Setas, manchas e bolinhas: como Tite e sua comissão analisam os jogadores
Tite treino seleção Quito / Foto: Pedro Martins /MoWA Press

De uns tempos para cá, você, viciado em futebol, certamente passou a ouvir falar mais em mapa de calor. À primeira vista, parece apenas o desenho de um campo cheio de manchas. Mas elas representam a área de atuação de um jogador durante uma partida, em gráficos feitos por programas de computador.

O modismo não atingiu o coração de Tite. O novo técnico da seleção brasileira, em visita à equipe olímpica ainda no início da preparação na Granja Comary, em julho, disse que não fazia tanto uso desse material. Ele preferia outro tipo de gráfico para analisar jogadores.

Pois bem. O GloboEsporte.com foi atrás das referências que Tite usou para elaborar sua primeira convocação no cargo, juntar os 23 jogadores que, na próxima quinta-feira, enfrentarão o Equador, em Quito, pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2018.

É um trabalho, digamos, mais artesanal. A reportagem teve acesso a dois gráficos que representam a movimentação de um jogador de meio-campo convocado por Tite. A comissão técnica observou duas partidas dele no estádio pelo Campeonato Brasileiro, e acompanhou, a mão, em tempo real, suas movimentações.

As bolas pretas representam seus atos ofensivos, e as vermelhas os defensivos. Os deslocamentos indicam a área preferida do jogador, onde ele se sente à vontade em campo. No segundo jogo, o do gráfico à direita, o meio-campista teve mais participação tanto na chegada ao ataque quanto na composição de marcação de sua equipe.

Mas por que o mapa de calor não seduz Tite? Porque, por exemplo, quando Neymar se desloca de uma lateral a outra para bater uma falta ou um escanteio, esses gestos são detectados e influenciam no resultado final. Se ele deixa o campo machucado para ser atendido ou vai à lateral reclamar de uma marcação, idem. Todas as ações são registradas, incondicionalmente.

O técnico gosta de ter uma noção melhor do que cada atleta faz quando sua equipe tem a posse de bola, e nos momentos de formação defensiva, com a bola sob domínio do rival. De que forma ele participa, onde ele se situa. A comissão crê que esse tipo de desenho é mais fidedigno ao que cada um pode desempenhar em campo.

Mas não foram apenas observações individuais que nortearam a escolha de Tite por seus 23. Fascinado pelo setor de meio-campo e por jogadores que ali atuam, ele e seus auxiliares Cleber Xavier, Sylvinho e Matheus Bachi também elaboram relatórios coletivos.

No exemplo abaixo, as observações feitas sobre o empate por 2 a 2 entre Brasil e Uruguai, no último mês de março, dessa vez por vídeo, depois que eles foram contratados pela CBF.

Cada cor representa um jogador de meio-campo e ataque, e cada bolinha mostra onde eles estavam em determinadas movimentações ofensivas e defensivas. Dessa forma, eles destacam como os atletas estão posicionados quando um companheiro tem a bola, se eles ocupam a mesma área do campo.

Na parte defensiva, Tite quis avaliar se seria preciso fazer muitas mudanças na “engrenagem”, já que, naquela partida, a seleção brasileira também atuou no 4-1-4-1, esquema que ele também deverá utilizar em sua estreia diante dos equatorianos.

Obcecada por informações, em razão do pouco tempo de treino que a equipe terá rotineiramente, a comissão técnica acumula papéis, desenhos, setas e gráficos. Tudo para tentar levar a Seleção a uma posição confortável nas eliminatórias, onde atualmente ocupa a sexta colocação, fora da zona de classificação para a Copa do Mundo de 2018.

Brasil e Equador se enfrentarão na próxima quinta-feira, às 18h (horário de Brasília), no estádio Olímpico de Atahualpa, nos 2.850 metros de altitude de Quito. A estreia de Tite terá transmissão ao vivo do GloboEsporte.com, da TV Globo e do SporTV. Na próxima semana, dia 6 de setembro, a adversária será a Colômbia, em Manaus, às 21h45 (de Brasília).