Professores de oito cursinhos de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Fortaleza dizem como a nova ordem afetou o desempenho dos candidatos.

 Enem com redação e exatas separadas ajudou candidatos; professores analisam pontos positivos e negativos
Enem 2017 - segundo dia - prova rosa. / Foto: Reprodução

Separar a prova de redação e a prova de matemática foi a maior vantagem da nova ordem do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Por outro lado, segundo professores de nove cursinhos ouvidos pelo G1, o segundo dia de provas carregado de exatas e biológicas pode ter sobrecarregado os candidatos de cálculos – e até feito os estudantes de escola pública chegarem desmotivados neste domingo (12), ou até desistirem antes da hora.
Gabarito extraoficial e resolução comentada

A partir deste ano, o Enem adotou nova configuração: em vez de provas em dois dias consecutivos (um sábado e um domingo), elas acontecem em dois domingos, com uma semana de separação.
Além disso, a ordem das provas mudou. O primeiro dia virou "100% humanas", com cinco horas e meia para os candidatos resolverem 45 questões de linguagens (português, língua estrangeira, artes e educação física), 45 de ciências humanas (história, geografia, sociologia e filosofia) e redigirem uma redação. Já o segundo dia teve apenas disciplinas de exatas e biológicas: 45 questões de matemática e 45 questões de ciências da natureza (física, química e biologia).

Veja abaixo as vantagens e desvantagens, de acordo com os seguintes professores:

Curso Anglo, São Paulo: Paulo Moraes (diretor de ensino)

Sistema Ari de Sá (SAS), Fortaleza: Ademar Celedônio (diretor de Ensino e Inovações Educacionais e de Ensino Educacional) e Thiago Pacífico (professor de matemática)

Sistema COC de Ensino, Ribeirão Preto (SP): Leonardo Nunes (professor de matemática)

Colégio e Vestibular de A a Z, Rio de Janeiro: Naun Faul (diretor de Ensino)

Curso Etapa, São Paulo: Edmilson Motta (coordenador geral)

Curso e Colégio Objetivo, São Paulo: Elisa Massaranduba (coordenadora pedagógica)

Curso e Colégio Oficina do Estudante, Campinas (SP): Celio Tasinafo (coordenador pedagógico)

Curso Poliedro, São Paulo: Vinicius de Carvalho Haidar (coordenador)

Vantagens
 
Redação e matemática separadas
Elisa Massaranduba, coordenadora pedagógica do Objetivo, diz que os professores do cursinho preferem o novo formato e são favoráveis à manutenção dele nos próximos anos. "Acredito que tenha funcionado. Os professores gostam dessa ordem, acham melhor. É bom que tudo que exija cálculo esteja junto. Não sei como foi para os alunos. Como é uma prova muito longa, inclusive com 45 testes de matemática, muitas vezes é difícil para eles fazerem dentro do tempo estipulado, porque quase todos exigem cálculo em matemática, física, e até química", disse ela.

O principal motivo, segundo ela é ter mais tempo para a prova de redação.

"Eles têm que ter tempo para a redação. Antes, quando tinha matemática junto, eles não tinham tempo para fazer a redação. Agora têm tempo de fazer o rascunho, passar a limpo." - Elisa Massaranduba (Objetivo)
 
Thiago Pacífico, professor de matemática do SAS Plataforma de Educação, disse que separar exatas da redação é positivo porque os alunos costumavam priorizar a redação e deixavam as 45 questões de matemática para o final. "Neste novo formato, o aluno pode se dedicar mais aos cálculos", explicou.

Leonardo Nunes, do COC, concorda. Ele lembra que, no formato anterior, "a prioridade era redação, depois [o candidato] pegava aqueles textos longos [de linguagens] e, quando chegava na hora dos cálculos, começavam os chutes."

Para Naun Faul, diretor de Ensino do Colégio e Vestibular de A a Z, "a maior vantagem foi a redação ter ido para o primeiro dia. Assim, o aluno pode se concentrar mais naquela prova que tem um maior peso no primeiro dia". Ele diz, ainda, que a concentração de cálculos no segundo dia do Enem não fez com que as questões ficassem menos exigentes do que nos anos anteriores.

"O segundo dia continuou com nível de dificuldade elevado, com enunciados longos e interdisciplinaridade nas questões. Acho que ficou mais interessante para os alunos que têm afinidade com determinada área de conhecimento." - Naun Faul (de A a Z)
 
Para Paulo Moraes, diretor de ensino do Anglo, a novidade foi benéfica ao estudante. "Percebemos que a distribuição das provas como aconteceu neste ano favoreceu o estudante, sim. A alternância entre linguagens e redação com humanas, e ciências da natureza com matemática, deixou a prova mais fluida para o estudante."

Descanso entre os dias de prova
Para Celio Tasinafo, da Oficina do Estudante, "o maior benefício desse modelo é a semana ente a primeira e a segunda prova, acabando com a canseira dos dias seguidos". Ele diz que os professores do cursinho aprovaram a nova ordem das provas.

"A organização ficou mais lógica, ainda que nesse primeiro momento os alunos ainda estranhem (reclamando dos textos do primeiro dia e dos cálculos no segundo dia)." - Celio Tasinafo (Oficina do Estudante)
 
"Depois de focar nas partes de humanas, eles têm mais uma semana para focar nas partes de exatas também", complementou Leonardo Nunes, do COC.

Desvantagens
 
Segundo dia ficou mais exigente
Vinicius de Carvalho Haidar, coordenador do Curso Poliedro, diz que dividir a prova em dois domingos ajudou o aluno a descansar, mas a mudança nas disciplina dificultou principalmente a prova do segundo dia, que "ficou mais conteudista".
 

"A mudança na ordem dificultou mais o segundo dia específico, dada que a prova ficou mais conteudista. Cobrou um pouco mais de estratégia do aluno pra conseguir responder a prova a tempo" - Vinicius Haidar (Poliedro)
 
Edmilson Motta, coordenador geral do Etapa, também acha que a mudança na distribuição das disciplinas também complicou a vida dos estudantes.

"Já tínhamos a impressão que a separação das exatas para um dia só ia trazer complicações aos estudantes e isso aconteceu. Ficou muito difícil fazer conta, ler enunciados grandes num dia só. É algo que deveria ser repensado. Questões deixaram de ser respondidas e isso gerou uma insegurança. Virou um desafio que os participantes de modo geral não deram conta." - Edmilson Motta (Anglo)
 
Surpreendeu quem teve pouco preparo

Candidatos que se preparavam sozinhos para o Enem podem ter se prejudicado com o novo formato do exame caso tenham tido dificuldade de preparar um novo modelo de estudos por conta própria, dizem os professores. Mas , para Ademar Celedônio, do Sistema Ari de Sá (SAS), essa mudança não atrapalhou quem se preparou no novo formato desde o primeiro semestre, quando ele foi anunciado.

"Acreditamos que os alunos que fizeram os simulados durante o ano todo não sentiram maior dificuldade na adaptação, entretanto o formato anterior aparentemente era melhor pois havia maior equilíbrio entre as áreas." - Ademar Celedônio (SAS)

Outro problema que o professor Leonardo Nunes, do COC, reparou, foi o quesito desestimulante que a nova organização apresentou. Ele afirmou que alunos da rede estadual do Rio de Janeiro, com quem ele teve contato, passaram a semana sem vontade de tentar o segundo dia do Enem depois de terem tido dificuldade na prova de redação.

Como as questões de humanas são as que mantêm a confiança da maior parte dos estudantes, ir mal no primeiro dia pode fazer com que eles desistam das provas de matemática e ciências da natureza, antes mesmo de tentar.

"Acharam que não tiveram um desempenho legal por causa do tema da redação. Foi um tema muito complicado para os alunos, e aí eles meio que não estavam com muita vontade. Mas a gente estimula, né? Porque não é só uma matéria que determina. É todo o conjunto." - Leonardo Nunes (COC)