O crime chocante agora exige da família uma força sobrenatural para enfrentar 2019
A voz é carregada de lembranças, algumas que Maria de Lourdes Barbosa Rodrigues, de 44 anos, prefere esquecer. Mas a história de determinação da filha sorridente e disposta a lutar contra desigualdade é narrada com orgulho pela mãe. Maiana Barbosa era sonhadora e hoje, um mês e três dias após sua morte, ela só vive na memória de Maria que encerra 2018 com o desafio de se reconstruir
A estudante e a filha, de apenas um mês de vida, foram brutalmente assassinadas no dia 25 de novembro, em uma casa no Jardim São Pedro, em Dourados, a 233 quilômetros de Campo Grande. A última vez que foi vista pela mãe foi dois dias antes do crime, com direito a um beijo e o sorriso de Maiana chamando Maria de "veia". "Era assim que ela me chamava, se ela não me visse, me ligava do trabalhando perguntando se estava tudo bem e mandava um beijo por telefone", conta.
Dentro de casa, para a mãe e a irmã, Maiana tornou-se símbolo de resistência à violência contra a mulher, após ter sido assassinada pelo namorado que confessou o crime e foi encontrado morto há uma semana. Mas a dor forte por ter perdido a filha ainda impede Maria de seguir em paz e esquecer a notícia que chegou pelo rádio. "Ninguém me contou, eu escutei no rádio que uma menina jovem e um bebê haviam sido encontrados mortos. Na hora eu pensei na Maiana, senti que era ela".
Aluna do primeiro ano do curso de História da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), Maiana praticava capoeira e tinha atuação em projetos de defesa das minorias e contra o racismo. Sempre determinada, lutava contra o preconceito que enfrentou desde a infância. "Toda nossa família é negra e Maiana não tolerava o racismo, lutava contra, tinha discurso", lembra a mãe.
Os planos que o assassinato levou eram falados quase todos os dias por Maiana. "Ela dizia que queria trabalhar para arrumar minha casa, que é muito simples. A gente tinha um plano de rebocar", lembra.
Ainda hoje, passado e presente confundem a cabeça da mãe que espera pela chegada da filha. "Olha, é muito difícil. Todos os dias, às 17 horas, eu penso que ela está chegando, era o horário que ela chegava do trabalho. De repente eu lembro que ela não vem e a dor aumenta".
O bate-papo, três dias antes do crime, não sai da cabeça. "Ela queria comer doce, comprou sorvete e trouxe para gente tomar. No outro dia comprou picolé na rua, conversamos, rimos como sempre e depois ela foi embora. Foi a última vez que vi minha filha".
Com problemas de saúde, Maria conta que tem sobrevivido à base de medicamentos. "Estou com uma inflamação no fígado e depois que Maiana se foi, a depressão veio com tudo, ninguém pensa que vai perder uma filha".
Pela dor de perder a filha por um crime tão brutal, Maria tem buscado usar Maiana como exemplo para alertar outras mulheres e conseguir forças para seguir adiante. "A gente só quer retomar a nossa vida, mas sem que outras mulheres morram dessa forma, é muito triste".
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