
Em continuidade ao material divulgado ontem falando sobre o uso de drogas pelos caminhoneiros na intenção de se manter acordado e cumprir prazos para entrega de mercadorias, o Dourados News foi a dois pontos utilizados por profissionais na região para ouvi-los sobre o assunto.
A maioria afirmou não fazer o uso das diversas substâncias ‘estimulantes’, mas a afirmação é contestada por dois entrevistados que relatam que muitos dos motoristas devem recorrer a alguma droga para resistir dias no comando do volante.
Em depoimento a nossa equipe que optou por preservar a identidade dos profissionais, um deles disse ter ficado 56 horas diretas acordado na direção.
“Isso acontecia sempre. Eu saia de Campo Grande para Belém (PA) e tinha horário para cumprir. Como o produto era perecível, tinha que ‘botar’ para acelerar. O patrão cobrava também, se não desconta do frete né?!”, contou.
Ele cita que para dar conta da extensa jornada fazia uso de rebite diariamente. “Para aguentar toda noite eu tomava. Era o jeito”, comenta. A droga citada é bastante utilizada por profissionais no meio. Produzida em laboratório, geralmente a base de anfetamina, serve como estimulante.
O caminhoneiro conta que não há dificuldade para encontrar o entorpecente. “Em qualquer posto na beira da estrada encontra”, relatou.
Quanto aos efeitos da droga, ele cita de maneira comparativa a um equipamento, o mal que sentia. Ainda de acordo com ele, há alguns meses parou de recorrer ao rebite e se sente aliviado.
“Com o tempo eu fiquei parecendo uma máquina de arroz, dá uma tremedeira muito grande, acelera o coração e em longo prazo sabemos que ele prejudica muito a saúde. Eu usei quatro anos, até o ano passado, agora estou em outra empresa que respeita o horário de trabalho. Foi por isso que troquei de emprego, pois eu saia ou eu morria, então opinei pela minha vida”, finalizou.
Outro profissional relata o uso de rebite várias vezes ao dia e afirma que com a droga ficava até sete dias seguidos sem dormir.
“Já cheguei a ficar uma semana seguida acordado quando transportava carne. Garanto que tem caminhoneiros que ficam até mais que isso. Para conseguir eu usava muito rebite, cheguei a tomar um número de oito por dia”, conta.
Segundo ele, muitos recorrem a drogas mais fortes. “Tem muita gente que usa coisa mais forte como cocaína, mas, aí vai de cada um”, ressalta.
Quanto aos efeitos, ele fala da inibição do apetite e do pós-uso que traz uma canseira incontrolável. “Quando usava, não comia, fiquei bem magro, só trabalhava. Quando a gente é empregado tem que trabalhar para faturar. Nisso, já cheguei a ter que parar o caminhão com urgência para deitar na cama e daí dar um alívio para continuar”, afirma.
O caminhoneiro conta que a droga era encontrada bem facilmente, mas, que agora a situação mudou um pouco. “Antes vendia até em algumas farmácias, hoje está mais controlado”, finaliza.
Ele afirma que já não recorre mais ao entorpecente para trabalhar e que se sente bem melhor. “Hoje trabalho por conta e não preciso mais disso. Faço meu horário e estou bem melhor, até engordei um pouco”, finaliza.
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