Nelsinho Junior foi campeão estadual em sua estreia em competições; atual número 3 do Brasil é uma revelação do Morro do Borel, no Rio de Janeiro.
Nelson da Silva Junior, o Nelsinho, era um menino agitado e que gostava de arrumar "encrenca" com os colegas de rua e de colégio. Morador do Morro do Borel, na Zona Norte do Rio, ele não sabia o que seria do seu futuro até conhecer o boxe. Apresentado à nobre arte por Uidson Ferreira, que mantém projeto social na comunidade, Nelsinho começou a tomar gosto pelo esporte ao descobrir o seu potencial. Em 2024, ele começou a competir e já conquistou seu primeiro título logo na estreia.
Surpreendendo a todos, Nelsinho se sagrou campeão estadual cadete do RJ (categoria 75kg) aos 15 anos. Meses depois, o adolescente faturou o bronze no Brasileiro, também na divisão cadete. Atual número 3 do Brasil na sua faixa etária, Nelsinho, agora com 16 anos, já vislumbra um caminho de glórias no esporte. Uma vida bem diferente da que teve seu pai. Preso por tráfico em 2010, o pai de Nelsinho já cumpriu pena, hoje mora na comunidade e é um de seus maiores incentivadores no esporte.
- Comecei no projeto Boxe do Borel aos 7 anos, e o meu pai me apoiou desde o início. Ele sempre me falou para seguir em frente, já que era isso que eu queria. Nossa relação é bastante boa. Nunca tivemos discussão ou coisa do tipo. Ele sempre gostou de me ver praticando esporte, de estar num bom caminho. Nunca pensei em algo errado, de roubar algo de alguém, de entrar para o crime ou algo do tipo. O esporte foi a solução para a minha vida - diz Nelsinho.
Nelsinho é uma dentre as dezenas de crianças e adolescentes que treinam no projeto Boxe do Borel. Comandado pelo treinador e ex-atleta Uidson Ferreira, que já cumpriu pena por assalto e porte ilegal de arma, o projeto social aposta no boxe como forma de mostrar novos caminhos aos jovens.
- Além do esporte, onde eu ensino a disciplina da arte marcial para eles, eu passo um pouco da minha experiência de vida. Realmente tive uma vida bem conturbada, e eu levo esse exemplo a eles para que eles não possam tropeçar nas mesmas pedras que eu tropecei - conta Uidson.
Lapidado pelo seu treinador, Nelsinho passou a viver rotina de atleta de alto rendimento nos últimos meses. Como estuda, trabalha numa empresa de festas e faz serviços de jardinagem e pintura, o jovem boxeador tem que conciliar os treinos e competições com escola e trabalho. Em meio à sua rotina, tem encontrado tempo para treinar de quatro a seis horas por dia.
Além das atividades no Boxe do Borel, Nelsinho utiliza a estrutura da Academia Delfim, no mesmo bairro. Professor de boxe e muay thai no local, Uidson tem acompanhado o pupilo de perto com a ajuda do técnico cubano Lazaro Yoel.
- Eu vejo o Nelson como campeão mundial até os 25 anos . Com 13 anos eu vi potencial nele, com 15 ele foi campeão estadual e com 16, terceiro lugar no Brasileiro. Eu vejo ele com potencial de estar nas Olimpíadas já em 2028. A gente está falando aqui de um diamante que está sendo lapidado - resume Uidson.
Família numerosa
Nelsinho mora com os pais e os irmãos. São tantos os irmãos que o jovem boxeador até se perde na hora da falar sobre a família.
- Acho que são oito - diz Nelsinho, rindo.
Zelosa com o garoto, a mãe costuma acompanhá-lo nos treinos. Principal incentivadora no atual momento, ela chegou a ficar insegura ao ver o filho praticando um esporte de tanto contato físico.
- Minha mãe ficou meio receosa no começo, mas agora ela está vendo o que eu fiz e está me apoiando bastante. Ela tem visto a minha dedicação e tem me acompanhado nos treinos. Isso é bom, porque me motiva - comenta.
Ainda em fase de crescimento, Nelsinho não faz nenhum tipo de alimentação especial. Pesando normalmente 71kg, ele só pretende mudar de categoria quando o seu corpo evoluir para uma de peso acima.
- Eu pretendo continuar na categoria 75kg até quando der. Depois que o meu corpo falar que tem que subir, eu vou subir e correr atrás mesmo assim - afirma.
Fã de Popó, Mayweather e Mike Tyson
Questionado sobre suas inspirações no boxe, Nelsinho elegeu três nomes bastante conhecidos como seus principais ídolos no esporte.
- (Acelino) Popó, (Floyd) Mayweather e Mike Tyson. Essas são as referências para mim. Quero chegar onde eles chegaram ou ir até mais alto. Gosto muito do Popó pelo carisma e simplicidade. O Mayweather é fantástico e o Mike Tyson dispensa comentários - analisa.
Por ora, Nelsinho sabe que ainda tem um longo caminho a percorrer para realizar o seu sonho. Enquanto isso, ele vai aproveitando o momento de fama para usar o seu exemplo e levar mais crianças do Borel para o esporte.
- Depois que eu comecei a competir, muitos moleques passaram a se interessar pelo boxe. Espero que mais e mais crianças venham treinar com a gente daqui para frente. O boxe pode me levar bastante longe. Espero dar um futuro melhor para a minha família e ter uma vida financeira estável e boa. E ser campeão mundial, é claro.
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