O novo presidente do Sindicato Rural de Campo Grande, que assume o cargo a partir de março, conversou com o Correio do Estado sobre os desafios e as prioridades da gestão para o triênio 2025-2027.
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O engenheiro agrônomo José Eduardo Duenhas Monreal assumirá a presidência do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho (SRCG) para o triênio 2025-2027.
Em entrevista ao Correio do Estado, o experiente produtor rural falou sobre os desafios e as prioridades de sua gestão.
Natural de Mirandópolis (SP), Monreal está em Mato Grosso do Sul desde 1988 e reafirmou o seu compromisso de ser um interlocutor dos produtores da região junto ao Executivo estadual e municipal.
Ainda, ele discorreu sobre temas como a sustentabilidade no campo, a rastreabilidade bovina, a adoção de tecnologias e a qualidade da carne. Confira a entrevista a seguir.
Quais são as suas principais propostas para fortalecer a pecuária em Campo Grande?
O SRCG tem como premissa buscar a produtividade e a melhoria do ambiente no campo. Então, as partes ambiental e social são uma prioridade para o sindicato. Isso passa desde a questão produtiva da propriedade rural – como reformas das pastagens e a introdução de novas variedades – até o treinamento de mão de obra nas fazendas, buscando melhorias para o atendimento médico e odontológico aos nossos associados.
Como o sindicato pretende apoiar os pequenos e os médios produtores para aumentarem a sua competitividade?
Temos vários grupos que atuam com demandas dos pequenos, dos médios e também dos grandes produtores. Por exemplo, a questão da melhoria da energia, temos feito vários trabalhos em conjunto com a concessionária para que isso seja melhorado.
Ainda, tem a questão do crédito rural. Vamos buscar melhorias para que o produtor rural tenha acesso ao crédito com prazo, com investimento, para que ele possa fazer os investimentos. Então, isso passa desde melhores sementes até irrigação, até o manejo de pastagem. Todo esse aspecto é contemplado nessas portas do sindicato rural.
Qual o principal gargalo na infraestrutura rural da região e o que é preciso para melhorar?
Na verdade, existem vários, e a gente não pode elencar apenas um. Por exemplo, a logística das estradas é uma demanda forte que o setor tem em função de chuvas que prejudicam as estradas, e essas vias precisam ser melhores para escoar a produção. Além disso, é claro, tem todo o aspecto de produtividade, de preço, então não é um gargalo só, mas são várias situações, várias demandas que precisam ser atendidas.
Como o sindicato pode ajudar os pecuaristas a obterem melhores preços e acesso a novos mercados?
Nós temos, junto aos nossos associados, um sistema de informação para que o produtor associado tenha acesso aos preços. Isso já ajuda bastante no sentido de ele, na hora, fazer a comercialização. Então, com esse nível de informação semanal que nós temos, por meio do preço dos frigoríficos, nós temos uma pessoa específica para coletar preços e saber as escalas. Com isso, o produtor aumenta o seu nível de informação e consegue melhores valores. Isso é uma das demandas que nós temos atendido e evoluído nesse aspecto.
Qual a sua visão sobre a utilização de tecnologia e inovação na pecuária, como a rastreabilidade e o melhoramento genético?
Isso é muito importante e já vem sendo feito. E a tendência é melhorar, é aumentar esse aspecto. No melhoramento genético, por exemplo, vários sumários [catálogos] de touros auxiliam o produtor a escolher melhor o seu reprodutor. Temos aplicativos para smartphone que podem ajudar o produtor a saber o porquê de ele pagar R$ 50 em uma dose de sêmen e em outra ele pagar R$ 20.
Então, esse aspecto da tecnologia e dessa difusão com a Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária] e outros órgãos de melhoramento facilita a vida do produtor para que ele possa ter mais acesso à informação e conseguir melhorias em seu rebanho.
Como equilibrar o crescimento da pecuária com a preservação ambiental?
Isso é uma premissa que o produtor traz com ele, no sentido de que a pecuária tem um sistema de preservação. Ela é sinérgica no sentido de fazer preservação e sustentabilidade.
O produtor rural, quando ele faz o CAR [Cadastro Ambiental Rural] – que praticamente todas as propriedades de Mato Grosso do Sul já têm –, contempla essa questão de sustentabilidade e respeita o meio ambiente na produção de gado de corte ou de leite. Enfim, todos os processos das cadeias estão contemplados nesse sentido da sustentabilidade.
O sindicato tem planos para incentivar práticas sustentáveis como a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o manejo rotacionado?
Temos vários aspectos que já estão sendo feitos por meio dos cursos que nós ministramos aqui no SRCG, por meio do Senar-MS [Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso do Sul].
Nós temos uma parceria, e essa questão de sustentabilidade e novas premissas de acordo com as regras ambientais é muito bem acompanhada e implementada aos nossos alunos quando eles vão para o campo.
É um treinamento de mão de obra tanto para o trabalhador rural quanto para o técnico de campo, e eles recebem esse treinamento e têm toda essa informação, no sentido de poderem colocar em prática ações sustentáveis para o nosso meio ambiente.
Qual a sua posição sobre a certificação de carne sustentável e o seu impacto no mercado?
Para o produtor rural, isso tem um custo, mas ele pode lá na frente ter os benefícios dessa prática, uma vez que os mercados mais exigentes, como a Europa, têm essa premissa de trazer uma carne identificada na sua origem.
Então, muitos produtores rurais já fazem essa identificação animal, fazem isso por meio de brinco, bóton, etc. Isso vem ao encontro do anseio que os produtores já fazem. Para o produtor rural, a médio e a longo prazos, isso vai resultar em melhores condições de comercialização do gado.
Como pretende lidar com as pressões ambientais internacionais sobre a pecuária brasileira?
Essa é uma questão que o produtor rural [sul-mato-grossense] acompanha e que vem buscando mostrar para o mundo que a nossa pecuária é sustentável. Tanto em números quanto em fixação de carbono,
em todos esses aspectos de produção e produtividade a nossa pecuária evoluiu muito.
Em MS, nós temos o Programa Novilho Precoce, que mostra que um animal jovem ajuda a fixar carbono. Em termos de sustentabilidade, a nossa pecuária está pronta para isso.
Há algum projeto para incentivar o uso eficiente de recursos como água e solo nas fazendas?
Existem vários programas – até com crédito bancário – que contemplam essas práticas sustentáveis, como a conservação do solo, [o uso de] curvas de nível, a reforma de pastagens, a implementação de novas forrageiras, as quais são desenvolvidas pelo Embrapa, para que o produtor tenha uma melhor produtividade.
E a questão do CAR, bem, ele também traz essa premissa de preservar as matas ciliares, as nascentes. Tudo isso aliado ao CAR e à nossa legislação, que é bastante completa e engloba todas essas premissas, o produtor está adequado e pronto para fazer isso – e ele já vem fazendo.
Quais serão as principais pautas do sindicato com os governos estadual e federal?
O SRCG tem como pauta trazer as premissas dos produtores no sentido de buscar a representatividade do setor. A questão de preço, crédito, seguro agrícola, crédito para irrigação, hortaliças, o cinturão verde de Campo Grande, enfim, todas essas pautas são buscadas por meio do sindicato rural.
Aliás, isso tudo é contemplado nas nossas reuniões e junto ao governo, que tem uma sensibilidade bastante importante com o setor, tanto municipal quanto nacionalmente, e nós vamos ter com certeza um diálogo muito bom para que essas pautas sejam atendidas.
Existe um diálogo aberto com outras entidades do agronegócio para fortalecer a representatividade do produtor rural em MS?
Sim, temos parcerias com a Famasul, o Senar-MS, a ABPO [Associação Pantaneira de Pecuária Orgânica e Sustentável], a Associação Sul-Mato-Grossense dos Produtores de Novilho Precoce, a Assumas [Associação Sul-Mato-Grossense de Suinocultores], etc.
É por meio dessas parcerias com o SRCG e pela nossa sinergia que aumenta muito a força do setor, para que a sociedade entenda a importância do produtor rural para a produção de alimentos e para a segurança alimentar do Brasil e do mundo.
Como o sindicato pode ajudar na capacitação de pecuaristas e trabalhadores rurais?
O sindicato tem uma parceria com o Senar-MS, com um grupo bastante importante, com cursos técnicos que são realizados em nossa entidade – o que gera uma mão de obra qualificada para cada setor: silvicultura, agricultura, pecuária, etc. Temos anualmente, por meio dos cursos profissionalizantes do Senar-MS, colocado no mercado profissionais aptos a melhorarem a produtividade do campo.
Temos também o [evento] Interagro, que traz essas inovações, esses caminhos e atalhos, que o produtor rural precisa ter para poder aumentar a sua produtividade, fazer crescer o seu lucro e continuar preservando o meio ambiente.
PERFIL
José Eduardo Monreal
É engenheiro agrônomo e produtor rural e foi eleito presidente do SRCG para o triênio 2025-2027. Com mais de 35 anos de experiência no agro, construiu uma trajetória sólida na pecuária de corte e na produção de cana-de-açúcar.
Tem pós-graduação em Marketing e Comércio Exterior pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) e especializações em Auditoria Ambiental pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) e em Auditoria, Perícia e Gestão Ambiental pelo Instituto de Pós-Graduação e Graduação (Ipog).
Ainda, participou do Programa de Formação de Lideranças do Sistema Famasul (Líder MS), iniciativa voltada ao desenvolvimento de lideranças no setor agropecuário.
Além da sua atuação no campo, trabalhou como extensionista rural, foi consultor em projetos de irrigação e nutrição animal e esteve envolvido em diversas iniciativas voltadas ao fortalecimento do agro.
Há 18 anos, participa ativamente do SRCG, contribuindo para a defesa dos interesses dos produtores e a implementação de programas de capacitação e desenvolvimento do setor.
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