Idoso morre ao cair de maca em hospital
Francisco Alves Fernandes, que morreu depois de cair de uma maca no Hospital Pedro II. / Foto: Arquivo pessoal / Reprodução

“Por que o hospital mudou a data?”. Em busca de uma resposta, a aposentada Maria Fernandes, de 62 anos, tenta entender o real motivo da morte do único irmão, Francisco Alves Fernandes, de 64, no Hospital Pedro II, em Santa Cruz. Ele morreu no último dia 20, três dias depois de, segundo ela, cair da maca onde estava e bater com a cabeça no chão. Para Maria, a direção da unidade tentou fugir da responsabilidade alterando a data de entrada do paciente no hospital. O caso está sendo investigado pela 36ª DP (Santa Cruz) e a Secretaria municipal de Saúde abriu uma “comissão externa de sindicância” para apurar o caso.

Segundo Maria, o irmão chegou à emergência do Pedro II no dia 17, às 7h07m, após sofrer um AVC no abrigo onde vivia, em Sepetiba. À tarde, uma cuidadora foi ao hospital e encontrou o idoso amarrado na maca e com a cabeça enfaixada. Depois da morte de Francisco, a família ficou surpresa com o documento indicando que ele começou a ser atendido no dia 18, às 14h15m.

— Ele chegou dia 17 e ficou lá encostado como um cachorro. Os funcionários disseram que ele ficou agitado e caiu. O laudo do IML mostrou que ele não morreu do AVC, e sim da pancada — desabafa Maria.

A assessoria de imprensa do Hospital Pedro II afirmou que Francisco apresentou problemas neurológicos e agitação ao chegar na unidade. E acrescentou que, dia 18, refere-se à internação, e não à entrada. Ou seja, foram necessárias 30 horas para fazer tomografia e constatar fratura de crânio. Sobre a possível queda da maca, a direção da unidade disse que “já abriu sindicância, e, sendo apontada irregularidade, medidas cabíveis serão adotadas”.

A aposentada Maria Fernandes denuncia o Hospital Pedro II por descuido com o seu irmão, Francisco Alves Fernandes, morto ao cair de uma maca A aposentada Maria Fernandes denuncia o Hospital Pedro II por descuido com o seu irmão, Francisco Alves Fernandes, morto ao cair de uma maca Foto: Gustavo Cunha

‘Meu irmão foi tratado pior do que cachorro’, afirma irmã do idoso

Como a senhora tem certeza de que ele não bateu a cabeça no abrigo?

Ele passou mal lá, foi socorrido pelo Samu, mas só apareceu com a cabeça enfaixada na parte da tarde. A cuidadora que o acompanhou até o hospital disse que ele não tinha ferimento na cabeça. Além disso, os próprios funcionários do Pedro II relataram que ele, por ter se agitado, caiu da maca e se machucou. Até amarram ele! Como uma pessoa chega com AVC e ainda fica largada numa maca? Ele ficou mais de um dia jogado. É um desrespeito muito grande com o pobre. Meu irmão foi tratado pior do que cachorro.

Por que ele estava no abrigo?

Ele não tem filhos, era hipertenso, não trabalhava e ainda não era aposentado. Estava lá há três anos, porque eu ganho apenas R$ 909, e ainda tenho que cuidar de uma filha doente e um neto. Não tinha como mantê-lo.

A senhora vai processar o Município?

Vou, mas, antes, eu tenho que resolver o enterro do meu irmão. Não tenho dinheiro nem para isso. Vou à Defensoria Pública (hoje) para pedir a gratuidade no sepultamento.

Parentes de pacientes reclamam de falta de água no hospital

No sábado, a equipe do EXTRA esteve no Hospital Pedro II, mas ninguém da direção da instituição quis comentar a morte de Francisco. Durante o período em que a reportagem ficou na unidade, choveram reclamações sobre o atendimento, a insuficiência de macas e de cadeiras de rodas. E mais: todos reclamaram da falta de água potável para pacientes e funcionários.

Nos corredores, os bebedouros estão lacrados com sacos plásticos. Segundo enfermeiros, o problema já dura cerca de um mês.

— Gastei R$ 2 agora, mas, daqui a pouco, vou ter que comprar outra água. É uma bagunça e a gente ainda tem que ficar gastando dinheiro! — protestou a dona de casa Luciene Carvalho, que comprava água para o marido, internado com problema no pâncreas. — Para piorar, tive que entrar no banheiro masculino com meu marido, porque não tinha um funcionário livre para ajudá-lo — completou.

O mecânico Valdeli Gregório Santana, de 42, estava chocado:

— Não tem água aí dentro. Minha esposa está com um inchaço nos pés, sem conseguir nem andar direito. Os bebedouros no hospital estão todos lacrados e ninguém nos deu uma explicação. É um desrespeito total.

Sandro Borges também estava revoltado:

— É um descaso! Além de termos que esperar embaixo de chuva e de sol, já que não nos deixam ficar na recepção, não tem água. Socorri um amigo e não deu nem tempo de pegar a carteira. Ou seja, eu não tenho nem dinheiro para comprar água.

Em nota, a assessoria de imprensa do Hospital Pedro II negou que haja falta de equipamentos e água potável para os pacientes. “É uma inverdade, já que a unidade está sempre atenta à segurança do paciente e trabalha pela qualidade da assistência à população”.