A tela traz as cenas de uma perseguição policial. A cada som de tiro, Andressa Motta, de 24 anos, enxuga as lágrimas que desde 2 de agosto não param de cair. Após cinco meses de luto e descaso, ela vê o vídeo que esclarece a morte da irmã Haíssa Motta, de 22. A jovem levou um tiro nas costas depois que PMS perseguiram e atiraram contra o carro onde ela estava, em Nilópolis.
Imagens divulgadas pela revista “Veja” no último sábado (10) mostram o PM Márcio José Watterlor colocar o corpo para fora do carro e disparar nove vezes com seu fuzil contra o veículo onde a Haíssa e mais quatro amigos estavam, ao voltarem de um pagode.
As imagens trazem toda sequência da ação desastrada. Os policiais, ao verem o veículo onde Haíssa estava, um Hyundai HB20, comentam: “Carro daquele branco que tá roubando para c...”. O fato de serem “quatro cabeças, um moleque de boné e tudo”, como diz um dos PM, é a justificativa suficiente para iniciar a perseguição. Vinte segundos depois, mesmo com o pedido de “calma” do colega que dirigia a viatura, Watterlor abre fogo.
— O vídeo é chocante. Dá uma sensação de desespero. Ele está atirando e é minha irmã que está ali. Eles podem ficar mil anos presos. O que fizeram é impagável. Não tem perdão — sentenciou Andressa, entre soluços.
— Não tiveram senso de avaliação e não houve abordagem. Estamos à mercê de pessoas despreparadas que estão armadas. Um médico estuda seis anos, nossa polícia é treinada seis meses e vai para a rua. Aqui, a polícia cisma e atira. Mata, depois pergunta — criticou o pedreiro Ironildo Motta, de 50 anos, pai de Haíssa.
A caminho do hospital, Jéssica, uma das amigas de Haíssa, chora dentro da viatura e é repreendida pelos PMs: “Vamos manter a calma, gente. Tá complicado”. Enquanto Jéssica pediu desculpas duas vezes, a família da vítima nunca foi procurada pelo estado.
Para o pai, a divulgação do vídeo é uma resposta aos pedidos que justiça que estava fazendo aos céus. Em sua orações, pedia a Deus para que a morte da filha não ficasse impune. Em cinco meses, a família não sabia do andamento das investigações e não recebeu qualquer assistência psicológica do estado.
— Minha mulher e minha filha estão em depressão. Eu sofro todo dia e não posso fazer nada por elas. A dor está me consumindo. Cada dia me arranca um pedaço. E ninguém do estado ofereceu ajuda. Nós que estamos procurando psiquiatra em hospital público, o que é muito difícil. Estamos entregues às baratas. Somo o lixo que paga o salário deles — desabafou Ironildo.