Relatório sobre última reunião de política monetária do banco central dos EUA deve dar pistas sobre próximo aumento de juros.

Dólar cai e ronda R$ 5,16 com alívio de tensão na Ucrânia e ata do Fed no radar
Real tem sido beneficiado por fluxo de investimentos favorável. / Foto: Anna Nekrashevich/Pexels

O dólar recua nesta quarta-feira (16), mantendo uma tendência das últimas semanas com um fluxo favorável de investimentos estrangeiros reforçado pelo alívio nas tensões entre Ucrânia e Rússia. O foco do dia, porém, é a ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve, que deve indicar os próximos passos no movimento de alta de juros nos Estados Unidos.

Por volta das 9h21, a moeda norte-americana caía 0,35%, a R$ 5,161. O contrato futuro do dólar de primeiro vencimento negociado na B3 avançava 0,05%, a R$ 5,161.

Na terça-feira (15), o dólar fechou em queda de 0,75%, a R$ 5,18. Já o Ibovespa subiu 0,82%, aos 114.828,18 pontos, maior patamar desde 15 de setembro de 2021.

Na terça-feira, o Ministério da Defesa da Rússia afirmou que algumas tropas localizadas próximas à Ucrânia estão retornando para suas bases. O ministro de Relações Exteriores, Sergei Lavrov, sugeriu que Moscou deveria continuar na trajetória diplomática para resolver as tensões.​

Uma possibilidade maior de invasão da Ucrânia pela Rússia – com uma resposta dos Estados Unidos e aliados – aumenta a aversão a riscos dos investidores e leva à busca pelo dólar.

O cenário ainda não supera, porém, os benefícios para o real e para o Ibovespa de um ciclo de migração de investimentos para mercados ligados a commodities, com o Brasil beneficiado também pelos juros altos, que limita os efeitos das apostas em uma política de alta de juros agressiva pelo Federal Reserve.

O ciclo está ligado, em partes, a expectativas de mais medidas pró-crescimento na China, enquanto pressões econômicas baixistas persistem, estão aumentando as esperanças de uma recuperação na demanda por metais, disseram analistas, o que leva a altas nos preços.

No caso do petróleo, analistas do Goldman Sachs afirmam que os preços do petróleo Brent devem superar os US$ 100 por barril neste ano. Segundo eles, o mercado de petróleo continua em um “déficit surpreendentemente grande' já que o efeito da variante Ômicron do coronavírus na demanda pela commodity é, até agora, menor do que o que era esperado. Além disso, as tensões na Ucrânia fazem os preços subirem, já acima dos US$ 90.

Outro fator que pesa nesse movimento é a expectativa de alta de juros nos Estados Unidos já no mês de março, de 0,5 ponto percentual, reforçada por dados de inflação levemente acima do esperado e de queda nos pedidos de auxílio-desemprego divulgados na quinta-feira.

Com isso, investidores estrangeiros têm saído do mercado de ações norte-americano e migrado para outros vistos como mais resilientes ou baratos.

Qualquer alta de juros no país, porém, pode afetar os investimentos no Brasil, já que torna os títulos do Tesouro norte-americana ainda mais atrativos para os investidores, pressionando negativamente o real.

Nesse sentido, estará no radar a divulgação nesta quarta-feira da ata da última reunião sobre juros dos Estados Unidos, em fevereiro. Com a inflação americana batendo recorde em quatro décadas, o Fed vem dando indicações mais duras aos mercados, mas não está claro o tamanho e ritmo do aperto que o banco central americano fará, e a ata pode dar mais pistas.

Brasil
Na agenda doméstica, os olhos estão na agenda do presidente Jair Bolsonaro em Moscou. O governo diz que o motivo da viagem é o fortalecimento das relações comerciais do Brasil com a Rússia, já que o agronegócio nacional depende do fornecimento de fertilizantes da região.

No radar dos investidores também está a chamada PEC dos Combustíveis, que permitiria a suspensão de impostos para esses produtos. Representando um possível descontrole de gastos, o tema tem potencial para afetar negativamente o real e o Ibovespa.

Segundos projeções da equipe econômica do governo, a perda de arrecadação pode chegar a R$ 100 bilhões na proposta mais abrangente, passando por R$ 54 bilhões no texto atualmente apoiado pelo Planalto e por R$ 18 bilhões caso o projeto se limite ao diesel.

Duas PECs sobre o tema já foram protocoladas, uma no Senado e outra na Câmara. Uma delas envolveria renúncias fiscais para reduzir o preço dos combustíveis.

À CNN, o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou que a PEC dos Combustíveis não é o foco no momento, já que a Casa vai analisar dois projetos de leis sobre o tema que devem retirar elementos da proposta. A votação deve ocorrer nesta quarta-feira.

Um dos PLs determina um valor fixo de cobrança do ICMS para combustíveis, com o tributo estadual deixando de variar seguindo flutuações de preço do produto, e expande o chamado vale-gás para famílias brasileiras. Segundo a analista de política da CNN Basília Rodrigues, o projeto deve valer inicialmente apenas para o diesel.

Já o outro criaria um fundo de estabilização do preço do petróleo e derivados (diesel, gasolina e GLP), com uma nova política de preços internos de venda para distribuidores.

O Banco Central fará neste pregão leilão de até 15 mil contratos de swap cambial tradicional para rolagem do vencimento de 1° de abril de 2022.