Luta contra mudanças climáticas está nas mãos das grandes cidades
Camada de poluição sobre a cidade de Los Angeles, nos Estados Unidos. Crescimento econômico impulsionou emissões de gases causadores do efeito estufa. / Foto: Gabriel Bouys/AFP

As grandes cidades deverão reduzir rapidamente à metade suas emissões de gases de efeito estufa ou se expor a "pagar o preço da inação" deixando que o limite de 2ºC seja ultrapassado, advertiram especialistas nesta quinta-feira (1º).

A coalizão C40 de cidades comprometidas sobre o clima, que agrega Rio, Caracas, Nova York, Paris, Dacar, Johannesburgo, Adis Abeba, Seul, Pequim, Xangai, Atenas, Istambul e Londres, em um total de 90 cidades, reúne seus prefeitos nesta semana na Cidade do México.

Enquanto os gases de efeito estufa saturam cada vez mais a atmosfera, "a janela de oportunidade está se fechando", afirma um relatório do C40, que adverte: "As cidades pagarão o preço da inação".

"Se nossos usos e infraestruturas seguirem se desenvolvendo segundo a modalidade atual, em 5 anos o mundo terá emitido a quantidade suficiente de gases para superar os 2ºC". Precisamente, um terço das emissões são resultado de atividade urbana (infraestruturas, urbanismo, transporte, etc), acrescenta o estudo, intitulado "Deadline 2020".

Para que seja respeitado em escala mundial o limite de 2ºC que os países acordaram no fim de 2015 em Paris, as grandes cidades deverão reduzir suas emissões, de 5 toneladas de equivalente CO2 por habitante e por ano a 3 em 2030 e 0,9 em 2050.

O relatório publicado por ocasião da reunião do México propõe trajetórias de ação um pouco diferentes de acordo com a situação das cidades.

As mais poluídas e as mais ricas deverão agir imediatamente e drasticamente (Nova York, Melbourne...). As mais pobres (El Cabo, Durban, Quito...) terão um pouco mais de tempo.

As propostas serão submetidas aos membros do C40 no México.

"Temos que compartilhar nossas experiências", disse em uma coletiva de imprensa telefônica o ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg, presidente do conselho de administração do C40.

"As soluções estão nas cidades", insistiu Bloomberg. "Desde a eleição presidencial norte-americana foram manifestadas muitas inquietações (sobre o futuro da luta contra as mudanças climáticas). O futuro governo (de Donald Trump) ainda não revelou sua política, mas os prefeitos nunca esperaram que Washington atue e seguirão dando o exemplo".

As medidas precisarão, no entanto, de 375 bilhões de dólares nos próximos quatro anos, levando em conta apenas as cidades do C40 que representam 7% de emissões urbanas.

Anne Hidalgo, prefeita de Paris e nova presidente do C40, convocou os doadores a "apoiar as políticas climáticas em nível municipal".

Entre as reivindicações da coalizão figuram o acesso das cidades aos financiamentos climáticos internacionais (do Fundo Verde, por exemplo).

"Em nossa qualidade de prefeitos, sabemos que as mudanças climáticas não são um reality show, mas uma realidade", disse Hidalgo.

Segundo uma investigação do C40 realizada em 2015, 98% das megalópoles sofrem ou vão sofrer com os efeitos de saúde ou econômicos adversos das mudanças climáticas.