Criança diz que pulou de prédio ao notar que estava só: "Tava com medo"

A garota de 4 anos que caiu da janela de um apartamento no Setor Aeroporto, em Goiânia, foi ouvida na sexta-feira (23) pela Polícia Civil. A criança, que aranhou o nariz, braços e joelhos após uma queda de aproximadamente seis metros, disse que resolveu pular do edifício ao notar que estava sozinha no imóvel. "Eu sabia que era alto. [Mas resolvi pular] porque tava com medo, a porta tava trancada (sic)", disse.

A menina contou que olhou no apartamento, mas não encontrou ninguém. "Eu procurei no quarto, na sala, na outra sala que tinha televisão. Eu falei assim: 'Eu vou sair fora daqui'. Não vi ninguém, eu pensei em pular a janela, aí eu caí. [Pensei em pular] para achar qualquer pessoa e não achei", recorda.

O fato aconteceu na madrugada de quinta-feira (22), em um apartamento que fica no 1º andar do prédio. Após a queda, ela foi levada para o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), mas como não teve nenhuma fratura, a garota recebeu alta médica na manhã do mesmo dia.

A menina estava na casa de dois amigos do pai, Charle Ferreira da Silva, de 31 anos, que é gerente de um lava a jato. Separado da mãe da criança, que mora em Anápolis, ele deixava a filha no local das 4 às 7 horas para poder trabalhar. Em seguida, ela era levada para uma creche. O homem que cuidava dela afirmou que a deixou sozinha por cerca de dez minutos para poder entregar um celular ao colega.

A criança disse que já chegou a passar algumas noites no local onde o pai trabalhava. "Os amigos do meu pai me proibiram de dormir lá no trabalho dele. Eu já dormi lá", conta.

Segundo as investigações, os dois homens recebiam R$ 50 por semana para cuidar da menina. Charle diz que essa foi a única alternativa que ele encontrou para a situação. "Fui obrigado a arranjar alguém e foram as únicas pessoas que me deram essa força, porque eu não encontrei ninguém", afirma.

De acordo com o pai, no dia que o fato ocorreu, era apenas a segunda vez que a criança ficava no local. "Serve de aprendizado. Pode ser uma falha humana, mas no momento a gente não imagina. Fiquei surpreso porque nunca imaginei me deparar com essa situação", lamenta.

Investigação

O caso está sendo investigado pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) da capital. Segundo a delegada Marcella Orçai, a hipótese de tentativa de homicídio está descartada. Ela já ouviu testemunhas e aguarda o resultado da perícia e dos exames na menina para concluir o inquérito.

Segundo ela, existe a possibilidade de o homem que estava cuidando da criança ser responsabilizado judicialmente pelo que aconteceu.

"A princípio, o abandono de incapaz, que é crime no artigo 133 do Código Penal. É quando você tem a responsabilidade por essa criança ou alguém que não possa por si só cuidar dela e você negligencia e deixa essa pessoa sozinha", explica.