Produtores do grão estão enfrentando mudanças climáticas em diferentes regiões do mundo.
Combinação de fatores desfavoráveis à produção de café tem aumentado o preço do produto nas prateleiras ao redor do mundo. Entre os problemas enfrentados pelos produtores do grão, estão os efeitos das mudanças climáticas em diferentes regiões conhecidas pelo potencial de colheita e a durian — chamada de a planta mais fedorenta do mundo.
O que explica a alta no valor do café?
Aumento no preço do grão não atinge somente os brasileiros. De acordo com a rede britânica BBC, uma “tempestade perfeita” de fatores econômicos e ambientais vem prejudicando o plantio em diversas regiões espalhadas pelo mundo, fazendo com que o custo dos grãos não torrados atinja um “nível historicamente alto” nos mercados globais.
Produtoras de café enfrentam sequência de dificuldades. De acordo com especialistas, a baixa no estoque provocada por problemas nas safras é um dos fatores que prejudicam o mercado do café. As safras, por sua vez, sofrem com as mudanças climáticas, agravando o ciclo de problemas financeiros tanto para quem planta quanto para quem compra.
Geada no Brasil, seca no Vietnã
Enquanto o Brasil é o maior produtor mundial de grãos do tipo arábica, geralmente utilizado por baristas e em cafés moídos para utilização doméstica, o Vietnã é o principal produtor de grãos robusta, considerado menos refinado e com mais cafeína.
Condições climáticas caóticas tem prejudicado a produção de café no Brasil. Em julho de 2021, uma forte geada atingiu importantes regiões produtoras de café nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Junto ao frio intenso, a seca prolongada no final de 2020 fez com que muitas plantas queimassem e não atingissem a produção esperada para o período, além de comprometer as lavouras para as safras dos anos seguintes.
Sequência de eventos extremos continua prejudicando safra. Após a seca de 2020 e a geada de 2021, o alto volume de chuva em 2022 e o forte calor de 2023 não permitiram a recuperação completa das lavouras brasileiras. Com a estiagem que castiga boa parte do Brasil nos últimos meses, a previsão indica que a próxima safra de café também sofrerá os impactos climáticos.
Devido a baixa oferta brasileira, compradores aumentaram a demanda para o Vietnã. No entanto, os produtores de café no país asiático vêm enfrentando seca severa. De acordo com a BBC, a estiagem no país é a pior em quase uma década. A próxima safra será colhida a partir de outubro, e a eventual baixa oferta pode aumentar ainda mais o preço final do grão.
A solução vietnamita: a durian
Para diminuir os prejuízos causados pela baixa produção de café, agricultores apostam na fruta. Considerada a fruta mais fedorenta do mundo, durian é conhecida pelo cheiro forte. Em países como Tailândia, Japão e Cingapura, por exemplo, é proibido carregar a fruta no transporte público justamente por conta do odor.
Mesmo com o mau cheiro, a fruta tem se popularizado na China. A aceitação do povo chinês fez com que os agricultores vietnamitas se dedicassem à produção da durian. Segundo a BBC, a presença da fruta cultivada no Vietnã e comercializada na China quase dobrou entre 2023 e 2024 e há expectativas de que a safra da durian seja cinco vezes mais lucrativa do que a do café.
Mais durian, menos café. Enquanto a exportação da durian segue crescendo, a do café tipo robusta despencou 50% em junho deste ano em comparação com o mesmo período de 2023. De acordo com a Organização Internacional do Café, citada pela BBC, os estoques do café no Vietnã estão “quase esgotados”.
Demais mercados produtores de café não conseguem desafogar a demanda. Países como Colômbia, Uganda, Peru e Etiópia, cujos grãos são amplamente consumidos em diferentes partes do mundo, não têm produção suficiente para contemplar todas as exportações necessárias.
Baixa oferta pode provocar efeito cascata
Diminuição na produção afeta consumidores finais e empresários do ramo. O crescente aumento no preço do café pode ser sentido no supermercado, ao comprar o pacote do grão, e também em estabelecimentos como restaurantes e cafeterias. Donos de comércios que oferecem bebidas com café podem repassar o valor pago ao cliente final para não arcar com o aumento no preço do grão.
Grandes atacadistas também devem avaliar o repasse do aumento. Empresas que importam café de países da América do Sul e da Ásia, justamente dos mercados brasileiro e vietnamita, por exemplo, precisarão avaliar de que forma irão arcar com o café mais caro: absorver a diferença ou repassar aos respectivos parceiros para quem vendem o café importado.