E, com 4,2 milhões de toneladas de milho se consegue extrair em torno de 75% do etanol que se produz atualmente com a cana nestas áreas.
Até outubro de 2024, Mato Grosso do Sul deve atingir a capacidade para produzir quase dois bilhões de litros de etanol de milho por ano em três indústrias, o que chega perto da produção total das 19 usinas que produzem o combustível a partir da cana, que foi de 2,5 bilhões de litros na última safra, concluída em março. E, a tendêndia é de que essa nova modalidade de produção de combustível renovável suplante as tradicionais usinas de cana.
Nesta sexta-feira (20) a Neomille, que promete produzir até 510 milhões de litros de etanol de milho por ano em Maracaju, recebeu do Govero do Estado a licença de operação, o que permite que a segunda indústria do gênero no Estado entre em operação de imediato.
Com investimento da ordem de R$ 1, bilhão, a indústria de Maracaju vai processar inicialmente 600 mil toneladas de milho e produzir 280 milhões de litros de etanol por ano, mas antes mesmo de entrar em operação já prevê a duplicação dessa capacidade. A inauguração oficial está prevista para janeiro, mas a partir de agora a indústria já entra em operação.
Antes desta unidade de Maracaju, a única indústria que utilizava milho para produzir etanol no Estado era a Inpasa, que funciona desde o começo do ano passado em Dourados e que deve fechar 2023 com 935 milhões de litros do combustível, de acordo o gerente comercial empresa, Rui Farias Filho.
Uma tarceira indústria, também do grupo Inpasa, está na fase inicial de instalação em Sidrolância, com previsão para entrar em operação no final do próximo ano. O investimento será da ordem de R$ 1,2 bilhão e capacidade de 500 milhões de litros por ano.
Ela está sendo instalada em uma área de 98 hectares às margens da BR-060, próximo ao posto de fiscalização da Polícia Rodoviária Federal, entre Campo Grande e Sidrolândia.
Se o cronograma for cumprido, estará em condições de operar a partir de outubro de 2024. Isso significa que diariamente vão circular em torno de 500 carretas na região para descarregar milho e escoar a produção de etanol e ração.
Caso ela realmente entre em operação, Mato Grosso do Sul passará a destinar em torno de 4,8 milhões de toneladas de sua produção de milho só para estas indústrias, o que representa em torno de um terço de sua produção anual. Hoje, o excedente da produção é exportado ou vendido in-natura para o sul do país.
Somando a produção das três unidades, a produção de etanol de milho em Mato Grosso do Sul chegará a 1,945 bilhão de litros, levando em consideração a produção atual da Inpasa de Dourados e a perspectiva de produção das outras duas.
Na última safrinha, cerca de 2,4 milhões de hectares de lavouras foram ocupados pelo plantio de milho no Estado, que renderam em torno de 12 milhões de toneladas. Com pouco mais de um terço disso é possível produzir dois bilhões de litros de etanol.
Enquanto isso, a cana-de-açúcar ocupa em torno de 870 mil hectares e na última safra gerou 2,5 bilhões de litros de combustível, além de 1,4 milhão de toneladas de açúcar.
A diferença entre as duas culturas é que nas áreas onde existe cultivo de cana não existe nenhuma outra produção, enquanto que nas terras do chamado milho safrinha normalmente também ocorre o cultivo da soja, que na realidade é a principal safra do ano.
Então, uma conta e um raciocínio simplistas dão a entender que as indústrias de etanol de milho tendem a engolir as de cana-de-açúcar. Nos dois casos, além de etanol, as indústrias também produzem outros derivados, como o açúcar, a ração e a energia. E talvez seja com base nisso que o plantio de cana continue sendo vantajoso.
Mas, levando em conta só o etanol, o milho se mostra mais atrativo. Em 870 mil hectares ocupados pela cana seria possível produzir 4,2 milhões de milho somente na chamada safra de inverno, levando em consideração que todas estas terras são de boa qualidade.
E, com 4,2 milhões de toneladas de milho se consegue extrair em torno de 75% do etanol que se produz atualmente com a cana nestas áreas. E, depois da colheita do milho safrinha, a terra estaria disponível para o plantio da soja.
Nelas, seria possível produzir em torno de três milhões de toneladas, ou 50 milhões de sacas, o que injetaria faturamento bruto da ordem R$ 6,5 bilhões por ano na economia do Estado.
Com base na análise das finanças reportadas por produtores dos dois segmentos de etanol, analistas do BTG Pactual chegaram à conclusão de que os custos de produção do etanol de milho ficam16% abaixo do etanol de cana, conforme relatório publicado em agosto.
O banco também reconhece os retornos muito mais rápidos, menos capital empregado e os menores riscos operacionais em comparação com o etanol de cana.
Por fim, a perspectiva dos analistas é de que o mercado deve se manter mais competitivo, a se guiar que nos últimos dois anos o lucro do etanol de milho por litro vendido foi de R$ 1,27, contra R$ 0,91 da cana-de-açúcar.
“Em última análise, a economia do etanol de cana-de-açúcar tem se tornado cada vez mais pouco atraente, contrastando com a do milho', escrevem os analistas econômicos do banco.