Homem perde emprego e vive em busca de tesouros nas praias
Encarregado de obras Iguatemi de Sousa, 47, que garimpa no mar alianças, anéis e outras joias para vender a ourives e colecionadores.

As belezas do mar de Pernambuco escondem tesouros inimagináveis. Entre areias e corais estão perdidos ouro, diamantes e moedas seculares.

O encarregado de obras Iguatemi de Sousa, 47, nunca imaginou que em um passeio no litoral sul do Estado pudesse encontrar a alternativa para sustentar a família com quatro filhos. Ele "garimpa" no mar alianças, anéis e outras joias para vender a ourives e até colecionadores de peças preciosas. Ele também encontra dinheiro em moeda.

Sousa vende o grama do ouro ao preço de R$ 80, metade do valor cobrado no mercado, e diz que consegue "sobreviver".

"Pago aluguel, conta de energia, que está cara, comida e sustento a esposa e quatro filhos. Vamos sobrevivendo, sem folgas, mas estou em busca de um emprego. Como esta é a alternativa no momento, vamos nos virando", disse.

Sousa veio para Pernambuco trabalhar no Porto de Suape, município de Cabo de Santo Agostinho. Porém, há dez meses, perdeu o emprego e, mesmo com qualificação profissional, encontrou problemas por causa da idade.

"Tenho 47 anos e as empresas querem gente nova, mesmo os mais velhos tendo experiência. Estou sempre em contato com empresas para voltar a trabalhar na área de mecânica."

Garimpo no mar

A labuta começa e termina de acordo com a maré. Sousa prepara o aparelho de detectar metais, bateria extra, uma sacola para lixo e outra para guardar o que irá encontrar nas praias.

Ele leva também protetor solar, camisa de proteção UV e de mergulho.

O aparelho apita apontando sinal de metal. Com 15 centímetros de escavação o objeto é encontrado, mas muitas vezes é lixo --como pedaços de lâmpada, lata de refrigerante e cerveja. Recentemente ele cortou a mão com um pedaço de vidro que estava escondido dentro do mar.

O trajeto para encontrar objetos preciosos é sempre o mesmo, percorrido por duas vezes ao dia: Porto de Galinhas, Muro Alto e Carneiros.

"Tem dia que não encontro nada, mas a maré muda e no retorno vem surpresas. Chego a ficar nove, dez horas no mar. Hoje mesmo achei três alianças e um anel de ouro", disse. O achado vai lhe render R$ 1.800 apenas com a venda do ouro. O diamante do anel foi guardado.

Em dez meses de garimpo no mar, Sousa juntou dez pedras de diamante e 25 moedas raras do século 18. Os achados estão guardados por ele não imaginar o valor que pode conseguir com a venda.

"Retiro o diamante que estiver na joia, pois quando vou vender o ouro os ourives querem de graça. Sei que tem valor, mas não sei quanto. Por enquanto vou guardando", disse.

A "mina de ouro" de Sousa é a praia de Porto de Galinhas. Por ser destino turístico de casais em lua-de-mel é mais fácil encontrar joias perdidas.

"As pessoas vão mergulhar no mar e acabam perdendo alianças. Já encontrei com data escrita de dois dias antes. Quando estou na praia e me pedem ajuda no momento em que a pessoa perdeu, se eu encontrar, eu devolvo. Se quiser, a pessoa pode me dar uma recompensa, que eu aceito, mas não cobro", afirmou.

A fama de encontrar joias perdidas já está rendendo trabalhos de procurar determinados objetos perdidos.

Ele contou que um casal estava em Recife, na praia de Boa Viagem, quando perdeu uma aliança de 22 anos de casados. O chamaram e o objeto foi rapidamente encontrado com ajuda do detector de metais. "Me deram R$ 800."

Na próxima semana, quando a maré atingir o ponto mínimo, Sousa vai à praia de Maria Farinha, em Paulista (região metropolitana do Recife), procurar junto com uma jovem a aliança de noivado que ela perdeu durante um passeio de barco com o noivo.

"Nesse caso já informei que vou cobrar porque eu tenho meus custos de transporte, uso de equipamento, além do mais perco um dia de trabalho". O valor cobrado é segredo.

Achado não é roubado

O artigo 5º, do Código Penal, trata sobre a "apropriação de coisa achada" informa que quem encontrar algo perdido e se apropriar dele deverá devolver o objeto ao dono ou à autoridade competente no prazo de 15 dias.

Porém, a obrigação ditada no artigo é que o dono tem de ser identificado para que haja essa devolução.

Caso não seja, a pessoa que encontrou algo perdido não está cometendo crime. É o que explica o advogado criminal Paulo Patrício Sobral Santos.

Segundo o advogado, o caçador de tesouros não está cometendo crime em buscar objetos perdidos, com donos de destinos ignorados e não sabidos.

"Se você encontrou alguma coisa e não conseguir encontrar o dono ou for difícil encontrá-lo, você não tem de obrigação de devolver à delegacia por que a delegacia não é dona de nada. O tipo penal tem de ser exatamente igual a conduta da pessoa: de encontrar, conseguir identificar e não entregar. Se não foi assim, não configura o crime", afirmou.