Arqueóloga de 80 anos tenta achar o homem mais antigo das Américas em Itaboraí
Maria Beltrão limpa rochas encontradas no Parque Paleontológico de São José, em Itaboraí, onde sua equipe está desde novembro fazendo escavações em busca de fóssil humano de dois milhões de anos. / Foto: Thiago Freitas

Imagine se tudo o que você sabe sobre a ocupação humana no planeta mudasse após uma grande descoberta. Reconhecida mundialmente como precursora da arqueologia no Brasil, a arqueóloga Maria Beltrão, de 80 anos, comanda desde novembro passado uma escavação no Parque Paleontológico de São José, em Itaboraí. O objetivo é tentar encontrar um fóssil de dois milhões de anos, que seria do homem mais antigo das Américas.

O que pode parecer loucura para muitos cientistas, para ela é perfeitamente possível. A aventura atrás desse elo perdido começou nos anos 70, quando Maria Beltrão, junto com um grupo de paleontólogos, encontrou na mesma região objetos confeccionados por mãos humanas. Os artefatos eram semelhantes aos localizados no continente africano, e que têm dois milhões de anos.

— Para que as pessoas entendam o tamanho da importância desse parque, aqui já foram encontrados objetos e animais de, praticamente, todas as eras nas quais o homem habitou a Terra. Eu respeito muito esse lugar e a riqueza que ele pode oferecer para a humanidade — explicou a cientista: — Numa possibilidade, digamos, remota de não se encontrar um sítio arqueológico com tantas informações como este, na África, é possível dizer que o berço da humanidade foi aqui — arrisca a arqueóloga.

Se tiver êxito, a escavação de Maria Beltrão pode derrubar uma tese até agora incontestável: a de que o homem pôs os pés pela primeira vez nas Américas há cerca de 30 mil anos. E outra: a de que a raça humana começou a habitar a Terra na África. Por enquanto, o fóssil humano mais antigo encontrado no Brasil tem 11.800 anos.

— Encontramos esse fóssil numa expedição, na década de 70, em Lagoa Santa, Minas Gerais. Eu fazia parte da equipe da arqueóloga francesa Annette Laming-Emperaire. Agora, é a vez da minha equipe encontrar um tesouro. Muitos não acreditam, mas nunca errei. Quando a gente achar o homem pré-histórico, o mundo inteiro vai querer conhecer e eu estarei feliz da vida em casa.

Dedicação ao passado

Apesar da longa estrada, Maria Beltrão não pensa em parar. Atualmente, ela vai três vezes por semana ao acampamento no Parque Paleontológico, em Itaboraí. Mesmo com uma equipe só de seis pessoas e uma área de mais de 1.500 metros quadrados para ser escavada, ela não perde o pique:

— É um lugar muito grande e com uma riqueza de informações gigantesca. Somente nas primeiras escavações já conseguimos encontrar artefatos que indicam a existência de seres humanos em períodos remotos.

Nascida em Macaé, no Norte Fluminense, Maria Beltrão é doutora em arqueologia e geologia. Estudou na França e no Brasil, e trabalha como arqueóloga há 55 anos. Mãe da jornalista Maria Beltrão, apresentadora da GloboNews, ela também é responsável pela escavação num sítio arqueológico no município Central, na Bahia.

O subsecretário de Meio Ambiente de Itaboraí, André Pereira, acredita na chance de se encontrar um homem pré-histórico no parque:

— Esse trabalho da Maria Beltrão só valoriza o nosso município e acaba atraindo outros pesquisadores e visitantes para conhecerem o parque. Para que as escavações fossem feitas, tivemos que criar um caminho até a parte mais alta do sítio arqueológico. Estamos confiantes de que ela possa encontrar esse fóssil humano.