Se você ficasse sabendo agora que sua pele tem grandes chances de ganhar rugas precocemente ou que tem potencial para desenvolver dermatite atópica (ainda que isso nunca tenha acontecido antes), procuraria um tratamento preventivo? Pois o que parece ficção – prever como sua pele poderá estar daqui a alguns anos – virou realidade, graças aos avanços da medicina genética. Por meio de um teste, é possível analisar dez genes relacionados à pele e saber se eles possuem alterações que podem significar um maior risco de desenvolver determinadas características.
Um exemplo: alterações desfavoráveis no gene MMP1, relacionado à proteção do colágeno, podem evidenciar uma tendência a degradar a proteína de forma mais acentuada e acelerada em comparação a quem não apresenta a alteração. Ou seja, rugas e marcas de expressão se formam mais rápido e mais cedo. Também existem genes que comandam a capacidade de combater os radicais livres, os que cuidam da desintoxicação da pele pela eliminação de poluentes e os que respondem pelo mecanismo inflamatório do corpo --todos eles são analisados nesse teste, conhecido como mapeamento genético.
Como é feito?
O procedimento é simples. Um dermatologista retira uma amostra de células da mucosa bucal do paciente esfregando a parte interna da bochecha com o algodão colocado na ponta de uma haste. A amostra, imersa em um líquido conservante, é enviada a um laboratório, que fará a análise. O resultado sai entre três e quatro semanas. Com o teste em mãos, o dermatologista pode indicar um tratamento altamente personalizado para aquele determinado paciente. "Dependendo do resultado do exame, podemos sugerir lasers para estímulo de colágeno, suporte nutricional direcionado, realização de um programa com produtos para proteção cutânea, utilização de antioxidantes potentes e renovadores celulares, além da hidratação profunda e superficial da pele", enumera o dermatologista João Carlos Pereira, de São José do Rio Preto.
O mapeamento genético também é útil em casos de tratamentos que não dão resultado. Muitas vezes, a resposta dessa ineficiência pode estar no DNA, e é por isso que o que funciona para uns pode não funcionar para outros. "Muitos médicos, por exemplo, prescrevem coenzima Q10. Existe um gene, chamado NQ01, que converte a coenzima em ubiquinol (forma ativa da coenzima, que atua no nosso organismo). Se houver uma alteração nesse gene, essa transformação não ocorre. A coenzima Q10 acumula no organismo, podendo provocar dor abdominal, náuseas e vômitos. Dessa forma, é preferível dar o ubiquinol em forma de cápsulas ou para aplicação tópica", explica o dermatologista Jardis Volpe, de São Paulo. Por fim, a terceira vantagem do teste é dar ao paciente a chance da prevenção. "Podemos iniciar o uso de ativos tópicos e orais precocemente a fim de evitar danos celulares no futuro", diz Volpe.
Quem pode fazer?
O teste pode ser feito por qualquer pessoa, não há contraindicações. E, como o DNA não muda ao longo da vida, é realizado apenas uma vez --o que é muito bom, porque o procedimento pode ser bem salgado: a analise de todos os dez genes custa, em média, R$ 2.500*. "No entanto, para uma pele mais madura, que já apresenta flacidez ou rugas, o mapeamento não faz tanto sentido, pois serão necessários tratamentos estéticos independentemente do resultado", pondera a dermatologista Denise Lage, de São Paulo.
Dá para fazer em casa?
Em alguns países, como Estados Unidos e Austrália, o teste é vendido em kits, o que possibilita a coleta das células em casa. Os kits custam menos de US$ 100 e o resultado é enviado pelo laboratório diretamente ao cliente. No Brasil, o teste pode ser feito somente a pedido médico. "Em breve, será muito fácil sequenciar o DNA por valores cada vez mais baixos. A interpretação dos dados, porém, não é tão simples. É preciso alguém especializado, capaz de orientar o paciente de maneira correta", explica Michelle Vilhena, patologista clínica do Centro de Genomas, laboratório de medicina molecular e genética, em São Paulo.
Melanoma e calvície
Também existem testes específicos para detectar a possibilidade de desenvolver câncer de pele e calvície. No primeiro caso, é importante salientar que o exame não dá um diagnóstico de melanoma --ele apenas avalia o risco de desenvolvê-lo. "Deve-se lembrar que fatores ambientais contribuem para o aparecimento dessa patologia, como pele clara, viver em um clima ensolarado, a exposição excessiva ao sol, uma história de queimaduras solares, presença de pintas atípicas e sardas, cabelos ruivos e incapacidade de bronzeamento", diz Michelle Vilhena.
Em relação à calvície, Michele diz que, quando a alopecia já está instalada, a chance de reversão é menor. "Por isso, aliamos esse exame a outro teste genético, o de sensibilidade à finasterida, cujo objetivo é avaliar a chance de resposta do paciente ao medicamento", explica.
*Os preços, pesquisados em fevereiro de 2015, são uma média de mercado e podem variar de acordo com o local. Os valores também não estão vinculados aos profissionais citados na reportagem. Todos os procedimentos abordados são autorizados pelos membros brasileiros de saúde.
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