Fatores como a variante Delta, número alto de adultos não vacinados e queda na efetividade da vacinação na população idosa acendem luz amarela no país.
Os Estados Unidos foram um dos países do mundo que mais cedo vacinaram parcela importante da sua população. À medida que a vacinação avançou por lá, o número de casos e mortes despencou, levando à retomada de uma rotina cada vez mais normalizada. Mas, hoje, esses mesmos EUA acenderam uma luz amarela que deve ser observada pelo restante do mundo.
Atualmente, o país norte-americano já registra uma média de 129 mil novos casos de covid-19 por dia, um crescimento de 700% na comparação com o começo de julho. Autoridades sanitárias já alertam para uma média móvel de contágios que deve alcançar nas próximas semanas 200 mil novos casos/dia, mesmo patamar de quando a 2ª onda da pandemia estourou por lá. Muitos estados norte-americanos já regrediram inclusive em medidas de circulação de pessoas e uso de máscaras, por exemplo.
Três fatores são centrais para entender o que está acontecendo. Primeiro, a variante Delta, que é mais contagiosa e, indicam alguns estudos iniciais, “fura” o bloqueio de parte das vacinas. Segundo, o alto número de adultos não vacinados, cerca de 90 milhões de pessoas. Nos Estados Unidos, 60% da população tomaram pelo menos a primeira dose, sendo que 51% já estão imunizados com duas doses ou dose única.
Ou seja, expressivos 40% da população ainda não se vacinaram, mesmo com imunizantes disponíveis em todo o país. Em muitos estados norte-americanos, negacionistas têm se recusado a tomar o imunizante, o que tem desafiado as autoridades que tentam controlar a pandemia no país.
O terceiro fator é a queda na efetividade da vacina entre a população mais velha, que foi vacinada há mais tempo. Esse fenômeno era esperado, mas como ainda há um contingente muito grande de pessoas sem qualquer cobertura vacina, a parcela de pessoas suscetíveis ao vírus volta a ser muito grande, favorecendo o contágio. As autoridades já estudam a adoção da terceira dose, como reforço, para aumentar a proteção dessas pessoas.
E no Brasil?
Mas por que o contexto norte-americano preocupa (ou ao menos deveria preocupar) o Brasil? Primeiro, porque temos uma cobertura vacinal ainda bastante inferior. Por aqui, temos um percentual pouco menor de pessoas com ao menos uma dose (54,3%), mas apenas 23,4% com as duas doses ou dose única. Ou seja, a variante Delta, que já circula amplamente pelo nosso país, tem um exército grande de pessoas sem imunização para contaminar.
Por enquanto, os números mostram que o contágio segue controlado no Brasil. No último domingo, a média móvel de novos casos chegou a 28.347, queda de 23% em duas semanas. O mesmo ocorre com a média de mortes, que recuou 15% em duas semanas e chegou a 844 óbitos/dia, o menor patamar desde 7 de janeiro.
A melhora do cenário e o avanço da vacinação têm levado muita gente a acreditar que a pandemia está totalmente controlada. Mas o recado que vem dos Estados Unidos nos mostra que ainda é cedo, muito cedo, para se acreditar nisso. Lá, um número grande de ainda não imunizados e a flexibilização dos cuidados, aliados ao surgimento da variante Delta, colocaram novamente em risco o controle da covid-19. Não temos muitos motivos para achar que aqui seria diferente.
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