Contribuições da Fiocruz à sociedade serão foco da nova presidente
Os planos de administração da primeira mulher a ocupar o cargo de presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em 116 anos de história da instituição já estão traçados. Inicialmente, Nísia Trindade quer botar em prática os dez pontos que sustentaram a sua campanha à presidência da Fiocruz, em novembro de 2016, e que a levaram ao primeiro lugar, com 59,7% dos votos. Em segundo ficou a pesquisadora Tânia Araújo-Jorge, com 39,6%. A equipe de vice-presidentes na nova gestão já está definida.
Segundo Nísia, os temas abordados durante a campanha envolvem, entre outros pontos, a defesa do Sistema Único de Saúde [SUS], do sistema de ciência e tecnologia aplicado ao desenvolvimento sustentável, a todo o recurso ao campo da vigilância em saúde, da pesquisa transnacional, da atenção com qualidade. "Nós vamos também trabalhar na visão de como a Fiocruz pode contribuir para aprofundar a cidadania, o acesso à saúde, ao desenvolvimento científico e tecnológico e à renovação do país”, afirmou em entrevista à Agência Brasil.
Pesquisas
A doutora em sociologia, pesquisadora, professora e servidora da Fiocruz desde 1987 lembrou que as contribuições da instituição no campo de pesquisas ocorrem em várias áreas do conhecimento, incluindo prevenção, tratamento e promoção da saúde em relação a diversas doenças. Para ela, atualmente o grande desafio da fundação é trabalhar tanto com as doenças infecciosas quanto com as crônicas que, com o envelhecimento da população, representam preocupação cada vez maior e um grande tema de saúde pública. “A Fiocruz vem fazendo movimento para pesquisas nessas áreas, como também em câncer, doenças cardíacas e cardiovasculares e o diabetes”, completou.
Sífilis
Nísia Trindade citou ainda a importância das pesquisas sobre malária, de imunologia, áreas que, segundo ela, têm avançando bastante. A professora lembrou que outra preocupação atual é o aumento nos casos de sífilis no país. Dados do Ministério da Saúde indicam que de 2014 a 2015 houve crescimento de 32,7% nos casos de sífilis adquirida em adultos, 20,9% em gestantes e 19% das infecções por sífilis congênita, transmitida pela mãe ao bebê. “É um campo altamente importante, em que a Fiocruz tem que se desenvolver nas diversas áreas da pesquisa clínica e nos protocolos de atenção, colaborando com a rede de saúde. Um trabalho integrado e coordenado que quero reforçar na minha gestão para responder aos desafios sanitários do país”, afirmou.
Orçamento
A nova presidente da Fiocruz disse ainda que a questão de orçamento é uma das dificuldades da instituição diante do quadro de crise financeira do país. Para ela, a aplicação de recursos em pesquisas e em saúde pública não pode ser considerada gasto, mas investimento.
“Deve ser visto como investimento no futuro do país. É impossível pensar em uma saída, mesmo considerando a atual crise econômica, a saída nunca pode ser sufocar a atividade de ciência e tecnologia, principalmente no campo da saúde que é essencial na vida das pessoas”.
De acordo com Nísia, a capacidade de resposta que a Fiocruz, o Ministério da Saúde, as instituições de ciência e tecnologia e as pesquisas nas universidades conseguiram dar foi resultado de um esforço sistemático e de financiamento às pesquisas. “Além de termos um sistema único de saúde atuando em todas as frentes, desde a vigilância até a produção de fármacos e vacinas. Ou seja, é muito importante que tenhamos um setor público forte nessas áreas para dar as respostas que a sociedade precisa ter e para pensarmos no futuro do Brasil”, acrescentou.
Cortes
A redução orçamentária de 2015 para 2016, segundo Nísia Trindade, levou a instituição a buscar captação de recursos externos e atuar no Ministério da Saúde, no programa de parcerias de desenvolvimento produtivo, que permite a evolução de produtos farmacêuticos e a incorporação de tecnologia aos laboratórios públicos. Apesar disso, destacou que é fundamental garantir condições para o financiamento público no Brasil para atividades de ciência e tecnologia e de saúde. Na estratégia de medidas de economia e de maior eficiência nas ações do Ministério da Saúde, o caminho é discutir com todas as secretarias do órgão para ajustar metas e resultados.
Vice-presidentes
A posse da nova presidente da Fiocruz está marcada para o próximo dia 23. Depois de publicada, na semana passada, no Diário Oficial da União, sua indicação ao cargo, um dos primeiros atos foi homologar os nomes dos ocupantes das cinco vice-presidências da Fiocruz. Ela disse que a equipe é de alta qualidade, formada por pesquisadores dos quadros da fundação. “Vamos iniciar o trabalho com muita disposição e com uma equipe de vice- presidentes bastante integrada e de alta qualidade técnica e de compromisso com o sistema de saúde e com a ciência e tecnologia”.
Gestão compartilhada
Nísia afastou qualquer possibilidade de gestão compartilhada com a candidata que ficou em segundo lugar na eleição, como chegou a ser divulgado na imprensa. Ela lembrou que houve uma composição para atuar na vice-presidência em torno de uma questão programática. “Não existe gestão compartilhada. Isso é impossível. A Fiocruz tem uma só presidência. Com todo respeito à candidata às eleições, agora não há mais campanha e é impossível qualquer ideia de gestão compartilhada. A Fiocruz tem uma gestão participativa. Isso é o aspecto central, da gestão participativa, com o conselho, com o congresso interno. Então, é isso que vai pautar a minha gestão”, afirmou.
A presidente informou que sua equipe inclui pessoas que estavam em uma relação indicada pela pesquisadora Tânia Araújo-Jorge e que isso já ocorreu após outros processos de eleição na Fiocruz. “Estou trabalhando pela unidade da instituição, a eleição acabou, a campanha acabou e com todo respeito ao conjunto de trabalhadores e servidores e à comunidade científica, aos movimentos sociais que acompanharam esse processo e ao Ministério da Saúde, porque a Fiocruz precisa realizar o seu trabalho, é importante dizer que não há possibilidade de uma duplicidade de liderança. Isso seria inviável”, acrescentou, negando que tenha havido uma proposta do governo nesse sentido.
“Não houve nenhuma proposta, quer do Ministério da Saúde ou da presidência da República, com essa orientação”.
Primeira mulher
Nísia Trindade disse que é uma emoção muito grande ser a primeira mulher a ocupar a presidência da Fiocruz, uma instituição na qual a maioria do quadro de servidores é de mulheres (56%) e também no número de pesquisadores (60%). Para ela, o cargo representa também uma responsabilidade com as ações afirmativas de valorização das questões de gênero e de equidade. “Não basta só me sentir orgulhosa com essa posição. É importante que eu tenha essa perspectiva de inclusão da equidade, da visão sobre as relações de gênero e de saúde e também da promoção das mulheres em cargos de representação na nossa sociedade”, destacou.
“Faz parte da abordagem da questão de gênero e feminina pensar uma sociedade que possa estar mais pautada por valores de mais afetividade e solidariedade e de trabalho com compromisso, sempre pensando nessa dimensão da equidade. Acho que esse é um projeto de homens e mulheres que querem um mundo mais justo, uma sociedade mais justa e instituições democráticas”.
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