Em um novo avanço notável contra o vírus que causa a AIDS, os cientistas do Jupiter, campus da Flórida do Instituto de Pesquisa The Scripps (TSRI) anunciou a criação de um novo possível medicamento que é tão potente e universalmente eficaz, que pode funcionar como parte de uma vacina não convencional. O estudo, que envolveu cientistas de mais de uma dezena de instituições de pesquisa, foi publicado no último dia 18 de fevereiro no portal da revista “Nature”.
O artigo mostra que o novo candidato a medicamento bloqueia cada estirpe de HIV-1, HIV-2 e SIV (vírus da imunodeficiência de símio, da sigla em inglês) que foi isolada de seres humanos ou de macacos rhesus, incluindo as variantes mais difíceis de serem paradas. Ele também protege contra doses muito mais altas de vírus do que ocorre na maioria das transmissões humanas e o faz por pelo menos oito meses após a injeção.
“O nosso composto é o inibidor de entrada mais amplo e mais potente descrito até agora”, afirma Michael Farzan, professor do TSRI que liderou a equipe. “Ao contrário dos anticorpos, os quais não conseguem neutralizar uma grande fração de estirpes HIV-1, a proteína foi eficaz contra todas as estirpes testadas, levantando a possibilidade de que poderia oferecer uma alternativa eficaz para a vacina contra o HIV.”
Parando a AIDS
Quando o HIV infecta uma célula, tem como alvo os linfócitos CD4, uma parte integrante do sistema imunológico do corpo. O HIV se funde com a célula e insere o seu próprio material genético – neste caso, RNA de cadeia simples – e transforma a célula hospedeira numa fábrica de HIV.
O novo estudo baseia-se nas descobertas anteriores do laboratório Farzan, que mostram que um co-receptor chamado CCR5 tem modificações incomuns na sua região crítica de ligação do HIV, e que as proteínas com base nesta região podem ser utilizadas para prevenir a infecção.
Com este conhecimento, Farzan e sua equipe desenvolveram o novo candidato a fármaco que se liga a dois locais na superfície do vírus simultaneamente, evitando a entrada do HIV na célula hospedeira.
“Quando os anticorpos tentam imitar o receptor, eles tocam várias outras partes do envelope viral que o HIV pode mudar com facilidade”, explica Matthew Gardner, pesquisador afiliado ao TSRI e primeiro autor do estudo com Lisa M. Kattenhorn, da Faculdade de Medicina de Harvard. “Nós desenvolvemos uma cópia direta dos receptores sem fornecer muitos caminhos que o vírus pode usar para escapar, por isso, pegamos todos os vírus até agora”.
A equipe também alavancou a tecnologia pré-existente na concepção de um veículo de entrega – um vírus adeno-associado construído por engenharia genética – um vírus pequeno, relativamente inócuo, que não causa doença. Uma vez injetado no tecido muscular, como o próprio HIV, o veículo transforma essas células em “fábricas” que poderiam produzir o suficiente da nova proteína protetora para durar por anos, talvez décadas.
Os dados do novo estudo mostraram que o possível novo medicamento liga-se ao envelope do HIV de forma mais potente do que os melhores anticorpos amplamente neutralizantes contra o vírus. Além disso, quando os modelos de macacos foram inoculados com a droga, eles foram protegidos contra múltiplos desafios impostos pelo SIV.
“Este é o culminar de mais de uma década de trabalho sobre a bioquímica de como o HIV entra nas células”, diz Farzan. “Quando fizemos o nosso trabalho original sobre o CCR5, as pessoas pensavam que era interessante, mas ninguém viu o potencial terapêutico. Esse potencial está começando a ser realizado”, comemora.