Estado tem a segunda maior população indígena do país e 11 cidades não atingiram nem 70% de vacinação contra Covid-19.
Até esta terça-feira (23), apenas duas cidades de Mato Grosso do Sul bateram a meta de vacinação contra Covid-19 em indígenas que vivem em aldeias. No Estado com a segunda maior população indígena do Brasil, em um mês e cinco dias, 11 cidades ainda não vacinaram nem 70% deste grupo prioritário.
Assim, Bela Vista, a 324 km de Campo Grande, foi o primeiro município a atingir a meta de vacinação. Em 9 de fevereiro a gestão municipal já havia imunizado todo o público-alvo e agora todos os indígenas da cidade já foram vacinados. Isto porque são 113% de índice de imunização.
Então, a segunda — e última até o momento — a vacinar toda a meta de indígenas que vivem em aldeias é Caarapó, com 101% de vacinados. Apesar de ter batido o público-alvo, existem 206 pessoas deste grupo de risco que ainda não foram imunizadas. De acordo com os dados da SES (Secretaria de Estado de Saúde), o município possui exatamente a mesma quantidade de doses das vacinas ainda disponíveis.
São utilizados como recorte as primeiras doses aplicadas, que equivalem o total de vacinados. Os dados utilizados na reportagem foram publicados no Portal Mais Saúde, pela SES. Assim, 28.510 indígenas já receberam a primeira dose no Estado e 16.404 a segunda.
Dos 79 municípios de MS, 29 receberam doses para vacinarem indígenas que vivem em aldeias. Foram encaminhadas vacinas suficientes para imunizar toda a população que vive nessas comunidades. Ou seja, as cidades possuem unidades capaz de vacinar além da meta de 90%.
Vacina para todos os indígenas
Apesar de integrarem o grupo de pessoas que já estão sendo vacinadas contra o coronavírus, a totalidade de indígenas não foi abraçada. Assim, em vista do cenário crítico da pandemia nesta comunidade, a Justiça determinou que moradores de aldeias urbanas sejam incluídas na vacinação em MS.
A recomendação 01/2021 do MPF (Ministério Público Federal) determina que a União cadastre todos os indígenas localizados em áreas urbanas, ou em contextos urbanos, no Estado. Assim, o processo deverá ser feito por meio da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) e o Dsei (Distrito Sanitário Especial Indígena) de MS.
Indígenas que não vivem em aldeias ou territórios indígenas também devem ser cadastrados. O processo deverá possibilitar a vacinação deste grupo prioritário em totalidade. Para o presidente do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), Dom Roque Paloschi, a situação vai além do descaso público.
“O critério adotado demonstra racismo institucional, uma vez que define como indígenas apenas povos que vivem em aldeias de terras indígenas homologadas, ignorando os povos que vivem em contexto urbano que, segundo dados do Censo IBGE, de 2010, são cerca de 46% da população indígena no Brasil”, disse. Assim, a relação de vacinados e doses recebidas deverá ser divulgada até às 22h de cada dia.
Alvo de preconceitos
Desde o início da campanha de vacinação contra Covid-19, quando indígenas que vivem em aldeias foram considerados prioridade para o PNI (Plano Nacional de Imunização), o grupo foi alvo de preconceitos. Nas redes sociais, desde piadas sem graça até mesmo a palavra de ódio foram direcionadas a comunidade. A situação escancara o descaso e indiferença com indígenas e obriga a relembrar porque, afinal, indígenas estarão à frente na imunização contra a Covid-19.
A médica infectologista, Mariana Croda, explica que os povos indígenas sempre foram prioridades nos planos de imunização do país. Diante de uma pandemia, portanto, a situação não seria diferente. Isso porque os indígenas são historicamente mais vulneráveis que os não-indígenas e, inclusive, compreendem campanhas de vacinação próprias.
“Eles são considerados uma população vulnerável a doenças respiratórias. São mais propensos a morte por doenças respiratórias do que os não-indígenas. Eles não têm muito contato com os não-indígenas e, quando têm, qualquer vírus se espalha rapidamente entre eles”, comentou a médica.
“Diante da pandemia da Covid-19, os moradores das aldeias acabaram sendo expostos até três vezes mais que a população não-indígena”, explicou. A infectologista também pontua que, desde que o SUS (Sistema Único de Saúde) existe, o Programa Nacional de Imunização sempre priorizou os indígenas nas campanhas de vacinação.
“Inclusive, eles devem tomar a vacina pneumocócica [23 valente], que não tem para o restante da população”, disse. Vale lembrar que, na primeira campanha de vacinação contra a Influenza H1N1, os povos de terras indígenas também foram prioridade.
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