Há mais de três décadas, a restauradora de livros Kayo Takii, 57 anos, sonhava em pegar a mochila e viver novas experiências em um intercâmbio no exterior. Os anos passaram e o sonho se tornou realidade em 2014, já com os filhos crescidos e a estabilidade que não tinha aos 20.
"Quando eu fazia faculdade de letras na USP [Universidade de São Paulo], eu pensava 'um dia vou fazer isso'. Foi um sonho que eu realizei depois de 35 anos", afirma. O destino escolhido para estudar inglês por dois meses foi Bristol, na Inglaterra.
Procurou um curso sênior, mas não encontrou nas datas em que buscava. A mudança de planos, porém, teve resultados bem bem positivos para Kayo. "Tive colegas de 18 a 80 anos. Conheci gente da Polônia, Noruega, Espanha, França, Panamá, Suiça", diz.
Segundo pesquisa da Belta, uma associação desse setor, feita com 80 agências de intercâmbio em 2013, 10% ofereciam programas para pessoas acima de 50 anos –em 2010, só 2,8% tinham cursos para essa faixa etária.
Novos intercambistas
Apesar do público pequeno, Carlos Robles, presidente da Belta, diz que as agências já perceberam um aumento na procura de intercâmbios por pessoas com mais de 50 anos. "Muitos delas já têm um conhecimento básico da língua estrangeira, já viajaram bastante como turistas, e querem de viver em outro país como se fossem habitantes", afirma.
Em geral, diz Robles, preferem cursos de línguas, de curta duração e optam por hospedagem em casa de família. "Hotel era muito caro, ficar na casa de família era metade do preço", afirma Kayo, que fez a escolha pela segunda opção quando esteve em Bristol.
Além disso, o presidente da Robles diz que os clientes com mais de 50 anos querem mais do que as aulas. "Essa faixa etária tem um interesse cultural muito grande. Então eles querem cursos que ofereçam passeios a museus, centro de artes, ou cursos de idiomas e gastronomia, pintura ou degustação de vinhos", diz.
Na Inglaterra, Kayo aproveitava todas os passeios oferecidos pela escola. "Eu recomendo, acho que [o intercâmbio] foi até melhor do que eu esperava. Mas tem que ir com o espírito aberto, saber que vai encontrar pessoas e culturas diferentes. São experiências que você aprende só passando".
Gostou tanto da viagem, que depois fez um curso intensivo na França por 20 dias sobre restauração de livros e aproveitou para colocar em prática as aulas de francês que teve no Brasil. Ah, as viagens internacionais agora já não exigem a presença dos filhos. "Antes eu achava que eles tinham que ir junto, porque senão eu não ia conseguir. Agora não me importo, não tenho medo nenhum".