Exposição com mais de 750 obras retrata momentos históricos do Brasil
Porto de Santos, obra de Benedito Calixto (1890) / Foto: Sergio Guerini/Divulgação Itaú Cultural

A exposição Modos de Ver o Brasil: Itaú Cultural 30 anos, que marca as três décadas da instituição, reúne na Oca, no Parque Ibirapuera, mais de 750 obras que remetem a momentos históricos do país – desde a primeira obra adquirida por Olavo Egydio Setubal, no fim dos anos 60, às novas aquisições para a sua coleção.

A abertura ocorre nesta quinta-feira (25), e a mostra segue até 13 de agosto, ocupando os mais de 10 mil metros quadrados da Oca. A exposição é o maior recorte do Acervo de Obras de Arte Itaú Unibanco exibido em conjunto até hoje. O acervo é considerado um dos maiores do mundo e o maior da América Latina.

Em 1969, o empresário Olavo Egydio Setubal adquiriu a obra Povoado numa Planície Arborizada, do pintor holandês Frans Post, a primeira de um conjunto que soma atualmente cerca de 15 mil peças, reunidas no acervo mantido pelo Itaú Cultural – todas adquiridas com recursos próprios.

Para reunir a história do acervo, que se mescla à da construção do Brasil, os curadores apresentam 20 núcleos a serem percorridos pelos visitantes, fazendo articulações e linhas de continuidade e ruptura entre eles. Os trabalhos ocupam os quatro andares da Oca, sem seguir uma sequência cronológica e construindo nexos e diálogos diversificados entre as obras. O objetivo é que público seja levado a descobertas estéticas, linguísticas, conceituais e políticas, dando indicações para que novos modos de ver a arte brasileira sejam construídos.

Para os curadores Paulo Herkenhoff, Thais Rivitti e Leno Veras, a mostra não é linear. “Cada visitante é convidado a organizar seu percurso como experiência de liberdade e capacidade de conhecimento. Modos de Ver dedica-se, em especial, ao público pouco familiarizado com a arte. Os textos nos andares têm o propósito apenas de sugerir caminhos de observação, indicar aspectos especiais ou possivelmente desconhecidos, levantar hipóteses e indagações. Toda vontade de conhecer a arte é relevante”, afirma a curadoria.

Obras

Entre as obras que podem ser vistas na exposição, as mais antigas são os dois mapas Jodocus Hondius: AmericaSeptentrionalis, de 1613, e Henricus Hondius: Accuratissima Brasiliae Tabula, de 1630, além dos livros raros Sebastiano Beretario: Iosephi Anchietatae Societatis Iesu Sacerdotis In Brasilia Defuncti Vita, de 1617, Nicolaus Orlandini: Historiae Societatis Iesv, de 1620, e George de Spilbergen: Miroir Oost & West-Indical Auquel sont defcriptes les deux dernieres Navigations, de 1621.

Há também trabalhos do pintor brasileiro Candido Portinari, considerado um dos mais importantes artistas nacionais do século 20, Emiliano Di Cavalcanti, a escultora Maria Martins, o artista Hélio Oiticica, o escultor ítalo-brasileiro Victor Brecheret e a artista Lygia Clark. Entre os modernistas estrangeiros está o pintor francês Fernand Leger.

A mostra traz ainda a reconstrução da escultura vertical sem título, com 5,35 metros de altura, de Ascânio MMM, que foi encomendada nos anos de 1970, quando Olavo Setubal era prefeito de São Paulo. Em 1989, a obra foi retirada para restauração pela prefeitura da época, mas foi dada como irrecuperável e não voltou ao local.

O público poderá conhecer obras de artistas contemporâneos, como Adriana Varejão, Beatriz Milhazes, Vik Muniz, Berna Reale, Jaime Lauriano, Ayrson Heráclito e Eder Oliveira.

Temas

São Paulo é o foco do piso térreo, com fotos e obras da cidade, desde a sua fundação, até trabalhos produzidos em 2017. Mesclam-se, nesse piso, temas como o início da vila, passando pela construção do interior do estado, com obras de Benedito Calixto, e telas sobre a era do café, de Cândido Portinari. Há ainda obras que retratam a urbanidade da capital paulista, como fotografias dos prédios, de Cláudia Jaguaribe, detalhes de edifícios, de Claudio Edinger, e paisagens urbanas interpretadas nos grafites de Alexandre Órion.

No primeiro andar, as obras remetem ao pós-2ª Guerra Mundial, momento em que, segundo os curadores, um conjunto de questões aglutinou os artistas brasileiros em torno das artes visuais. Estão aí obras da primeira geração de cinéticos, como Abraham Palatnik, as cores de Amélia Toledo e as gravuras de Maria Bonomi.

A exposição traz ainda, no segundo piso, a formação social do Brasil: o Barroco e Neobarroco, com foco em duas passagens traumáticas da história do país – a escravidão e a conquista das terras indígenas. As obras são de artistas como Aleijadinho e Mestre Valentim, além da contemporânea Adriana Varejão. O público terá acesso ainda a um documento de venda de escravos ao lado da quantidade de moedas de ouro que representava o seu valor como mercadoria.