Uma das vítimas trabalhava na propriedade há mais de 20 anos e era proibida de dormir junto dos demais.

Homens são resgatados em situação análoga à escravidão em fazenda de Porto Murtinho
Trabalhadores foram resgatados. / Foto: Divulgação/MPT

Nove trabalhadores da fazenda Matão, localizada no município de Porto Murtinho, distante 431 quilômetros de Campo Grande, foram resgatados após serem encontrados em situação análoga à escravidão.

De acordo com o Ministério Público do Trabalho de MS, que atuou junto com a Defensoria Pública Federal, após denúncias, equipes foram até o local e, antes mesmo de entrarem na propriedade, encontraram uma placa dizendo que, ali, é área destinatária de recursos públicos, através do Fundo Constitucional do Centro-Oeste - FCO, no qual foram recebidos cerca de R$ 915 mil.

Já na fazenda, encontraram nove homens trabalhando sem registros na carteira e os direitos devidos, além de um idoso, com idade aproximada de 63 anos, e nacionalidade paraguaia, exercendo a profissão há mais de 20 anos na propriedade.

O homem era obrigado a dormir em um espaço com animais e pesticidas, e proibido de se juntar aos demais. Por conta da idade, atuava no trato dos animais.

Além disso, os funcionários precisavam custear a própria comida e, caso consumisse carne da fazenda, tinham um valor descontado do pequeno salário que recebiam.

O dono da propriedade foi autuado, mas não foi localizado, pois está em viagem ao Canadá. Ele foi representado por advogados, que não tinham poderem para resolverem a situação.

O acordo proposto pela equipe do MPT foi recusado e, dentre as indenizações, um valor estipulado em mais de R$ 1 milhão será pedido à Justiça.

A propriedade possui uma área de mais de quatro mil hectares, e mais de três mil cabeças de gado.

Ainda conforme o órgão público, entre o dia 01 de janeiro até o dia 21 de julho, 72 trabalhadores foram resgatados em fazendas de Mato Grosso do Sul, em oito ações ficais.

Para efeito de comparação, em todo ano passado, 81 pessoas foram resgatadas. Ou seja, o número pode ultrapassar ainda nos próximos meses.

"A realidade do trabalho escravo contemporâneo, ainda arraigada no Brasil, e mais presente em determinadas regiões, reforça a necessidade da atuação multidisciplinar e pluri-institucional do Estado, como ocorrido nesta exitosa operação de combate a uma prática nefasta de exploração do labor de vulneráveis, e tão nociva aos valores do trabalho e à dignidade da pessoa humana”, avalia o defensor público Rodrigo Rezende.