Em todo o mundo, crianças e adultos estão cada vez mais fisicamente inativos, o que tem sérias consequências para sua saúde, expectativa de vida e capacidade de desempenho na sala de aula, na sociedade e no trabalho.
Em uma nova publicação, "Quality Physical Education, Guidelines for Policy Makers" em breve, disponível em português), a UNESCO urge governos e planejadores educacionais a reverter essa tendência, descrita pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma pandemia que contribui para a morte de 3,2 milhões de pessoas a cada ano, mais do que o dobro das mortes causadas pela aids.
As Diretrizes serão lançadas por ocasião de uma reunião do Comitê Intergovernamental da UNESCO para a Educação Física e o Esporte (CIGEPS) em Lausanne, Suíça, de 28 a 30 de janeiro.*
A UNESCO pede aos governos que revertam o declínio dos investimentos em educação física (EF) que tem sido observado nos últimos anos em várias partes do mundo, inclusive em alguns dos países mais ricos.
De acordo com fontes europeias, por exemplo, a alocação de fundos e de tempo para a EF nas escolas tem diminuído progressivamente em mais da metade do continente, e na América do Norte as condições não são melhores.
A nova publicação sobre EF, produzida em parceria com várias organizações internacionais e intergovernamentais**, defende a EF de qualidade e a formação de professores de EF.
Ela destaca os benefícios de se investir em EF, em comparação ao custo da falta de investimento (conforme infográfico autoexplicativo, em inglês).
“Os riscos são altos”, aponta a diretora-geral da UNESCO, Irina Bokova. “O investimento público na educação física é largamente compensado pelos altos dividendos na economia em saúde e em objetivos educacionais.
A participação na educação física de qualidade tem demonstrado estimular uma atitude positiva em relação à atividade física, reduzir as chances de jovens se engajarem em comportamentos de risco e impactar de forma positiva no desempenho acadêmico, além de fornecer uma plataforma para uma inclusão social mais ampla”.
As Diretrizes procuram abordar sete áreas de interesse especial, identificadas na revisão mundial da UNESCO sobre o estado da educação física (global review of the state of physical education), no ano passado: 1. lacunas persistentes entre políticas e implementação de EF; 2. deficiências contínuas na alocação de tempo no currículo; 3. relevância e qualidade do currículo da EF; 4. qualidade dos programas de formação inicial de professores; 5. inadequações na qualidade e na manutenção das instalações; 6. barreiras contínuas para se igualar as provisões e o acesso a todos; 7. coordenação inadequada entre escola e comunidade.
As recomendações aos gestores de políticas e aos educadores são acompanhadas por estudos de caso sobre programas, frequentemente conduzidos por organizações não governamentais.
Histórias de sucesso na África, nas Américas do Norte e Latina, na Ásia e na Europa ilustram o que pode ser realizado por meio da EF de qualidade: jovens aprendem como planejar e monitorar o progresso no alcance de um objetivo estabelecido por eles mesmos, com um impacto direto em sua autoestima, em suas habilidades sociais e em sua capacidade de desempenho na sala de aula.
Se as escolas, somente, não são capazes de fornecer o tempo integral diário de atividade física recomendado para todos os jovens, uma política bem planejada deveria promover sinergias de EF entre a educação formal e a comunidade.
Experiências, como a do Projeto Magic Bus (Índia), que faz uso da atividade física para ajudar a trazer de volta às salas de aula jovens haviam abandonado a escola, destacam o potencial dessa coordenação entre escola e lazer.
A publicação promove o conceito de “instrução física”, definido, pela organização canadense de educadores físicos e de saúde Passport for Life, como a capacidade de se movimentar “com competência e confiança em uma ampla variedade de atividades física, em múltiplos ambientes, que beneficia o desenvolvimento saudável da pessoa como um todo. Pessoas fisicamente competentes tendem a ser mais bem-sucedidas na escola e na sociedade.
Elas entendem como ser ativas para a vida e são capazes de transferir competências de uma área para a outra. Pessoas instruídas fisicamente têm habilidades e confiança se movimentar da forma que desejarem..
Elas podem demonstrar essas habilidades e essa confiança em diferentes atividades físicas e ambientes, bem como podem utilizá-las para serem ativas e saudáveis”.
As Diretrizes afirmam que, para que a sociedade obtenha os benefícios da educação física de qualidade (EFQ), os responsáveis pelo planejamento devem assegurar que a EF esteja prontamente disponível para meninas e para meninos, para jovens dentro e fora da escola.
As Diretrizes foram produzidas por uma solicitação do Comitê Intergovernamental da UNESCO para a Educação Física e o Esporte (CIGEPS) e dos participantes da Quinta Conferência Internacional de Ministros e Altos Funcionários Responsáveis pela Educação Física e o Esporte (Berlim, 2013).
A UNESCO e os parceiros do projeto continuarão a trabalhar com vários países que se envolverão em um processo de revisão das políticas nessa área, como parte do trabalho da UNESCO de apoiar esforços nacionais para adaptar seus sistemas educacionais às necessidades atuais.