Crianças com menos de 1 ano que comem amendoim têm menos risco de desenvolver alergias
Alergia ao amendoim afeta 1 em cada 50 crianças em idade escolar / Foto: Getty Images

Um estudo realizado no Reino Unido indica que o consumo controlado de amendoins dentro dos primeiros 11 meses de vida reduz em 80% o risco de desenvolver alergia a esse fruto em crianças com alto risco de tê-la. A pesquisa, elaborada por cientistas do King's College London e divulgada nesta terça-feira (24), convida a revisar os atuais guias de saúde, que aconselham evitar o consumo de amendoins para prevenir as alergias.

Este novo enfoque demonstra que a exposição controlada aos amendoins entre os quatro e os 11 meses de vida se traduz em uma redução de mais de 80% do risco de alergia aos cinco anos, em crianças com perfil de alto risco por já apresentar eczema ou alergia à proteína do ovo.

Os cientistas, liderados por Gideon Lack, diretor do departamento de alergia pediátrica em King's College London, apontam que esta premissa — conter o desenvolvimento de alergias com a exposição controlada ao produto — poderia ser aplicada a outras além da do amendoim, embora seriam necessários novos estudos.

Os especialistas dizem em seu artigo que as alergias aos alimentos aumentaram de forma destacada na última década, tanto no Reino Unido e nos Estados Unidos como em países da África e Ásia. Atualmente, a alergia ao amendoim afeta uma em cada 50 crianças em idade escolar no Reino Unido e entre 1% e 3% das crianças da Europa ocidental, EUA e Austrália.

Este tipo de alergia surge cedo e não costuma desaparecer com os anos, além de não existir cura, o que complica a vida das crianças e dos pais. Para realizar seu estudo, os especialistas fizeram um acompanhamento de 640 crianças de 4 a 11 meses de vida do hospital infantil Evelina de Londres, que eram consideradas com risco de desenvolver alergia ao amendoim por padecer de eczema ou já sofrer alergia ao ovo.

Metade dessas crianças consumiram alimentos que continham amendoim três vezes por semana — nunca o amendoim inteiro, pois não é recomendado para menores de cinco anos por risco de sufoco —, enquanto a outra metade deveria evitar o amendoim até os cinco anos.

Menos de 1% das crianças que consumiram amendoim desenvolveram alergia aos cinco anos, frente a 17,3% dos que estavam no grupo no qual foi evitado o contato com esse fruto, o que equivale a uma redução do risco de mais de 80% com a exposição a esse alimento. Salvo por 13 crianças do primeiro grupo que não puderam comer amendoins por já mostrar uma reação alérgica forte, a maioria dos participantes do estudo "tolerou bem" e de maneira segura a introdução antecipada de produtos com amendoim.

Lack ressaltou que este novo estudo "é um passo importante" que "transgride as palavras de ordem atuais" e que convida a introduzir novas recomendações para os pais. O especialista advertiu, no entanto, que os pais de crianças com risco de desenvolver alergia não devem experimentar por sua conta, mas devem buscar a assessoria de especialistas.

Lack também apontou que seria preciso fazer estudos específicos com crianças, já que muitos bebês mostram fortes reações alérgicas ao amendoim, pois estes foram excluídos do estudo divulgado hoje. Os autores da investigação planejam manter o controle dos participantes para ver se a proteção à alergia continua em anos posteriores e inclusive se é mantida quando deixam de consumir alimentos com amendoim durante um ano.