Questionado, treinador mudou o sistema de jogo de Coudet, resgatou jogadores e já pensa em vaga direta para a Libertadores.
Onde estaria o Internacional se jogasse dessa forma desde o começo do Campeonato Brasileiro? É uma daquelas perguntas sem resposta, mas que ganha força após a vitória de 3 a 1 no São Paulo, no Morumbis.
O jogo é a comprovação do ótimo segundo turno do Colorado. Foi a quarta vitória consecutiva no Brasileiro, período invicto que já supera um mês e pode ser maior ainda se o Inter vencer o jogo atrasado contra o RB Bragantino, na quarta-feira. Seria a prova que o Inter briga por vaga para a Libertadores.
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O grande nome da reconstrução é Roger Machado. Questionado por ser ídolo gremista e o histórico de trabalhos sem sequência recentemente, o treinador não começou bem e perdeu jogos considerados fáceis, como contra o Atlético-GO. Quebrou a cabeça para achar um time titular.
E finalmente encontrou. A equipe da sequência invicta tem Alexandro Bernabei, que fora dispensado por Eduardo Coudet, como dono da lateral-esquerda. Com a saída de Bustos na direita, Bruno Gomes ganhou a vaga. Roger deu espaço a Gabriel Carvalho e oficializou Valencia no banco e Borré como dono da vaga de centroavante.
Saída de bola sustentada, com Bernabei muito móvel
O Inter de Roger tem como característica colocar a bola no chão a bola no chão e sair da defesa ao ataque com passes e aproximações. Os dois laterais têm liberdade para buscar a bola dos zagueiros, sendo que Bernabei é o mais móvel: gosta de jogar pelo centro e tabelar com Alan Patrick, Gabriel e até Borré.
Fernando não participa tanto. Em sua volta ao Brasil, o ex-City participa pouco da troca de passes. Thiago Maia e Alan Patrick buscam se movimentar num setor à frente do de Bernabei. Se movimentam nas costas da marcação para receber o passe e já começar a movimentação de ataque, como na imagem abaixo.
Os treinadores chamam esse tipo de saída de “sustentada'. O nome diz: a ideia é dar sustento para quem tem a bola e sempre ter uma ou duas opções de passe. O Inter sai bastante assim, procurando muito os lados - e com uma esquerda forte. Quando Maia, Patrick e Bernabei combinam, a bola costuma chegar bem na área.
O DNA das triangulações
Depois dessa saída sustentada, o Inter ataca e gasta a bola de um jeito específico: com triangulações. O DNA desse Inter é tocar a bola sempre em grupos de três: na esquerda, Bernabei, Wesley e Alan Patrick se aproximam para dar apoio e sustentar o companheiro. Quem toca a bola ultrapassa e já vai para a área.
Bernabei ganhou espaço justamente pela força na ultrapassagem e mobilidade para conduzir e chegar na área. Ele é a principal peça de saída e construção por aquele lado.
E na direita? O mesmo acontece. Quem chega com a bola dominada espera dois companheiros se aproximarem. Depois da aproximação, eles tocam a bola de volta e vão entrando na área. Até Borré sai da área e participa dos passes curtos. Para não deixar a área vazia, Roger gosta que o outro ponta entre na área (movimento que ele chama de “fechar o lixo') e Alan Patrick tem bastante liberdade para chegar, se movimentar, buscar a finalização ou o passe qualificado.
Chegada na área com tabelas e muita velocidade
Com uma saída móvel e muitas triangulações, o Inter chega na área para finalizar de forma rápida. Nem sempre todo mundo chega: Roger prende mais o lateral Bruno, Fernando e Thiago Maia também ficam mais presos. Bernabei e o quarteto ofensivo se soltam e buscam se movimentar para quebrar a defesa do rival. Esse lance, contra o Cuiabá, é um exemplo.
Defesa compacta e mais sufocante fora de casa
Ao defender, o Inter de Roger tem dois modos:
Dentro de casa No Beira Rio, o time se posta num 4-4-2 sem a bola e busca fechar espaços do adversário no próprio campo. A marcação é num campo médio, sempre buscando deixar o adversário que tem a bola bem sufocado. Assim, se rouba, Borré pode ser acionado no contra-ataque ou o time volta e busca reconstruir do modo que você leu acima.
Fora de casa A forma que Roger Machado encontrou para o Inter não oscilar tanto como antes é uma mudança na forma de marcação. O grande exemplo é o segundo tempo contra o São Paulo no Morumbis: mesmo sem a posse da bola, o Inter foi mais agressivo e pressionou na frente. Thiago Maia exerce papel fundamental, sendo uma espécie de meia junto aos pontas. A pressão garantiu o segundo gol do Colorado.
A desconfiança do torcedor colorado com Roger ainda não foi totalmente ultrapassada. Afinal, estamos falando de um importante ídolo gremista. A saída do Juventude também causou um certo estranhamento.
Como treinadores gostam de falar, o “campo fala'. E fala bem de Roger. O segundo turno do Colorado é exemplar e mostra que o treinador, quase dez anos depois de se tornar um dos mais promissores técnicos da nova geração brasileira, pode fazer bons trabalhos em clubes de expressão como Inter. Ainda mais num momento tão complexo, pós-enchente.
A vaga na Libertadores seria a remoção das bocas tortas e voto de confiança que Roger merece. Quem diz? O próprio campo e as atuações do Inter.
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