Há 4 anos o assunto já havia sido levantado, mas recuperou fôlego depois das novas denúncias contra o ex-presidente militar
Enquanto alguns acreditam ser justo retirar das ruas de Campo Grande homenagens a torturadores dos tempos da Ditadura Militar, na Avenida Ernesto Geisel, a maioria dos moradores e comerciantes da região consideram a troca perda de tempo. A opinião não muda nem depois da participação do general em assassinatos de militantes ser confirmada por documentos secretos da CIA, serviço de inteligência dos Estados Unidos. Como o presidente do Brasil, o arquivo comprova a execução de opositores ao regime militar, com o aval de Geisel.
Há 4 anos o assunto já havia sido levantado, mas recuperou fôlego depois das denúncias da semana passada. Mesmo assim, nada mudou na opinião da maioria, principalmente, no comércio. "Vai mudar pra quê? Deixa rolar. Vai apenas causar transtornos em mudanças de endereços", argumenta Antônio Elson Barbosa, de 60 anos, durante compras em uma mercearia na avenida. Ele também acredita que a mudança iria desfavorecer a história. "Não importa o que ele fez, foi um homem que fez parte da história do nosso País. Se for assim, quantas outras ruas precisam ser mudadas?", questiona.
Para quem vive do comércio na Ernesto Geisel há 23 anos, a notícia virou piada diante de outras prioridades. "Só rindo mesmo, esse povo não tem o que fazer. Com tanta coisa para se preocupar", diz o comerciante Orisvaldo Ferreira Gonçalves, de 54 anos, que viu o movimento cair depois de outras mudanças por ali. "Ao invés de se preocuparem em melhorar a avenida, ficam falando de nome, estou aqui há anos e perdi o movimento desde que proibiram estacionar na frente do meu bar. Isso é um problema".
A troca pode ocorrer depois de pedido formal feito à prefeitura, pelo Comitê Memória, Verdade e Justiça, para exigir o cumprimento da Lei Municipal 5.280, de 6 de janeiro de 2014, que proíbe homenagens de torturadores com nomes em endereços e prédios públicos, aprovada pela Câmara Municipal.
Entre as sugestões, está a troca do nome do general pela da artista Lídia Baís. Mas nem a presença de um nome feminino parece ter sensibilizado os moradores.
"Colocar nome de homem ou mulher não significa nada. Eles tinham que priorizar a nossa segurança, saúde e educação. Isso sim é mudança", diz Cássia Rodrigues, dona de um brechó na avenida há 28 anos.
A moradora Neide Rodrigues, de 52 anos, sofre mesmo é pelo abandono que encontra nas ruas da cidade. "Ao invés de mudar o nome tinha que ajudar esses moradores que dormem em baixo da ponte. Mas resolvem formar uma polêmica por algo que aconteceu no passado e não vai fazer diferença agora".
Marcia Cristaldo, de 53 anos, não diz sim ou não, mas define a ideia como insignificante. "Só acho que deveriam priorizar outras questões na nossa cidade. Essa não é a primeira rua que vai homenagear pessoas como ele. Se for mudar uma, teria que mudar todas, o certo seria mudar a nossa educação, para conhecer os reflexos de uma ditadura e então tentar fazer um futuro diferente".
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