Em 12 de janeiro, um grupo de artistas da Suíça se viu enredado em um problema legal. Um dia após o encerramento da mostra “The darknet — From memes to onionland”, representantes do Ministério Público na cidade de St. Gallen confiscaram o trabalho que havia sido exposto pelo !Mediengruppe Bitnik nos três meses anteriores. Os agentes procuravam, especialmente, um dos itens comprados pelo Random Darknet Shopper, a estrela da mostra.
Com US$ 100 por semana, o software autônomo desenvolvido pelos artistas havia adquirido produtos aleatórios em uma loja da deep web, parte sombria da internet onde é impossível rastrear os usuários. Entre eles, dez comprimidos de MDMA, droga derivada do ecstasy, devidamente exibidos na galeria.
Por US$ 48, a droga foi enviada pelo correio a partir da Alemanha. Selado a vácuo, o conteúdo chegou numa embalagem de DVD. O representante do Ministério Público sugeriu então que, nas próximas exposições, os comprimidos sejam substituídos pela ordem de confisco. Domagoj Smoljo, um dos fundadores do coletivo, diz avaliar a proposta.
— É um pouco óbvio que não podem nos devolver as pílulas. Logo, nos deparamos com um problema artístico. De certa forma, sem elas, o trabalho não está completo — diz ele, que aguarda o julgamento para saber o destino da obra.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Em nota divulgada no dia 15, o tom é um pouco mais duro. “O que significa para uma sociedade quando os robôs agem de forma autônoma? Quem é responsável, quando um robô quebra a lei por iniciativa própria? Essas foram algumas das principais questões que o Random Darknet Shopper levantou.”
— Artisticamente, o tópico da inteligência artificial está se tornando uma realidade. Não era nosso principal objetivo, mas alguns jornalistas se interessaram pelo trabalho por esse aspecto. A ideia do Random Darknet Shopper envolve diversos aspectos éticos, não só legais. Afinal, vivemos em uma sociedade em que drones autônomos e robôs do mercado financeiro são cada vez mais comuns — avalia Smoljo.
Baseado em Londres e Zurique, o !Mediengruppe Bitnik usa a tecnologia como matéria-prima para a arte. Versados nos algoritmos e códigos de programação, seus artistas costumam hackear e modificar equipamentos. A intenção, explicam, é reinterpretar os mecanismos que permeiam o cotidiano. Os holofotes da mídia e das autoridades voltaram-se ao grupo pela primeira vez quando, em 2008, ele substituiu imagens de câmeras de vigilância em Londres por vídeos com convites para jogar xadrez.
Eles contam que, durante a exposição mais recente, foram procurados por jornalistas de diferentes países interessados no software consumista. Para eles, o interesse deriva do fato de a deep web, tão diversa quanto complexa, ainda causar certo frisson. Os itens comprados pelo robô, de certa forma, refletem essa amplidão. Na experiência, foram adquiridos pares de tênis da Nike, um molho de chaves-mestras para portões do Reino Unido, uma câmera escondida em um boné, uma lata de Sprite com fundo falso e até audiobooks de “O senhor dos anéis”.
— A deep web é interessante porque tem uma estrutura encriptada. É um local sem vigilância. E, para nós, isso é muito atraente — opina Carmen Weisskopf, também fundadora do grupo.
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