Gay na novela, Regina Duarte defende homossexuais: “Não faz parte da vida?”
Regina Duarte será Esther na nova novela das seis da Globo / Foto: Paulo Sérgio/Spot

A televisão brasileira tem mostrado uma gama de personagens gays mais humanos nas últimas obras produzidas. Pouco caricatos como a Shana ou Téo Pereira de Aguinaldo Silva, mas mais humanizados como Leonardo ou Cláudio Bolgari, da mesma novela.

Vem aí, mais uma leva de gays que se tornaram lugar comum nas novelas em vários horários. Na próxima das seis, “Sete Vidas”, de Lícia Manzo, Regina Duarte vai viver uma lésbica viúva e cheia de vida.

Poucos tempo depois, entra no ar “Babilônia”, às nove da noite, com duas outras personagens homossexuais vividas por Fernanda Montenegro e Nathália Timberg. Regina conversou com a coluna e disse se tratar de uma coincidência.

“É uma coincidência. Acho que nada disso foi planejado. Imagina se o Gilberto [Braga] e a Lícia planejaram pessoas com relações homossexuais ao mesmo tempo mais ou menos no ar”, comentou a atriz.

Regina Duarte aproveitou o questionamento para abrir a discussão sobre personagens gays e a temática fazendo parte das produções de dramaturgia na TV.

“O que eu vejo é que esse é um tema que durante muito tempo foi tabu. Assim como a mulher trabalhar fora bem como outros temas como a pilula anticoncepcional. Tem um momento em que existe a necessidade de se falar de algumas coisas que não se falava antes. E o público também tem interesse em ver esses assuntos retratados na dramaturgia”, explica.

“É uma proposta de reflexão muito grande. Como é que a gente vai encarar isso, vivenciar esses temas todos?”, questiona. Logo depois, Regina defende a naturalidade como a questão da homossexualidade vem sendo abordada nas tramas das novelas brasileiras.

“Ninguém apresenta um amigo colocando a opção sexual dele na frente de outras qualidades ou atributos. É isso que me impressiona muito nesse momento na postura da imprensa em relação ao meu personagem ou ao da Fernanda e da Nathália. Meu Deus! Parece que… ó!! Não faz parte da vida? Não tá cada vez mais aberta? Não faz parte da sociedade?”, levanta a discussão.

Perguntada sobre a questão do beijo gay que foi também muito discutida pela sociedade, Regina devolveu a pergunta:”Você acredita que a novela está reeducando as pessoas? Então… é uma visão interessante. Vamos colocar na mesa essa postura. Você acha que falar disso, mostrar um beijo gay, pode acabar com a homofobia? Tá sendo colocado. Agora, não é de se espantar. Porque parece que esse espanto faz parte do preconceito”, pondera.

Regina Duarte já viveu no inicio dos anos 80 uma mulher lutando pela emancipação feminina no seriado “Malu Mulher”, de Daniel Filho, e que gerou muita polêmica por se tratar de uma personagem a frente do seu tempo. Agora ela está disposta a brigar por Esther.

“Eu até prefiro não saber sobre o futuro do personagem. A novela é como a vida, é uma obra aberta. Eu não quero saber se ela vai se apaixonar. Eu torço para que o amor prevaleça. Não quero viver uma mulher fechada para o amor. Mas se for para viver isso, tudo bem. Tem muitas mulheres fechadas para o amor na vida real”, defende.

Esther é viúva e mãe de Laila e Luis, interpretados por Maria Eduarda Carvalho e Thiago Rodrigues, gêmeos gerados por ela através de inseminação artificial muito diferentes e que tiveram uma convivência pouco harmoniosa. Laila diz abertamente que foi criada por duas mãe, faz questão de dizer que a mãe é gay. Já Luis nunca se sentiu confortável em não fazer parte de uma família dita convencional.

“Sete Vidas” estreia no próximo dia 8 de março, substituindo “Boogie Oogie” na faixa das 18h, na TV Globo e tem direção de Jayme Monjardim.