Choque entre placas tectônicas deu origem a ladeiras em cidade do Acre
Grandes ladeiras podem ser vistas na segunda maior cidade do Acre / Foto: Anny Barbosa/G1

"Vou descer até o Centro". A frase pode parecer força de expressão, mas para quem mora na segunda maior cidade do Acre, Cruzeiro do Sul, faz todo sentido. Conhecido por suas grandes ladeiras, o município sempre é alvo de piadas. As ondulações das ladeiras da cidade, inclusive, já inspiraram músicas de artistas da região.

Algumas de suas ladeiras foram batizadas com nomes inusitados pelos próprios moradores. Quem passar pela cidade, pode conhecer a Ladeira do Bode, da Remela e até o famoso Morro dos Quibes. E não há como não se impressionar com suas subidas íngremes pelos morros.

Um dos mais altos é o Morro da Glória, localizado na região central. O local é considerado pelos cruzeirenses como cartão postal, pois muita gente sobe para tirar fotos da Catedral, monumento histórico da cidade.

O nome é uma homenagem à padroeira Nossa Senhora da Glória, que teve a primeira igreja construída no alto do morro por arquitetos alemães na década de 1930.

Tanto sobe e desce tem explicação. E, segundo o engenheiro agrônomo e doutor em ciência do solo Edson Alves de Araújo, da Universidade Federal do Acre (Ufac), a terra cruzeirense sofreu modificações até tomar como forma as enormes curvas.

O professor explica que a resposta para a formação do relevo ondulado pode ser encontrada no Peru, país que faz fronteira com o Acre. Isso porque, de acordo com Araújo, a formação geológica seria resultado do choque entre duas placas tectônicas: a de Nazca e a Sul-Americana, fenômeno que deu origem ainda à Cordilheira dos Andes, cerca de 4 milhões de anos atrás.

“Nossa região não possuía essa formação ondulada. Tratava-se de uma área aplanada, uma antiga planície, que, por conta das mudanças climáticas, alternância entre o clima frio e seco, houve esse esculpimento da área. O motivo dessas ladeiras serem tão grandes é justamente porque o solo é mais fácil de ser penetrado pelas águas por ser um material arenoso”, conta Araújo.

O professor disse ainda que a região do Acre era toda tomada pelo mar até o choque das placas tectônicas, que deram origem à Cordilheira dos Andes e a formação do solo se iniciou.

“Toda essa extensão era mar, era mar correndo de leste a oeste. Do Amazonas até o Acre. Com a colisão das placas, houve um levantamento da cordilheira, o que provocou o surgimento da terra, sendo esculpida pelas águas”, finaliza.