Puccinelli perdeu eleição e seus candidatos foram derrotados no 2º turno, tanto para governador quanto para presidente, enquanto a senadora emplacou ambos.
As eleições deste ano serviram como um verdadeiro divisor de águas para o MDB de Mato Grosso do Sul, pois praticamente sepultou uma velha raposa da política e fez renascer das cinzas uma fênix. O triplo fracasso do ex-governador André Puccinelli, que não conseguiu ir para o 2º turno da eleição para o governo do Estado.
Andé viu o candidato a governador para quem declarou apoio perder e o seu candidato a presidente da República naufragar nas urnas, serviram para fazer ressurgir, localmente, a senadora Simone Tebet, que, em nível nacional, já era um nome proeminente dentro do partido, mas, em nível estadual, enfrentava o desprezo dos seus pares.
Agora, em uma reviravolta digna de um filme de suspense, a parlamentar sul-mato-grossense, além de conseguir ver eleitos os seus candidatos a governador e a presidente da República, faz parte da equipe de transição do petista Luiz Inácio Lula da Silva.
É o nome mais forte para assumir o Ministério da Cidadania, Pasta que vai controlar o Auxílio Brasil, e o seu marido, o atual secretário estadual de governo, Eduardo Rocha, está virtualmente garantido no cargo na gestão do governador eleito Eduardo Riedel (PSDB).
Tais fatos a credenciam para ser a mais proeminente liderança do MDB em Mato Grosso do Sul, aposentando de vez o ex-governador, que tentou ensaiar um retorno, mas viu seu sonho virar um pesadelo em pouco mais de 15 dias.
Afinal, quem, em sã consciência, dentro do MDB de Mato Grosso do Sul pretende virar as costas para Simone Tebet, o futuro braço direito do governo Lula na área social e cujo esposo deve ocupar uma das mais importantes secretarias estaduais no governo Riedel.
Além disso, a senadora sul-mato-grossense vai comandar o Auxílio Brasil, que deve voltar a ser chamado de Bolsa Família e é um dos programas da União mais cobiçados pelos partidos, pois tem uma linha direta com mais de 2,2 milhões de famílias beneficiadas, que totalizam 20,2 milhões de pessoas em todo o País.
Números expressivos que podem contribuir de forma significativa nas eleições municipais de 2024 nos 79 municípios do Estado.
Análise
Na análise do cientista político Tércio Albuquerque, o ex-governador não conseguiu vencer a eleição para governador no 1º turno justamente em razão de uma virada política gigantesca provocada pelo presidente da República, Jair Messias Bolsonaro (PL), que buscava a reeleição e contava com o apoio do próprio André Puccinelli.
Graças às declarações de Bolsonaro no último debate da televisão no 1º turno das eleições entre os presidenciáveis, quando pediu para que os bolsonaristas de Mato Grosso do Sul votassem no candidato a governador pelo PRTB, deputado estadual Capitão Contar (PRTB), justamente quando Puccinelli aparecia à frente nas pesquisas eleitorais, tendo Riedel em 2º e o militar da reserva vindo logo atrás em 3º.
“Com o apelo do presidente Bolsonaro aos eleitores de Mato Grosso do Sul, que na sua maioria é um Estado de bolsonaristas, o Capitão Contar deu um salto na preferência do eleitorado e terminou o 1º turno na frente de Riedel, que manteve a 2ª colocação, tirando Puccinelli do páreo. Nesse movimento todo, Simone Tebet se manteve firme na posição da chamada 3ª via com a sua candidatura a presidente da República, mas já acenando que teria muito claramente um direcionamento ao candidato Lula, e não a Bolsonaro, caso ambos fossem para o 2º turno, tanto que teve uma reunião prévia sobre esse apoio em São Paulo (SP). Então, quando a executiva nacional do MDB liberou todos os seus parlamentares, lideranças e filiados a votarem em quem desejassem no 2º turno, a senadora declarou abertamente o apoio ao candidato petista e, dessa forma, tornou-se uma figura relevante na campanha de Lula”, afirmou Tércio Albuquerque.
Ele reforçou que, com isso, Simone Tebet se destacou como uma das maiores lideranças do MDB em nível nacional, enquanto isso, aqui em Mato Grosso do Sul, André Puccinelli resolveu aderir à candidatura do Capitão Contar, que já era frágil e quase insustentável, pois estava exclusivamente apoiada no sucesso de Jair Bolsonaro.
“E, por isso, o naufrágio foi ainda maior, já que, além de Contar, também foram para o fundo do mar o ex-governador e os demais apoiadores de ocasião, como o ex-prefeito de Campo Grande Marquinhos Trad [PSD] e a deputada federal Rose Modesto [sem partido]. A senadora, por outro lado, manteve sua posição e, agora, faz parte da equipe de transição do presidente eleito, tendo grandes chances de ocupar toda a Pasta da área social do governo Lula, que terá um dos maiores orçamentos da nova gestão federal”, ressaltou.
Dessa forma, conforme o cientista político, Simone Tebet deve pavimentar a sua vida pública para alçar voos maiores, provavelmente, para a próxima eleição à Presidência do Brasil.
“Não acredito que ela vá, nesse ínterim, buscar, nas eleições municipais, uma candidatura para a Prefeitura de Campo Grande, por exemplo, devendo se manter em uma trajetória de apoio e consolidação do MDB junto ao PT em nível nacional. Inclusive está sendo criado um grupo do MDB junto ao União Brasil para tentar formar uma federação partidária que traga o governo Lula mais ao centro, saindo dessa disputa entre esquerda e direita”, projetou.
Tércio Albuquerque acrescentou que, sem dúvida nenhuma, a senadora Simone Tebet é, atualmente, a grande personalidade que pode fazer isso, inclusive tendo até mais poder que o senador Renan Calheiros dentro do MDB Nacional.
“Hoje, em Mato Grosso do Sul, MDB se chama Simone Tebet, e aqueles do próprio partido que pretendem alçar voos mais altos vão depender do posicionamento dela, que, pelo que sabemos, não pretender sair do MDB, pelo contrário, quer consolidá-lo para que se torne uma força ainda maior desde as campanhas diretas Já, quando teve um papel de protagonismo na política nacional”, finalizou.