Mãe fala da angústia de ver a filha de 24 dias sem respirador após falta de energia
Viviane, mãe da menina Maria Luiza que precisou que ar fosse bombeado manualmente. / Foto: Letícia Macedo/G1

A mãe da bebê de 24 dias que precisou de ventilação manual durante queda de energia na UTI do Hospital Municipal Amador Aguiar, em Osasco, na Grande São Paulo, elogiou a atuação da equipe médica. “A equipe de plantão foi maravilhosa”, disse a auxiliar Viviane Aparecida Evangelista da Silva na manhã desta terça-feira (6).
Assim que ligaram o equipamento, ela estava estável, dando até uma risadinha. Ela me olhava com aquele ar de quem diz eu vou viver mamãe. Fico muito feliz de saber que ela conseguiu passar por essa noite"

A menina Maria Luiza nasceu com apenas 25 semanas e seu pulmão ainda está em formação. Ela respira por aparelhos em uma incubadora. Maria Luiza era a menor criança na área de cuidados intensivos quando faltou luz no hospital e, na sequência, o gerador que atendia a unidade também deixou de funcionar, segundo a Prefeitura de Osasco.

Sem energia, o aparelho funcionou por alguns minutos. Quatro médicas passaram a se revezar bombeando oxigênio manualmente. O fornecimento de energia só foi normalizado às 2h15.

Foram momentos de muita angústia, que a mãe relatou com os olhos marejados nesta manhã, quando a filha já usava novamente o sistema de ventilação por aparelhos.

“Assim que ligaram o equipamento, ela estava estável, dando até uma risadinha. Ela me olhava com aquele ar de quem diz ‘eu vou viver mamãe’. Fico muito feliz de saber que ela conseguiu passar por essa noite ”, contou Viviane.

Os impactos do corte da energia ainda não podem ser totalmente avaliados, segundo a mãe.
“Ela ainda é muito pequena, pelo que se consegue ver ela está bem, mas só vamos saber mesmo quando ela passar por exames, o que vai acontecer quando estiver com 30 semanas”, disse.

Pedido por reforma


Viviane reclamou para a Ouvidoria do hospital e pretende comunicar o Ministério Público. “Eu não quero indenização. Eu quero que esse hospital passe por uma reforma, porque não tem só a minha filha”, disse.

Uma funcionária que não quis se identificar disse que a frequência cardíaca da menina Maria Luiza caiu e que ela correu o risco de morrer.

Além da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal, o centro cirúrgico também foi afetado. Um celular foi usado por um médico para conseguir terminar uma cirurgia. "Todo mundo exposto a uma catástrofe mais grave", afirmou a funcionária.

O secretário adjunto da Saúde de Osasco, Maurício Rosa, afirmou que as quedas de energia têm sido frequentes na região e se queixou da demora da Eletropaulo para solucionar o problema que atingiu o hospital, que faz 400 partos por mês.

“Tinha que ter priorizado o atendimento”, disse. Segundo ele, o gerador funciona, mas teve um problema técnico e precisou ter uma peça trocada. “Tenho certeza absoluta de que o gerador está funcionando, mas, infelizmente, teve um problema técnico que não pode ser corrigido rapidamente”, declarou.

Sobre as denúncias de vazamentos na UTI, o secretário adjunto disse que hospital passou pela primeira etapa de uma reforma, que deve ser retomada nos próximos meses. A nova etapa da reforma deve priorizar a parte hidráulica e o teto do edifício e deve ser concluída até março. “Temos tudo isso licitado. Vamos deixar a maternidade em condições ideais de funcionamento”, garantiu.

Para o secretário adjunto, o que aconteceu não tem nada a ver com a reforma, mas com o fato da Eletropaulo nos ter demorado a restabelecer o fornecimento de energia.

Prefeitura de Osasco


De acordo com a Secretaria de Saúde de Osasco, 27 bebês estavam na UTI e na semi-intensiva, sendo que dois precisaram da ventilação manual para continuar vivos.

Segundo a Prefeitura de Osasco, a direção do hospital acionou a AES Eletropaulo em diferentes momentos. "Foram realizados 12 contatos com a empresa. Mas até 01h38 a concessionária não tinha resolvido o problema com o fornecimento de energia", informou a prefeitura.

Ainda segundo o governo municipal de Osasco, técnicos que prestam serviço de manutenção para a Prefeitura compareceram ao local para realizar o conserto do gerador. Eles constaram que a falha não foi causada por falta de combustível. O problema será investigado.

Segundo caso


Natália Stephanie Correia Vieira, de 20 anos, ficou com o filho nos braços para conseguir controlar a respiração de Adrian Pietro, de 2 meses. Ela ainda estava no hospital quando a luz acabou. “Ele não está mais entubado, mas estava recebendo oxigênio e também precisava de o aparelho que controla o nível de oxigênio. Sem eles, eu fiquei controlando a respiração no colo, com a ajuda da enfermeira. Graças a deus o plantão de ontem era ótimo”, disse. O bebê ficou bastante cansado, mas passa bem. 

Vazamento


As mães contam que durante a chuva que atingiu Osasco a água chegou a entrar na UTI. “A água desce pela parede e os funcionários colocam o lixo para conter a goteira”, contou Viviane.

“Quando eu cheguei tinha água na canela”, afirmou a dona de casa Jucilene Nunes de Almeida, de 28 anos, mãe de Carlos Alexandre, de um mês e poucos dias. Embora nenhuma mãe tenha relatado à reportagem problemas em decorrência da falta de energia elétrica, as mães dizem estar angustiadas de deixar as crianças nessas condições. “É uma pouca vergonha. Cadê o prefeito? Meu filho não tem nem condições de sair daqui, mas meu coração fica apertado”, disse.