Essa não é uma situação rara de acontecer. Não se sabe nada do outro, a conversa dura pouco, mas isso não impede de que se faça planos e se imagine situações. Alguns defendem o amor à primeira vista. Tenho dúvidas de sua existência. Acredito, sim, em desejo à primeira vista. Mas como desde cedo aprendemos a confundir amor com desejo sexual, chamamos uma coisa de outra.
Na maior parte das vezes, a emoção que se sente, nesse caso, não é a do amor verdadeiro nem a do desejo sexual perturbador. O mais comum é que esse amor — totalmente idealizado — seja do tipo romântico. Nele não se percebe a pessoa real como ela é, e a paixão é pela imagem que se constrói dela, pelo que se gostaria que ela fosse. Ansiosos por experimentar as emoções tão propaladas desse amor, quase todos no mundo ocidental constroem a história que bem entendem, sem nem se dar conta disso.
Poucos gostam de ouvir que no amor romântico se inventa uma pessoa que não existe, idealizando-a e projetando nela qualquer coisa que se deseje. Portanto, nada mais natural do que ela ser maravilhosa aos olhos de quem a ama. O problema é que os apaixonados esperam que todo o mundo enxergue a pessoa amada do mesmo jeito que eles enxergam, não aceitando que os outros ignorem as qualidades percebidas por eles.
Há quem questione se uma paixão desse tipo pode ser duradoura. A questão é saber se entre a pessoa real e a imagem que se formou dela existe grande distância. Se existir, em pouco tempo o namoro ou casamento se torna insuportável.
Não tendo mais como manter a idealização, por conta da convivência diária, as características de personalidade do outro que não nos agradam, agora são percebidas, comprometendo a relação.
Entretanto, isso não acontece somente no amor repentino, à primeira vista. Pode ocorrer em qualquer experiência amorosa, desde que se enxergue o outro através da névoa do mito do amor romântico.