Dados da Serasa apontam que o número de inadimplentes no Estado saiu de 1,039 milhão, em dezembro de 2023, para 1,129 milhão, no ano passado.

Mato Grosso do Sul terminou o ano passado com aumento de 8,6% no total de inadimplentes. De acordo com os dados do Mapa da Inadimplência e Negociação de Dívidas da Serasa, enviados com exclusividade ao Correio do Estado, o número de inadimplentes saiu de 1,039 milhão, em dezembro de 2023, para 1,129 milhão, no último mês de 2024. Foram 90,2 mil pessoas a mais com o nome sujo no período de um ano.
O número total de pessoas inadimplentes no Estado corresponde a metade da população economicamente ativa, que é de 2,147 milhões, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No comparativo bianual, a alta é ainda maior, chega a 14%. Em 2022, 991 mil pessoas estavam na lista do nome sujo.
Para os analistas ouvidos pelo Correio do Estado, o período pós-pandemia de Covid-19 agravou a situação de endividamento e inadimplência da população. O mestre em Economia Eugênio Pavão explica que muitas dessas dívidas se arrastam há alguns anos.
“A pandemia trouxe muita dívida para a população, algumas não conseguem quitar essas contas, necessitando de recursos extras para isso, entrando em novas dívidas para pagar as antigas”, avalia.
Segundo o economista Eduardo Matos, o sistema financeiro brasileiro é bastante democrático, o que não é necessariamente ruim, mas pode ser prejudicial, em função da falta de educação financeira.
“Um acesso mais facilitado a instrumentos de crédito de alto risco, como os cartões de crédito e limite do cheque especial, que se tornam armas na mão do cidadão brasileiro. Porque, a partir do momento em que ele tem à sua disposição esse tipo de crédito, ele usará e, em muitos casos, usará até mesmo sem pensar ou vai interpretá-lo como uma extensão de sua renda, o que não é verdade”, considera Matos.
Ainda conforme os dados da Serasa, o valor médio das dívidas de cada inadimplente no Estado é de R$ 6.030, já o montante total passou para R$ 6,813 bilhões, a partir de 4,688 milhões de contas não pagas.
O relatório ainda detalha que a maioria (52,3%) dos inadimplentes em Mato Grosso do Sul são do sexo masculino, contra 47,7% do sexo feminino.
Nas faixas etárias, as pessoas com idade entre 41 anos e 60 anos são a maioria dos que têm contas em atraso (35%), seguidas da população com idade entre 26 anos e 40 anos (34,7%). Na sequência estão as pessoas acima de 60 anos (18,4%), e os que têm até 25 anos são os menos inadimplentes (11,8%).
RENDIMENTO
Outro ponto mencionado pelos economistas é a baixa renda da população. Pavão aponta que entre os que ganham um salário mínimo o inadimplemento é ainda maior.
“Os salários não dão conta dos pagamentos das necessidades básicas, mesmo com o aperto monetário, o salário mínimo não contempla as necessidades básicas”, conclui.
Matos ainda destaca que a inflação dos alimentos, que em Campo Grande foi a maior do País em 2024, chegando a 11,3%, ante os 8,23% registrados na média nacional.
“Podemos, de certa forma, colocar essa culpa, por assim dizer, na inflação, em especial a de alimentos. Logicamente, as pessoas não vão deixar de se alimentar, não vão deixar de consumir alimentos, porque faz parte de algo essencial à vida humana. Então, a partir do momento em que há um aumento do preço dos alimentos, o brasileiro que já tem uma renda limitada passa a ter que decidir qual item vai consumir ou qual conta vai priorizar”, analisa o economista.
DICAS
A inadimplência ocorre quando uma pessoa ou empresa deixa de cumprir uma obrigação financeira dentro do prazo estipulado para pagamento. De acordo com a Serasa, esse atraso pode gerar diversas consequências negativas, tanto para o devedor quanto para a economia em geral.
Os economistas consultados pelo Correio do Estado apontam ser importante tanto tentar não entrar na lista de negativados quanto sair dela. Matos ressalta que o primeiro passo é o planejamento.
“É preciso se conhecer antes de qualquer tipo de atitude que deve ser tomada. E, no caso da educação financeira, é necessário ter o autoconhecimento de todas as receitas e todos os seus gastos para montar um orçamento. Dessa forma, fica mais fácil para a próxima etapa, sendo [ela] o corte de gastos”.
“Aqueles que estão inadimplentes, infelizmente, não têm outra forma a não ser cortar gastos. Seja substituindo itens que são de uso corriqueiro por itens mais baratos, seja cortando realmente, sem qualquer tipo de substituto”, indica.
O economista ainda pontua que só é indicado tomar um empréstimo caso os juros da linha de crédito sejam menores que os pagos para o credor original.
“No entanto, isso é um equilíbrio. Uma taxa de juros menor geralmente implica em um prazo menor também. Então, é preciso ter essa noção do seu fluxo de entradas e saídas e adotar uma parcela que cabe no seu bolso, com uma taxa de juros atrativa. Todos esses itens devem ser pensados e devem ser pesados na hora de tomar uma decisão”, finaliza Matos.
Olá, deixe seu comentário!Logar-se!