DNA de fera! Semifinalista do goalball é irmã de joia do The Voice Brasil 3
Descrição da imagem: ajoelhada, Simone agradece a Deus pela vitória sobre a Ucrânia / Foto: André Durão

Um das seis mulheres da história do goalball brasileiro a estar em uma semifinal paralímpica, depois da vitória desta quarta-feira, sobre a Ucrânia por 10 a 0, Simone Rocha teve um leque de possibilidades para não fazer parte do elenco, que luta pela inédita medalha para o Brasil nestes Jogos do Rio. Ligada à arte desde pequena, a camisa 1 da seleção tem em seu currículo passagens pelo torball (esporte similar ao goalball), atletismo e até pela música, antes de decidir focar na modalidade da bola azul.

Aos 40 anos, Simone é a irmã mais velha de Edu Camargo, integrante do Time Lulu na exibição do realitty show da TV Globo, The Voice Brasil 3, programa que disputou o prêmio até o antepenúltimo episódio e tratado como uma das melhores vozes.

Os dois nasceram têm a mesma deficiência, o glaucoma congênito. Simone passou por três cirurgias e um transplante, que não deu certo. Aos 12, ficou completamente cega. No início da década de 90, a música os aproximou. Chegaram a formar uma dupla e ensaiar. Não durou muito, a palco de Simone era outro.

- Não manjo muito (gargalhada), melhor ele. Fiz bem em escolher o goalball. Fui eu que trouxe o instrumento musical para dentro de casa. mas foi ele que me ensinou a tocar. Eu fazia aula de violão, e ele me via treinar. Enquanto eu estava no meu ré e lá, ele tirava todas as notas. Só que ele não conseguia tocar, pois era bem pequenininho e os dedos não alcançavam os traços. Então, ele me falava o local de colocar os dedos, e a música surgia. Achava aquilo o máximo. É um gênio, a música nasceu no sangue dele, ele ama aquilo que faz, faz com alma, respira música - afirmou a jogadora, que não chegou a ir assistir às apresentações, mas gravou um vídeo de apresentação com Edu, cantando "Sonho Encantado" da banda brasileira Yahoo.

Em 1994, as mãos substituíram os microfones pela bola. Simone virou atleta de torball. Mas, a falta de prosseguimento do esporte no país fez com que a paulistana passasse a dividir seu tempo entre goalball e o atletismo. Nas pistas, competiu na Paralimpíada de Atenas, em 2004 nas provas dos 100m e 200, classe T11 (cegueira total), onde fora concorrente da amiga e espelho Ádria Santos.

- Tenho muito carinho por ela, é muito carismática. Quando a vi correndo e conheci sua história, me encantei. Ádria largou a família, a cidade, em uma época que ainda não se pagava bem. Veio para o Rio de Janeiro para se dedicar mais ao esporte, para treinar com mais intensidade, mais qualidade, em uma equipe mais preparada, achei aquilo fantástico. Ela me deu a dimensão que muitos não conseguem enxergar. A gente enxerga as vitórias do atleta, mas não a renúncia que ele faz para alcançar as coisas. Sempre admirei muito ela por isso e pela pessoa que ela é, até para as concorrentes. Achava aquilo fantástico.

Veio o Parapan do Rio e a escolha da cidade para ser sede da Paralimpíada de 2016. Os investimentos aumentaram, e Simone precisou escolher um caminho. Ela optou pelo goalball, modalidade que pratica integralmente desde 2008.

- Comecei no esporte paralímpico há 22 anos, o investimento ainda não era como hoje, a dedicação dos atletas ainda não era em tempo integral, então, a gente ia para todas as modalidades. Acabei conseguindo me dar bem no atletismo, por um tempo, como no goalball. Mas, chega uma hora, que para alcançar a excelência em alguma coisa, você precisa decidir.

E nesta quarta-feira, Simone teve a comprovação da escolha acertada que fez. Ao lado de Victoria e Ana Paula, ela foi titular e peça fundamental na inédita classificação do Brasil à semifinal do goalball, para a alegria do irmão Edu e da família, que acompanham as partidas pela internet.

- Ele está em São Paulo torcendo por mim em todos os jogos. Ele é o cyber da casa e fica acompanhando pela internet, mostrando para minha mãe. Lá em casa é a "Grande Família" (alusão ao programa da TV Globo). Somos eu, meu marido, meu filhote, minha mãe, meu pai, minha avó e meu irmão. Meu marido (Ricardo) e meu filhote (Thiago) estão aqui.

Simone e suas companheiras vão tentar outro feito e chegar à sonhada final. A partida será contra as chinesas, vice-campeãs paralímpicas em 2008 e 2012, às 15h (de Brasília), na Arena do Futuro.