A Meta 1 do Todos Pela Educação (TPE) é garantir que todas as crianças e jovens de 4 a 17 anos estejam na escola.
Porém, a Educação brasileira continua falhando em universalizar o ensino, principalmente no nível Médio: de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo IBGE, em 2013 apenas 83,3% dos jovens brasileiros de 15 a 17 anos estavam na escola.
Quando se trata da conclusão dos estudos, os dados também são alarmantes: de acordo com a mesma pesquisa, apenas 71,7% dos adolescentes de 16 anos completaram o Ensino Fundamental e somente 54,3% dos jovens de até 19 anos se formaram no Ensino Médio.
A universalização do Ensino Médio é a meta 3 do Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado em junho de 2014.
De acordo com o plano, o País terá de aumentar para 85% a taxa líquida de matrículas na etapa, até 2016. Mas garantir o acesso não basta. O PNE também determina que será preciso enfrentar o desafio de tornar a escola mais atrativa para os jovens.
As origens do atraso
Segundo especialistas, os baixos percentuais de conclusão das etapas na idade certa podem ser explicados por alguns motivos.
Entre eles, a dificuldade que os alunos encontram a partir dos Anos Finais do Ensino Fundamental em manter o fluxo escolar, já que muitos acabam reprovados ao final do ano. A repetência deriva, muitas vezes, de defasagens de aprendizagem provenientes de anos anteriores.
Devido a esse atraso escolar, os alunos acabam chegando cada vez mais velhos às etapas seguintes de ensino, o que os desmotiva a continuar estudando, e leva boa parcela dos jovens a abandonar a escola no Ensino Médio.
Dado esse contexto, muitos deles enxergam na Educação de Jovens e Adultos uma alternativa para completar os estudos de forma mais rápida sem terem de frequentar uma escola onde são mais velhos do que a maioria dos outros alunos.
Com alta taxa de evasão, o Ensino Médio é um desafio para a Educação brasileira. Roberto Catelli, coordenador da unidade da Educação de Jovens e Adultos da organização não governamental Ação Educativa defende que a evasão acontece já nos Anos Finais do Ensino Fundamental, tendência que se acentua na etapa seguinte de ensino.
De acordo com ele, “a partir dos 12 ou 13 anos começa a haver uma evasão da escola regular, iniciando nessa faixa etária e se entendendo até o final da Educação Básica”.
Tufi Machado Soares, doutor em Educação e coordenador da unidade de pesquisa do Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação (Caed), da Universidade de Juiz de Fora, aponta que a defasagem de aprendizagem proveniente do Ensino Fundamental e o fracasso escolar são elementos determinantes para a redução da frequência escolar dos jovens.
“Há um atraso forte, uma defasagem elevada e isso faz com que boa parte dos alunos já entre no Ensino Médio com dificuldades em aprender; o Ensino Médio requer saberes anteriores que muitas vezes o Ensino Fundamental não deu conta”, afirma o professor.
Leonardo de Melo, 18 anos, diz que deixou a escola aos 17 anos, quando cursava a primeira série do Ensino Médio.
“Com essa idade, eu já tinha repetido duas vezes, então fui parando de estudar”, ele diz. Depois de completar 18 anos, Leonardo retomou os estudos na EJA, onde está cursando a primeira série do Ensino Médio novamente.
“Há um atraso forte, uma defasagem elevada e isso faz com que boa parte dos alunos já entre no Ensino Médio com dificuldades em aprender; o Ensino Médio requer saberes anteriores que muitas vezes o Ensino Fundamental não deu conta”, afirma o professor Tufi Machado Soares, da Universidade de Juiz de Fora
Para Ricardo Henriques, superintendente do Instituto Unibanco e conselheiro do movimento Todos Pela Educação, “a evasão não é opção neutra do aluno; ela é estimulada por uma escola que não produz vínculos de atratividade para alguns perfis de jovens”.
De acordo com ele, há muitos estudantes “desencantados” com a escola, sendo necessário “trazer para a pauta de discussão com os jovens a importância de continuar estudando e por que isso seria vital para a sua mobilidade social e construção de projetos de vida no futuro”.
O PNE, com vigência até 2023, estabeleceu como meta que o aprendizado dos alunos esteja adequado à idade; fomentando, assim, melhorar a qualidade de toda a Educação Básica e o fluxo escolar.
Ingresso na vida adulta
Para Tufi, outro elemento que causa a evasão escolar de boa parcela dos jovens é o ingresso no mercado de trabalho.
De acordo com o professor, “devido ao atraso, eles acabam alcançando os 18 anos durante o período escolar, idade que representa um ponto de mudança na vida do jovem; muitos deles são pressionados a trabalhar para complementar a renda familiar, adiando a conclusão dos estudos naquele momento”.
“A evasão não é opção neutra do aluno; ela é estimulada por uma escola que não produz vínculos de atratividade para alguns perfis de jovens”, diz o conselheiro do movimento Todos Pela Educação, Ricardo Henriques
Aos 12 anos, Uker Elgueta, de 20 anos, estudante da 3ª série do Ensino Médio em um curso de EJA, já começou a trabalhar com o irmão em uma microempresa de estampa de camisetas; cerca de cinco anos depois, com quase 18 anos, assumiu o negócio da família.
O estudante acredita que o trabalho possa ter afetado os estudos no dia a dia; “acho que foi pelo emprego também o motivo de eu ter faltado muito na escola”, relata.
Leonardo, atualmente desempregado, também entrou cedo no mercado de trabalho, aos 16 anos. Jovem aprendiz, ele trabalhava como auxiliar de serviços gerais em uma empresa, “mesmo não tendo a necessidade de ajudar meus pais, mais por prazer mesmo; mas depois, além de comprar coisas pro meu consumo próprio, trazia dinheiro pra casa”, conta.
Ensino descolado da realidade
Em 2008, uma alteração na Lei de Diretrizes de Bases (LDB), de 1996, determinou que as disciplinas de Filosofia e Sociologia fossem incluídas no currículo do Ensino Médio, totalizando 13 matérias.
Devido à base curricular extensa e conteúdos muitas vezes descontextualizados em relação ao cotidiano e à vida do estudante, muito se discute sobre uma reforma na modalidade, buscando criar maior identificação do jovem com a escola.
Segundo Tufi Machado, a quantidade de disciplinas e a falta de aplicação para a vida do jovem gera uma não identificação com a escola.
De acordo com o pesquisador, “o problema do Ensino Médio está no currículo, porque é muito ligado à universidade e espera que o aluno aprenda muitas coisas não ligadas à sua realidade”.
Nessa lógica, ignoram-se os diversos desejos dos alunos, como o de partir para o mercado de trabalho logo após a escola. Também não se dá a ele a chance de escolher o que deseja estudar com mais ênfase.
Desde criança, Leonardo sonha ter uma oficina de peças e acessórios para automóveis; para ele, esse antigo desejo é o maior motivador para voltar a estudar.
“Quando eu acabar o Ensino Médio na EJA, pretendo iniciar meus estudos em mecânica, fazer algum curso profissional que me dê esses conhecimentos porque eu sempre tive muita vontade de aprender sobre isso”, ele conta.
“Mesmo não tendo a necessidade de ajudar meus pais, [comecei a trabalhar] mais por prazer mesmo; mas depois, além de comprar coisas pro meu consumo próprio, trazia dinheiro pra casa”, conta o estudante Leonardo, de 16 anos, que sonha em voltar a estudar e ter uma oficina de peças e acessórios para automóveis
Para abranger essas diferentes necessidades, “a Educação profissional pode ser um caminho para o jovem, não somente o mais relacionado à universidade”, afirma Tufi.
Na opinião do professor, é preciso fazer uma revisão e uma atualização do Ensino Médio de acordo com a demanda desses jovens. Para atender a demanda de aprendizagem do aluno com perfil trabalhador, aumentar a oferta de Educação Profissional no nível médio até 2020 é a meta 11 do PNE.
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