"Quem manda na Petrobras é o presidente da República", afirmou o ex-senador Delcídio do Amaral no programa Roda Viva de segunda-feira, ao confirmar que Lula e Dilma Rousseff tinham total conhecimento do esquema corrupto armado pelo governo lulopetista que desviou bilhões de reais da estatal na última década. Delcídio sabe do que está falando. Nascido em 1955 na cidade de Corumbá, Mato Grosso do Sul, ele foi ministro de Minas e Energia durante o governo Itamar Franco e diretor da Petrobras no governo Fernando Henrique Cardoso.
"Nós costumávamos brincar que o presidente da Petrobras fingia que mandava e nós fingíamos que obedecíamos, mas quem manda ali é o presidente da República", garantiu. Filiado ao PT, elegeu-se senador em 2002 e, três anos depois, tornou-se nacionalmente conhecido ao presidir a CPI dos Correios, que investigou o escândalo do mensalão. "Descontando a dimensão dos escândalos, a diferença entre o mensalão e o petrolão é que, em 2005, o país continuou a andar. Agora, foi totalmente contaminado pela crise política e econômica". Reeleito senador em 2010, sempre manteve boas relações com políticos de todos os partidos, trunfo que o transformou em líder do governo no Senado no segundo mandato de Dilma Rousseff. Ele ocupava o posto no fim de 2015, quando foi acusado de obstruir as investigações da Operação Lava Jato e se tornou o primeiro senador preso no exercício do mandato.
"Pedi desculpas publicamente ao povo brasileiro pelo que fiz", disse no programa. "Não avaliei bem a situação e acabei cometendo um deslize. Mas devo lembrar que nunca tive nenhum processo até hoje. Sempre fui ficha limpa. Não fui denunciado por roubo, mas por obstrução de Justiça".
Em liberdade depois de assinar um acordo de colaboração com a Justiça, teve o mandato cassado por unanimidade na semana passada. "Já pegaram dirigentes de estatais, os donos de empresas e os diretores. Onde estão os políticos?", perguntou, antes de informar que muitas revelações virão à tona nos próximos dias. "Não foi o PT que inventou a corrupção na Petrobras", observou. "Mas foi no governo petista que começou a haver uma corrupção sistêmica e partidária. Um nível de operação muito mais amplo, com o conhecimento das lideranças que compunham a base do governo federal".
Para Delcídio, o impeachment é consequência da soma das pedaladas fiscais com as descobertas da operação Lava Jato e a inexistência de coordenação política. "Os auxiliares da Dilma tinham uma visão completamente desfocada da realidade", comentou. "Enquanto eu e outros políticos diziam que ela tinha que se preocupar, o Aloizio Mercadante, por exemplo, garantia que as investigações poderiam até chegar no Lula, mas que ela sairia forte do processo".
Depois de lembrar que Renan Calheiros responde a 12 processos e chamar o presidente do Senado de "cangaceiro", Delcídio disse o que espera de alguns dos personagens principais da novela política brasileira. "Lula sairá muito desgastado e acredito que sua candidatura em 2018 não seja competitiva", afirmou. "O cerco está se fechando e provavelmente chegará até ele". Delcídio acredita que Dilma Rousseff não voltará a assumir à Presidência e que Michel Temer enfrentará "um desafio enorme".
"Alguns ministros são bem fraquinhos", sublinhou. "Temos que torcer para dar certo, mas os primeiros passos preocupam muito".
A bancada de entrevistadores reuniu os jornalistas André Guilherme Vieira (Valor), Eliane Cantanhêde (Estadão), Flávio Freire (O Globo), Natuza Nery (Folha) e Vera Magalhães (VEJA). Com ilustrações em tempo real do cartunista Paulo Caruso, o programa foi transmitido ao vivo pela TV Cultura.
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