A afirmação é do economista e diretor da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Márcio Sette Fortes.

Economista avalia riscos e oportunidades do agro brasileiro na pandemia
Alguns países têm freado a saída de gêneros agrícolas exportáveis em função do abastecimento de seus mercados internos, informa o diretor da SNA, Márcio Sette Fortes. / Foto: Pixabay

Os desdobramentos da crise do Coronavírus na economia e, particularmente, no comércio exterior, propiciam um cenário de grandes oportunidades, apesar de alguns obstáculos no agronegócio exportador.

A afirmação é do economista e diretor da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Márcio Sette Fortes.

Segundo ele, o comércio exterior será um fator relevante para impulsionar a recuperação da economia brasileira e global.

No entanto, Fortes reconhece que há contratempos trazidos pela própria crise que podem afetar resultados mais positivos, como a questão da segurança alimentar no contexto mundial.

"Alguns países têm freado a saída de gêneros agrícolas exportáveis em função do abastecimento de seus mercados internos", destaca o economista. Por outro lado, ele acrescenta que isso representa uma oportunidade para o Brasil.

"O País poderá suprir, com alguns gêneros agrícolas, à exceção do trigo, os canais abertos por seus concorrentes".

Nesse cenário, Fortes menciona como exemplos a Rússia, "que travou exportações de trigo", e os Estados Unidos, "onde plantas de carnes industrializadas sofreram revezes, por conta da infecção de funcionários, parando de produzir e sinalizando a possibilidade de desabastecimento interno".

No caso do Brasil, o diretor da SNA afirma que "há enormes riscos no horizonte do agronegócio".

Soja, milho e combustíveis
Ao analisar as cadeias de soja e milho, Fortes afirma que o volume recorde e a contratação da safra para venda futura são promissores.

Porém, diz ele, "os problemas quanto ao preço começam quando há perspectiva de safras maiores daqueles dois tipos de grãos nos Estados Unidos, o que deve ser o caso do corrente ano".

Além disso, destaca o economista, "a guerra de preços entre Arábia Saudita e Rússia que derrubou o valor do barril de petróleo, criou a tempestade perfeita ao conjugar-se com um cenário de demanda reduzida por combustível em um ambiente de lockdown mundial".

Fortes observa que a redução no consumo de combustível afeta fortemente a produção de etanol que, nos Estados Unidos, é gerado a partir do milho.

Nesse contexto, segundo ele, "uma guinada na produção de mais soja e menos milho afetaria diretamente o Brasil".

Ao comentar o acordo comercial entre China e Estados Unidos, Fortes admite que essa relação "privilegia as exportações dos Estados Unidos como nosso concorrente direto".

Para ele, a redução do consumo de combustível no Brasil e, por consequente, de etanol de cana-de-açúcar, encontra à frente "uma esplendorosa safra de cana que deixa os usineiros em situação delicada".

Segundo o economista, "o natural endividamento prévio e desencaixe monetário para a produção poderá demandar a necessidade de deságio para a execução das vendas, ocasionando uma forte quebra de expectativa no payback (tempo de retorno de um investimento) da operação".

Incentivos
Fortes afirma que as soluções a serem pleiteadas pelos usineiros são conhecidas e, certamente, envolverão a demanda por incentivos fiscais.

"A desoneração de contribuições incidentes sobre o etanol (Pis/Confins) e/ou, ainda, a elevação da Cide Combustíveis sobre a gasolina, para incentivar o etanol como alternativa, parecem demandas prováveis".

Porém, o diretor da SNA ressalta que "um menor consumo de gasolina corresponde a uma redução na produção de petróleo e, eventualmente, na produção de gás, e isso poderá levar a uma provável falta de gás no mercado".

Seja como for, complementa, "a ajuda governamental não pode deixar de contemplar, igualmente, o produtor rural".

Fortes também chamou a atenção para o fato de que, com a boa oferta de etanol e a falta de demanda pretendida, há o risco de um deslocamento da produção para aumentar o volume de açúcar produzido, "o que poderá afetar negativamente o preço futuro dessa commodity".

Câmbio
Por fim, o especialista destaca que a recente posição do câmbio vem garantindo aos exportadores do agronegócio uma remuneração atraente.

"A valorização do dólar desde o início da crise produziu um câmbio que chega a compensar até as perdas dos preços internacionais de commodities agrícolas em baixa".