A notícia da criação de uma escola exclusiva para o público LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgênero), em Manchester, na Inglaterra, causou polêmica. Responsável pelo projeto, a ONG LGBT Youth North West, lançou uma nota explicando que a proposta não é de criação de um espaço apenas para estudantes LGBTs, mas uma escola inclusiva, aberta para o público em geral, só que especializada no atendimento às diferenças de gênero e sexualidade.
Para o jornal britânico The Guardian, a diretora da organização, Amelia Lee explicou que o objetivo é salvar vidas. Ela argumentou que mesmo com lei contra o bullying homofóbico, a prática é muito comum, levando os jovens ao isolamento e, em alguns casos, ao suicídio. A LGBT Youth North West já administra um espaço onde promove oficinas e cursos. A ideia seria aproveitar o prédio para a escola, inspirada no modelo da Harvey Milk High School, de Nova York.
A escola americana leva o nome de um importante ativista gay, assassinado em 1978. Fundada em 1985, a Harvey Milk High School funciona como uma escola pública desde 2003. Mesmo após anos de funcionamento, a instituição ainda é alvo de polêmicas. Com capacidade para 165 alunos, não alcança a marca dos 100 estudantes e, apesar da proposta inclusiva, o colégio ainda é marcado por ser voltado para um público específico.
Para o sexólogo Claudio Marcos Picazio, escolas com propostas de inclusão devem ter cuidado para não repetir os erros tradicionais - mas pelo lado oposto. “As escolas de modo geral são heteronormativas, se a escola for homonormativa, e apenas aceitar homossexuais, ela cai no mesmo erro.” Picazio ainda teme que instituições diferenciadas na questão da inclusão coloquem as outras em uma situação de comodidade. Ele salienta que todas as escolas deveriam acolher bem os jovens, mas acredita que a experiência pode ser positiva. “Se for um espaço onde não se permite bullying, onde se respeita o espaço alheio, é um lugar adequado.”
Já o presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Carlos Magno Silva Fonseca, não vê de forma positiva a criação de escolas voltadas para grupos de determinada identificação de sexualidade ou gênero. “A nossa luta é pela inclusão. Não é interessante criar guetos, queremos que todos possam estudar juntos.” O presidente da ABGLT entende que a medida reforça o preconceito, além de ser insuficiente na proteção dos jovens. “A escola não vai conseguir atender a todos os homossexuais. Quando um jovem for vítima de preconceito em outra instituição, vão querer que ele estude lá.”
Diretor da Escola Jovem LGBT, que ficou conhecida como a primeira escola gay do Brasil, Deco Ribeiro, também é contra a criação de colégios específicos. Diferente do que o nome possa dar a entender, a organização não é uma escola regular, onde os estudantes aprendem português, matemática, etc, e sim um centro onde os jovens praticam atividades extracurriculares, como música,dança, teatro. Quanto ao ensino tradicional, Ribeiro defende que todos os jovens frequentem o mesmo espaço, mas pondera que a segurança dos alunos precisa ser preservada. “Não acredito que retirá-los da escola ajude a diminuir o preconceito, pelo contrário. A não ser que eles estejam correndo risco de vida, que a situação seja de violência constante. Aí sim, entre a evasão escolar e estudar numa escola própria, melhor a escola.”
Escolas para mulheres
Não é a primeira vez que se fala em escolas exclusivas para determinado público. A sexóloga e educadora sexual Sandra Lima Vasques lembra que antes existiam escolas apenas para mulheres e outras apenas para homens. Experiência que a especialista vê como superada. “De que adianta separar os grupos no colégio, se eles estão juntos no mundo?”, diz. Sandra entende a ideia de proteção na proposta como uma solução provisória, mas acredita que o combate ao preconceito passa por uma série de ações, tanto na escola, como no governo e na sociedade.
Psicólogos e ativistas concordam que é preciso tornar as escolas ambientes saudáveis e receptivos para os jovens. No entanto, as soluções não são simples. A pedagoga Claudia Penalvo é especialista em Educação e Psicologia Social, além de coordenadora da área de educação e saúde da ONG Somos. Segundo Claudia, além de garantir a matrícula, é importante criar formas de permitir que o jovem permaneça na escola. Ela aponta medidas como o uso do nome social e cominação em relação ao uso de banheiros no caso dos alunos transgêneros.
A formação dos profissionais também precisa ser voltada para como acolher os alunos. O sexólogo Claudio Picazio alerta que a falta de preparação na escola coloca o jovem gay em uma situação vulnerável. “Se cobra do gay que ele seja professor da humanidade. Ele precisa orientar a família, a escola, a sociedade. Dizer como deve ser tratado, esclarecer a sua sexualidade.”
Para Picazio, a situação é pior na adolescência, quando o jovem não está apenas se descobrindo, mas no caso do gay, descobrindo que é aquilo que a sociedade vê como pior. “Quando alguém briga no trânsito, xinga um jogador no estádio de futebol, a ofensa é gay, veado. De repente o jovem descobre que é aquilo que serve de xingamento.” De acordo com o psicólogo, a escola e a família precisam ser preparar e ajudar o adolescente neste momento.
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