 anos em um ramo totalmente masculino: funilaria, recuperação de retrovisores, para-choques, trabalho pesado feito por uma mulher, Aparecida Ferreira. A mulher atrás do balcão conta que já pensou em largar a profissão.

“É muito difícil para uma mulher trabalhar neste meio, o homem não aceita que você entenda mais que ele, e que pode fazer um serviço bem feito”, fala. Cida, como é conhecida, conta situações que já enfrentou em nome desse preconceito.

“Uma vez entrou uma mulher aqui na oficina e perguntou se eu entendia mesmo porque ela achava que não”, explica. Os homens então nem se fala, são os mais desconfiados. “Me olham de cima embaixo, e perguntam realmente se entendo do negócio”, sorri Aparecida.

A profissão foi aprendida há 18 anos, quando entrou de sociedade com o sobrinho em uma loja de funilaria, por causa da necessidade de trabalhar depois de 11 anos cuidando só da casa. Os filhos ainda pequenos, com 9 e 6 anos, cresceram sem a presença da mãe, que chegava a trabalhar 17 horas por dia.

“Não vi meus filhos crescerem, sempre deixei com babá, não tinha o que fazer”, fala Cida, que não se esquece do primeiro dia, que saiu para o trabalho e deixou o filho pequeno aos prantos em casa. “Agora diminui o ritmo de trabalho com o nascimento do meu neto”, explica.

Mesmo com tanta dificuldade, conseguiu se firmar no mercado e não se vê fazendo outra coisa. “Amo o que faço, e não me vejo dentro de uma loja, de saltinho, toda arrumada. Eu sou assim”, diz a mulher de riso fácil e bom papo.

Fora as desconfianças, as cantadas também fazem parte do mundo de Cida, que vira e mexe precisa lidar com situações constrangedoras na sua oficina, de clientes convidando para sair. Cida diz que tira de letra, e não liga não.

Hoje, Aparecida tem sua loja com oito funcionários – homens, que recebem ordens e aprendem com ela como fazer uma boa funilaria em um carro.