Status de livre de febre aftosa sem vacinação deve ser conquistado em maio e, além da bovinocultura, também beneficiará a suinocultura.
A certificação de Mato Grosso do Sul como estado livre de febre aftosa sem vacinação promete transformar o setor produtivo local e abrir novas possibilidades para exportações. Reconhecido nacionalmente e de forma oficial pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) no dia 25 de março de 2024, o Estado aguarda para maio o reconhecimento internacional pela Organização Mundial da Saúde Animal (Omsa).
O titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semadesc), Jaime Verruck, afirmou que MS cumpre rigorosamente os processos exigidos e que a certificação trará uma posição privilegiada de destaque no mercado internacional.
A maior vantagem é a ampliação de mercados para a carne bovina, mas a mudança se estende a outros setores da pecuária. Verruck destaca que, ao alcançar esse status, MS pode abrir novos mercados para carnes suínas, por exemplo, especialmente em países com exigências rigorosas de saúde sanitária, como o Japão.
“Porque a gente olha muito a bovinocultura que ficará sem a vacina, mas imediatamente, você muda o padrão da suinocultura de Mato Grosso do Sul. Hoje, Santa Catarina é o único estado que exporta para o Japão. No momento em que o Estado também for reconhecido como livre de aftosa, poderemos conquistar esse mercado. Então a gente muda não só a cadeia produtiva da carne bovina, mas das outras carnes também”, explica.
Verruck afirma que a jornada para alcançar a certificação foi um processo complexo, envolvendo a implementação de um sistema rigoroso de vigilância e a preparação das estruturas necessárias para garantir a segurança do rebanho sem a necessidade da vacina.
“Começa na educação do produtor rural, em um sistema robusto de inteligência para monitorar toda essa estrutura de rebanho no Estado”, analisa.
O diretor-presidente da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro), Daniel Ingold, reiterou a afirmação durante evento de entrega de viaturas para a Iagro realizado na manhã de ontem.
“Tem todo um critério, um planejamento estratégico, para você tirar a vacina, porque ela deixa de ser uma ferramenta, é substituída por uma vigilância mais ativa, e é isso que nós estamos fazendo agora. A ferramenta está na vigilância. Cabe ressaltar que o grande ator disso, o primeiro vigilante efetivamente, é o produtor rural”, disse.
TRANSIÇÃO
A transição de um modelo de vacinação para um modelo de vigilância requer uma mudança cultural e operacional significativa. O resultado desse esforço já se reflete na avaliação positiva que MS recebeu.
“Tem uma avaliação do Mapa que nós chegamos a uma nota 3,95, que é a melhor nota do País, que é o sistema de avaliação de todas as agências, e todo esse material é levado para a Organização Mundial de Saúde Animal. Por isso que a gente está falando em maio, que ela vai falar assim: vocês estão livres de febre aftosa. Não tem mais o com ou sem [vacinação]”, explicou Verruck.
Esse avanço representa, portanto, um marco importante para a pecuária sul-mato-grossense, que ao lado da qualificação do setor, prepara-se para expandir seus produtos ainda mais no mercado internacional. Para Verruck, o desafio agora é manter a vigilância e os padrões de segurança, garantindo que o Estado continue a ser referência na produção de carne de qualidade.
Atualmente, existe um sistema de vigilância que abrange todo o Estado e classifica as áreas de acordo com o risco presente em cada uma delas. Uma propriedade que está próxima de um lixão urbano, por exemplo, entra na área de risco e receberá mais fiscais da vigilância. Já um produtor que está “no fundo” do Pantanal, que não tem trânsito animal, é classificado como de risco menor.
Conforme já publicado pelo Correio do Estado, para conquistar o status certificação internacional de área livre de aftosa sem vacina, MS deve cumprir todas as etapas previstas no Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa (Pnefa), entre elas a já realizada, sendo essa a retirada da vacina da aftosa no rebanho.
Para o reconhecimento, é exigida também a proibição de ingresso de animais vacinados em MS e nos 15 estados propostos por, pelo menos, 12 meses.
HISTÓRICO
O primeiro foco de aftosa que se tem registro no Estado foi identificado no município de Naviraí, próximo à divisa com o Paraná, em 1999, situação que colocou os pecuaristas, principalmente os da Região Sul do País, em alerta.
Em 2001, a zona livre de febre aftosa com vacinação foi ampliada, com reconhecimento dos estados da Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Sergipe, Tocantins e parte de Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais e São Paulo.
No ano seguinte, em 2002, focos de aftosa na Argentina e no Paraguai provocaram novo alerta em pecuaristas do Sul e do Centro-Oeste. Três anos depois, a ocorrência da doença em municípios do Pará e do Amazonas, na Região Norte, resultou na restrição de importações de carne por vários países.
Com isso, o governo federal realizou ações para demonstrar aos compradores que as áreas atingidas estão longe das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do País, principais regiões de produção de carne para a exportação.
Em outubro de 2005, o vírus reapareceu em Mato Grosso do Sul e no Paraná, o que resultou na suspensão da condição de zona livre nesses estados e mais 10: Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Sergipe e Tocantins.
No ano de 2008, ocorreu a restituição do reconhecimento de zona livre da doença para MS e demais estados que tiveram essa condição suspensa em 2005.
Segundo o Mapa, atualmente, no Brasil, somente os estados de Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Acre, Rondônia e partes do Amazonas e do Mato Grosso têm a certificação internacional de zona livre de febre aftosa sem vacinação.
VACINAÇÃO
Conforme dados da Iagro, em novembro de 2022, foram vacinados um total de 15.702.964 animais, entre bovinos e bubalinos, em 52.279 propriedades.
Ainda de acordo com as informações oficiais, MS alcançou um índice de cobertura vacinal excelente, acima de 99%, tanto para as propriedades, que foi de 99,65%, quanto para os animais, que foi de 99,80%.