Casal gay afirma ter sido agredido e xingado por policiais militares após beijo em público
Magno mostra o rosto inchado. Ele afirma ter sido agredido pelos policiais da ROCAM por beijar o amigo. / Foto: Arquivo Pessoal

Dois universitários afirmam que foram agredidos com tapas e xingamentos por policiais militares da Ronda Ostensiva Com Apoio de Motocicletas (ROCAM) de Olinda, na Região Metropolitana de Recife, em Pernambuco. Segundo Magno Paim, de 21 anos, ele e Hector Zapata, de 22 anos, estavam em um bloco, próximo ao Mercado da Ribeira, quando foram abordados pelos policiais.

A príncipio, os agentes revistaram os rapazes e fizeram perguntas de praxe. Mas ao notarem que os dois formavam um casal e continuaram a se beijar após a abordagem policial, retornaram e começaram a agredi-los.

— Inicialmente, a abordagem já foi truculenta, mas era carnaval, a gente acaba entendendo. Perguntaram "Vocês têm baseado aí?", olharam nossa bolsa, etc. Aí continuamos no local, nos beijamos. Acho que foi isso, o fato de a gente não ter se intimidado. Foi quando eles voltaram e disseram que a gente era “puto”, que aqui não é a Bahia, que não é lugar de “viado”. Aí deram um tapa no meu rosto. Começaram a dizer palavras de ordem e as pessoas começaram a nos ajudar. O Hector e um amigo foram perguntar o nome deles, aí pronto. Algemaram o meu amigo, dizendo que era desacato, e levaram ele para a delegacia — relata Magno, que havia chegado naquele dia à cidade para passar o carnaval com os amigos.

Depois de liberaram o amigo dos rapazes, os policiais foram com Magno e Hector até a Delagacia de Plantão de Casa Caiada, onde os jovens fariam um boletim de ocorrência. Ao chegar lá, foram informados de que precisavam ir até a Central de Flagrantes de Recife. Eles seguiram até o local na viatura dos policiais. Ao chegar lá, mais uma “surpresa” desagradável: enquanto aguardavam atendimento, os rapazes passaram de vítimas a acusados.

— Quando fomos chamados, era já para responder. Eles fizeram um boletim contra a gente, acusando a gente de atentado ao pudor. Disseram que estávamos nos masturbando. A gente só tinha que responder se era sim ou não. “No momento, é só para vocês responderem”, disse o escrivão lá. Nosso amigo também foi chamado acusado de desacato, por ter chamado eles de homofóbicos, racistas. Disseram ainda que ele gritou que ia “f* os policiais”. Um absurdo.

Após darem depoimento, Magno e Hector foram encaminhados ao Instituto Médico Legal para o exame de corpo de delito. Ao retornarem à Central de Flagrantes para registrar a queixa, foram informados de que o caso não poderia ser registrado “por ter acontecido em Olinda”.

— Quando fomos fazer o nosso boletim, disseram que não era possível fazer, porque os policiais já tinham ido embora e para registrar a queixa precisa de todos os presentes. Não conseguimos fazer o boletim de ocorrência. Disseram que não seria possível fazer porque o caso aconteceu em Olinda, mas os policiais conseguiram fazer. Eles foram lá e disseram que tinham levado a gente, quando fomos nós que pedimos para ir até a delegacia — reclama Magno.

Os amigos só foram liberados por volta das 7 da manhã desta quinta. Agora, pensam em fazer o boletim de ocorrência em Olinda e entrar com um processo.

— Ainda estamos vendo direito que medida tomar. Vamos registrar, senão vai ficar só a versão deles. Mas vamos processar a Polícia, ou o Estado, ainda estamos vendo isso. E aguardando o ofício da Justiça para responder pelas acusações dos policiais.

A reportagem entrou em contato com as policias Civil e Militar de Pernambuco, mas as corporações ainda não se pronunciaram sobre o caso.