Disse também que, se seu plano A fosse ser presidente, teria trocado de partido. "O plano A era dar a melhor contribuição possível ao país."
Passados 77 dias da renúncia ao cargo de governador do Rio Grande do Sul, ocasião em que disse que o gesto não lhe retirava "nenhuma possibilidade" e "oferecia todas", Eduardo Leite (PSDB) está de volta ao ponto de partida.
Em entrevista coletiva ao lado do atual governador Ranolfo Vieira Júnior (PSDB), o tucano descumpriu as reiteradas promessas de que não concorreria à reeleição e anunciou sua pré-candidatura ao Palácio Piratini. Ainda que fora do cargo, tentará ser o nome a quebrar o tabu do único estado que nunca reelegeu um governador.
"Essa decisão é uma decisão coletiva. Ouvi diversas opiniões, não só a minha. E eu mudei de opinião, mas não de princípios. É legítimo, é benéfico, separar o governador do candidato e eu só concorreria dessa forma. O Rio Grande do Sul virou o jogo, mas o jogo não terminou."
Disse também que, se seu plano A fosse ser presidente, teria trocado de partido. "O plano A era dar a melhor contribuição possível ao país."
Questionado pela reportagem se, diante dos governos de Lula e Bolsonaro, qual é a sua preferência, ele disse que "não se conforma com a falta de alternativa". "Se a polarização estiver no segundo turno, vamos falar sobre ela."
Com o anúncio desta segunda-feira (13), Leite encerra de vez a aventura à Presidência da República que incluiu uma derrota nas prévias internas para João Doria (PSDB), um flerte com o PSD e uma malsucedida tentativa de candidatura paralela com o incentivo de Aécio Neves (PSDB).
Agora, tanto o PSDB gaúcho quanto o paulista buscam superar o desgaste para manter seus governos estaduais.
À luz da lei eleitoral, a nova candidatura de Leite não difere de uma candidatura à reeleição, dado que é a mesma pessoa concorrendo ao mesmo cargo, mesmo que ele tenha renunciado em meio ao mandato.
Ou seja, caso vença, Leite não poderá se candidatar novamente ao Piratini em 2026. Ranolfo, por sua vez, só poderia concorrer a governador em 2022 e ficará sem cargo eletivo.
Embora já fosse esperada por potenciais aliados e concorrentes, a indefinição de Leite vinha sendo usada como justificativa pelo MDB para manter a pré-candidatura do deputado estadual Gabriel Souza.
Após passagem pela presidência da Assembleia Legislativa, em 2021, Souza alimentou a esperança de contar com o apoio de Leite e de lançar uma candidatura com o mesmo apelo, de um político jovem (tem 38 anos, um a mais do que Leite) e moderado com um projeto de união de forças de partidos de centro.
Agora, Souza é pressionado dentro do MDB a desistir.
Além de entender que Souza disputaria o mesmo eleitorado de Leite, o diretório gaúcho é cobrado pelo MDB nacional a cumprir o acordo feito em nome da candidatura de Simone Tebet à Presidência. Em troca do apoio tucano, o partido apoiaria o PSDB em Mato Grosso do Sul, Pernambuco e Rio Grande do Sul.
O ex-governador Germano Rigotto (MDB), que coordena o plano de governo de Tebet, é um dos que incentivam a coligação local.
No melhor dos cenários, Leite reuniria em torno de si uma coligação com MDB, União Brasil, Cidadania e PSD -que lançará Ana Amélia Lemos ao Senado pela chapa.
Embora vejam a candidatura do senador Luis Carlos Heinze (PP) a governador como inevitável, os tucanos contam ainda com apoio informal da parte mais pragmática e menos bolsonarista do PP pelo interior do RS.
À direita, a candidatura mais forte, por ora, é a do ex-ministro e deputado federal bolsonarista Onyx Lorenzoni (PL).
O retorno de Leite também aumenta a pressão sobre as candidaturas de esquerda. Se antes, tanto as pré-candidaturas do deputado estadual Edegar Pretto (PT) quanto do ex-deputado federal Beto Albuquerque (PSB) se viam capazes de almejar lugar no segundo turno, com Leite no páreo o caminho se estreita.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deixou o RS no início do mês sem ungir Pretto candidato e exigindo um acordo para as candidaturas a governador e senador.
Já o PSB nacional ameaçou punir Beto Albuquerque após ele acenar com apoio à candidatura presidencial de Ciro Gomes (PDT) como retaliação ao avanço da pré-candidatura de Pretto.
Ciro passou pelo estado sem se posicionar sobre o PSB e lançou palanque próprio: a pré-candidatura do ex-deputado federal Vieira da Cunha (PDT).
Uma reunião entre partidos de esquerda -PT, PSB, PC do B e PV- está marcada para quarta-feira (15). Diante do impasse entre PT e PSB, cresce a possibilidade de uma terceira via: antes cogitada para o Senado, Manuela D'Ávila (PC do B) poderia ser candidata ao governo do estado, embora ela tenha declarado que não concorrerá a cargos públicos em 2022.